A onda de ataques criminosos a prédios e equipamentos públicos no Rio Grande do Norte entrou no segundo dia, com atentados atingindo 19 cidades, população em pânico e autoridades negociando reforços no policiamento. No fim da tarde de ontem, após reunir-se com a governadora do estado, Fátima Bezerra (PT), em Brasília, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, autorizou o envio de tropas da Força Nacional para o estado. O secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, e o secretário executivo da pasta, Ricardo Capelli, também participaram da reunião.
A pedido do Ministério da Defesa, a Aeronáutica disponibilizou um avião da Base Aérea de Anápolis para levar cerca de 70 militares e armamento a Natal. A governadora desmarcou a agenda que cumpria na capital federal e retornou ontem mesmo para o Rio Grande do Norte.
Os ataques a tiros e com coquetéis molotov no estado potiguar começaram na madrugada de segunda-feira em Natal e mais oito municípios e, ontem, escalaram para atentados praticados à luz do dia em 15 cidades. Pelo menos uma pessoa morreu em uma troca de tiros com policiais e nove foram presas ao longo do dia de ontem. Também foram apreendidos armas, munição, dinheiro e veículos usados pelos criminosos. Entre os alvos dos bandidos estão o Fórum de Natal, bases da Polícia Militar, sedes de prefeituras, agências bancárias, ônibus e garagens de órgãos públicos. A Secretaria de Segurança do Rio Grande do Norte não informou a motivação dos atentados, mas suspeita de retaliação de uma facção criminosa que atua no estado — o Sindicato do Crime — contra operações policiais deflagradas nas últimas duas semanas.
Segundo o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Francisco Canidé, o governo do estado tinha conhecimento de que ataques a prédios públicos estavam sendo planejados pelo crime organizado. O serviço de inteligência do Ministério Público informou, na segunda-feira, sobre os possíveis ataques. Na capital do estado, duas bases da PM foram atingidas. Também foram registrados atentados em Acari, Boa Saúde, Caicó, Campo Redondo, Cerro Corá, Jaçanã, Lagoa D'anta, Lajes Pintadas, Macau, Montanhas, Mossoró, Nísia Floresta, Parnamirim, São Miguel do Gostoso, São Gonçalo do Amarante, Santo Antônio, Tibau do Sul e Touros.
Ônibus nas garagens
O Fórum de Justiça de Parnamirim, na Grande Natal, foi alvejado por tiros. Um carro da Secretaria de Obras do município e um ônibus foram incendiados. Em Caicó, o alvo foi uma revendedora de motocicletas. Em Mossoró, cinco automóveis foram queimados em um posto de combustíveis. Também houve ataques a dois caminhões da prefeitura e um caminhão de lixo.
A frota de ônibus de Natal foi recolhida no início da tarde, após o reinício dos ataques. A Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e as Universidades Estadual do Rio Grande do Norte (Uern) suspenderam as aulas, assim como escolas das redes estaduais e municipais.
A governadora informou que o policiamento nas estradas que cortam o estado foi reforçado, e há barreiras montadas para evitar a fuga dos bandidos. Ela considerou "inaceitáveis os episódios de violência" e garantiu que "todo o trabalho está sendo feito para que os criminosos sejam presos, julgados e punidos por esses crimes repugnantes". O governo da Paraíba também convocou reforços policiais para ampliar a segurança em 20 cidades que fazem divisa com o Rio Grande do Norte. O objetivo é impedir que criminosos usem as rodovias como rora de fuga para o estado vizinho.
*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Doria
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