Assim como nas cidades, nas populações tradicionais, que vivem em áreas florestais, as mulheres são as responsáveis pela manutenção das casas e do desenvolvimento das famílias. Elas também estão envolvidas na plantação, na colheita, no artesanato e em diversas atividades que podem gerar alguma renda para a subsistência da comunidade. Por isso, o projeto "Das Nices e Dijés — Mulheres das águas, do campo e da floresta", idealizado pela Oxfam Brasil e apresentado exclusivamente ao Correio, tem como objetivo trazer visibilidade e ampliar o espaço, junto às autoridades, dessas lideranças que lutam por questões de justiça de gênero nesse contexto.
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- Educação a céu aberto: as pré-escolas nas florestas dos países escandinavos.
A coordenadora de justiça racial e de gênero da Oxon Brasil, Tauá Lourenço Pires, explica que ao falar da Amazônia e sua preservação, grande parte da resistência em manter a floresta em pé vem das mulheres que se tornam líderes dentro de suas comunidades. Para ela, olhar para esses segmentos é honrar o trabalho de luta que essas mulheres assumem historicamente para defender o meio ambiente.
"São as mulheres que fazem a gestão das associações de moradores que, muitas vezes, chefiam suas famílias. Fazem com que as coisas aconteçam. As mulheres também estão na linha de frente do extrativismo, das coletas na agricultura, trabalhando aqui dentro das comunidades. Então, são essas mulheres, as lideranças, que fazem com que as lutas dessas comunidades permaneçam vivas. Então, esse símbolo da resistência das comunidades tradicionais e dos povos indígenas tem uma marca muito grande das mulheres", ressaltou.
O programa irá trabalhar com as lideranças que integram as parcerias com a Oxfam Brasil, como o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (Miqcb), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). A intenção é inserir quilombolas, extrativistas, quebradeiras de coco, babaçu e indígenas — que muitas vezes se tratam de mulheres negras e não brancas —, em mesas de negociação nacionais e internacionais de modo que essas mulheres tenham suas vozes reconhecidas e ouvidas em espaços de tomada de decisões e poder.
"Dar visibilidade ao meu trabalho e das demais lideranças é muito importante, porque a 'tal' da Amazônia que o mundo todo almeja é a gente que faz. Somos nós, populações tradicionais, que pagamos um preço muito alto para manter essa floresta em pé. Muitas das vezes pagamos com as nossas próprias vidas", alerta a líder Erica Nascimento Monteiro, diretora na Malungu e coordenadora nacional da Conaq.
As lideranças também promovem a articulação com diversos segmentos, inclusive a mídia, de forma estratégica, dando visibilidade a questões relacionadas aos direitos desses povos. "Neste momento, estão fazendo com que os direitos delas não sejam respeitados. Desde o direito número um, que é o direito à terra, até para fazer as suas coletas do açaí, do babaçu. O direito a transitar no território, de terem a titulação desses territórios que são ocupados há muitos anos por famílias. Há a questão da titulação coletiva garantida, assim como a demarcação de terras indígenas", detalhou Tauá.
A coordenadora da Conaq, que vive no município de Acará, próximo a Belém, afirma que o reconhecimento também passa pela resistência em manter os saberes tradicionais. A partir de agora, com a tomada da palavra para si, as lideranças femininas poderão mostrar novos caminhos na discussão da preservação do meio ambiente, do acesso aos recursos naturais, à justiça climática e à justiça de gênero, inclusive mostrando a diferença de uma geração de renda que venha da floresta.
"Os saberes tradicionais dos povos da floresta são muito importantes porque a gente planta, colhe e sobrevive da Amazônia. Eu sempre digo que não existe cidade sem unidade. Então, a importância dessas populações tradicionais, com os seus saberes para o mundo, é que a gente fala que na Amazônia nós podemos trabalhar a sócio bioeconomia e não apenas economia como o mercado nos impõe", explicou.
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