Jornal Correio Braziliense

DESCASO

Ultrassom de R$ 200 mil está parado há mais de 1 ano por falta de médico

Quatro processos seletivos foram feitos pela prefeitura de Passos sem que houvessem médicos interessados; 4 mil pessoas estão na fila por um exame de ultrassom

Um aparelho de ultrassonografia que nunca foi usado está parado há um ano e 1uatro meses em uma das salas do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerest) de Passos, Sudoeste de Minas, por falta de médico.

Em 4 de novembro do ano passado, a Comissão de Saúde e Ação Social da Câmara Municipal fez uma fiscalização no local e constatou o fato. Nessa terça-feira (28/2), a comissão voltou a fiscalizar o local e o aparelho continua no mesmo lugar, sem uso.

O aparelho está avaliado em R$ 200 mil e foi doado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) de Varginha para uso dos trabalhadores. “A Prefeitura já abriu quatro processos seletivos, mas não apareceu nenhum médico interessado”, informou o coordenador do Cerest, Rodrigo Sebastião.

Pelos cálculos do Cerest, 4 mil pessoas aguardam-na fila para fazer exame de ultrassom. Hoje, esta fila pode estar maior ainda.

Kátia Pini, de 49 anos, moradora do bairro Jardim Pinheiro, secretária que está desempregada, precisa fazer um ultrassom porque sente muitas dores no ovário e inchaço na barriga.

Ela é atendida no PSF (Programa de Saúde da Família) do Planalto e seu número na fila é 1.170. “Ligo toda semana no PSF e eles dizem que tem que esperar porque nada podem fazer. Meu ultrassom particular custa de R$ 170 a R$ 200, mas para quem está desempregado é muito. Isso é obrigação da prefeitura, porque pagamos impostos, temos o direito do retorno”, desabafou.

O secretário municipal de Saúde, Thiago Agnelllo Salum, disse que aguarda uma audiência com o juiz do Trabalho de Passos “para verificar uma possibilidade de consignação ou doação ou que possa ser tomado algum caminho para que a sociedade possa usar, uma vez que não tem o profissional. Estamos aguardando a data da audiência com a Justiça do Trabalho para ver qual caminho tomar”.

O Cerest atende a trabalhadores de Passos e de outros 17 municípios da região, no Jardim Belo Horizonte. O local precisa de pintura e reforma. Do lado fica um terreno cheio de sacos plásticos com lixo nem a placa indicativa do local tem mais.

Em novembro do ano passado, a preocupação da Comissão de Saúde era de que o aparelho pudesse perder a garantia por falta de uso. Isso não aconteceu. O aparelho funciona perfeitamente e está apto a ser usado a qualquer momento. A Coordenação de Saúde do Trabalhador fez uma avaliação no Cerest, e deu um prazo para o município resolver os problemas de estrutura e o problema do ultrassom até 1º de novembro de 2022. Até hoje nada foi resolvido.

À época, a Comissão de Saúde fez um documento endereçado à Secretaria Municipal de Saúde pedindo providências. A secretaria informou que analisaria todas as informações e que, especificamente sobre o ultrassom e os reparos no prédio, tudo seria devidamente analisado.

“Já foram feitas diversas tentativas de contratação de profissional. Há mais de um ano que a administração municipal vem abrindo processos para contratar um profissional. Foram abertos quatro processos seletivos que não tiveram interessados. Está aberto credenciamento para contratar médico ultrassonografista, há mais de ano e não conseguimos. Fomos atrás de praticamente todos os médicos de Passos e região e não conseguimos ninguém interessado", afirmou o secretário de Saúde.

"Com relação ao aparelho ele está em perfeitas condições, foi testado no início do ano. A Secretaria de Saúde está fazendo o comunicado ao juiz do Trabalho em Passos para verificar uma possibilidade de consignação ou doação ou que possa ser tomado algum caminho para que a sociedade possa usar, uma vez que não tem o profissional. Estamos aguardando a data da audiência com a Justiça do Trabalho para ver qual caminho tomar”, assegurou Salum.

Caso chegou no Ministério Público

Nesta quarta-feira (1/3), o presidente da Comissão de Saúde, vereador Francisco Sena (Podemos), acionou o Ministério Público Estadual pedindo providências.

"É um descaso com o dinheiro público este aparelho de ultrassom parado há quase um ano e meio, sendo que tem uma grande quantidade de pessoas na fila aguardando para fazer os exames. No ano passado, fiscalizamos e até hoje o município não encontrou uma solução. Por esse motivo estamos fazendo a denúncia no Ministério Público para nos ajudar", disse o vereador que na vistoria de ontem foi acompanhado dos parlamentares Luis Carlos do Souto Júnior/Dentinho (MDB) e Plínio Costa de Andrade (PP) e Edmison Amparado (MDB). 

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