No período do Brasil Colônia, quando o protagonismo feminino na sociedade era oprimido, uma mulher que pertencia à elite mineira do século XVIII saiu da curva e foi personagem importante na luta pela Inconfidência Mineira. No início, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo ajudou na comunicação entre os inconfidentes, arriscando-se a distribuir cartas e comunicados. Mais tarde, ao saber da prisão de Tiradentes com uma rebelião armada, ela buscou salvar o movimento.
Em uma carta destinada ao padre Carlos Toledo e ao tenente-coronel Francisco de Paula Freire, a fazendeira e inconfidente afirmava que “quem não é capaz para as coisas, não se mete nelas. E mais vale morrer com honra do que viver em desonra”.
Com esse espírito de justiça, a inconfidente esquecida nos livros de história terá a reparação da memória por meio de uma homenagem com o Panteão dos Inconfidentes no Museu da Inconfidência durante do Festival de História (fHist), marcado para acontecer entre os dias 13 a 29 de abril em três cidades de Minas Gerais: Mariana, Ouro Preto e Belo Horizonte.
Antes da homenagem, a inconfidente será tema da mesa de debates “Hipólita estava lá”, a ser realizada em 29 de abril, em Ouro Preto, com as presenças da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia Antunes Rocha, da historiadora Heloísa Starling e da cantora e compositora Zélia Duncan.
“A importância de retratar a história da Hipólita Jacinta está na ligação com o tema central da edição do Festival: ‘Histórias para não esquecer’, ou seja, histórias não contadas ou apagadas pela versão oficial dos fatos”, afirma a educadora e curadora do Festival de História, Pilar Lacerda.
Lacerda conta que a história de Hipólita Jacinta é exemplo de como a participação das mulheres em fatos importantes no mundo foi sempre apagada. “Ela foi sempre muito ativa na Inconfidência Mineira, mas, até hoje, não há um reconhecimento de seu papel no movimento.”
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Popularização
Mas não é só a memória de Hipólita Jacinta que ficou fora das páginas dos livros de história. Para um dos idealizadores fHist Américo Antunes, a proposta do evento é democratizar e popularizar os temas históricos junto ao grande público.
“São temas que em geral, na sociedade brasileira, ficam guardados a sete chaves nos meios acadêmicos, e nós entendemos – desde a primeira edição, em 2011, juntamente com o historiador e editor Revista de História da Biblioteca Nacional, Luciano Figueiredo – a importância de criar no Brasil um espaço democrático que visa à compreensão não só do resgate das memórias do passado, bem como entender melhor o futuro a partir das lições que o passado nos ensina.”
Outras histórias
O historiador e jornalista destaca, dentro da perspectiva do tema geral “histórias para não esquecer”, os movimentos sociais que tiveram a história obscurecida, como as revoltas dos homens escravizados que ocorreram em Minas Gerais.
“O Movimento de Carracas, em 1833, foi um levante organizado por homens e mulheres escravizados e ficou caracterizado como um período de muitos movimentos contestatórios e pouco tratado na historiografia oficial, mas de fundamental importância.”
O organizador destaca ainda que, na edição deste ano, o Festival de História visa proporcionar um debate sobre os últimos 200 anos no Brasil. “O projeto se insere sobre as perspectivas e discussões que não tiveram em 2022 – ano do bicentenário da Independência – e que agora em 2023 serão passadas a limpo com uma reflexão sobre o significado dos 200 anos da Independência.”
Como Participar
As inscrições para participar da programação do fHist são gratuitas e foram abertas nesta quarta-feira (15/3) no site do Festival de História. Na programação itinerante terão inéditas mesas de debates, conferências, aulões, minicursos, exposições em um caminhão-museu e apresentações artísticas.
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