A Fiocruz e o World Mosquito Program (WMP) anunciaram nesta quinta-feira (30/3), em Brasília, uma nova parceria que expandirá o acesso no Brasil aos mosquitos com Wolbachia — um método que reduz a incidência de dengue, chikungunya e zika. A tecnologia consiste em introduzir uma bactéria nos mosquitos (chamada Wolbachia) que os impede de transmitir a dengue e outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti.
A tecnologia Wolbachia já foi introduzida em 12 países do mundo e foi descoberta por cientistas da Monash University em Melbourne, na Austrália, e pelo Coordenador do Programa no Brasil Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz. Segundo os pesquisadores, o método já teve eficácia comprovada na redução das arboviroses. A bactéria Wolbachia está presente de forma natural em cerca de 50% de todas as diferentes espécies de insetos.
Segundo a Fiocruz, o Brasil apresenta ciclos endêmicos da dengue com epidemias explosivas que ocorrem de 4 a 5 anos. Os casos de dengue no país cresceram 43,8% até março deste ano, quando comparado ao ano passado. Já as notificações da chikungunya aumentaram 97%.
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA - Ministério da Saúde), Ethel Maciel, afirmou que o Ministério da Saúde está comprometido em implementar a tecnologia no menor tempo possível e alcançar os municípios que mais sofrem com as doenças (dengue, chikungunya e zika). Ela afirmou ainda que a pasta está alinhada com o Conass e com o Conasems.
“Eu queria dizer da importância de estados e municípios nesse novo momento que estamos iniciando agora que o projeto passa a ter uma escala maior fazendo que estados e municípios possam estar incorporando mais uma tecnologia para que possamos combater essas doenças transmitidas pelo aedes aegypt. A incorporação dessa tecnologia vai ter resultados no médio e longo prazo”, afirmou Maciel.
Método Wolbachia
O impacto positivo da Wolbachia na redução das taxas de transmissão de arbovírus tem sido observado em várias cidades do mundo, inclusive em Niterói, onde o número de casos de dengue foi reduzido em 70%, chikungunya em 56% e Zika em 37%.
O presidente da Fiocruz, Mário Moreira, enfatizou a importância da parceria entre a Fiocruz e a WMP. “A Fiocruz que tem tradição no enfrentamento, na vigilância das doenças infectocontagiosas traz hoje uma experiência muito positiva que vem da pesquisa, eu faço um agradecimento à universidade de Monash, nós acreditamos nesse projeto desde o começo e apostamos com uma plataforma tecnológica efetiva de combate aos vetores transmissores da dengue.”
O CEO do WMP Global, Scott O'Neill afirmou que o método possibilita uma redução muito forte nas doenças e afirmou que o método é totalmente eficaz. “É um novo jeito de pensar sobre controle e a devastação da doença como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A evidência científica foi publicada nos melhores artigos médicos e nós mostramos que podemos implementar e apoiar as comunidades, podemos fazer isso em uma grande escala e em comunidades complexas.”
Ao Correio, Scott O'Neill acrescentou que mesmo o método sendo eficaz, a erradicação dessas doenças (dengue, zika e chikungunya) deve demorar anos.
Campanhas de comunicação
Os pesquisadores enfatizaram que o método Wolbachia é um método complementar às demais ações de controle e que a população deve contribuir para que as ações sejam efetivas. A pesquisadora da Fiocruz Alda Maria da Cruz explicou que é essencial ter um canal de comunicação com os cidadãos das regiões participantes do método Wolbachia.
“A ação é tripartite, ela parte do Ministério, dos estados, dos municípios para que a gente possa chegar às comunidades. O próprio Conasems tem uma potente rede de informação que chega aos municípios mais distantes, e além disso, obviamente o programa de comunicação específico que inclusive já foi adotado em outros municípios eles serão replicados aos municípios onde serão implantados, tendo em vista a característica dessa comunidade. Essa comunicação é fundamental para a aderência da população para que ela não deixe de tomar as outras medidas que também são essenciais.”
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes
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