A advogada Luanda Pires, diretora de políticas públicas da ONG Me Too Brasil, foi ameaçada de morte por causa do seu trabalho. A organização não governamental atua no combate e no acompanhamento de mais de 250 casos de violência sexual contra mulheres no país. A ONG existe há dois anos e conta com mulheres e homens voluntários no trabalho de apoio às vítimas.
As ameaças à vida de Luanda começaram no dia 8 de novembro do ano passado. À época, a advogada recebeu, por e-mail, uma mensagem que informava que um dos acusados de crimes sexuais denunciados pelas vítimas ao Me Too Brasil "está querendo te matar e vendo meios para isso". A diretora, porém, não publicou o nome mencionado no texto do e-mail. Ela alegou que isso poderia atrapalhar a investigação. As informações são do portal g1.
“Prezada Doutora Luanda. Admiro seu trabalho e por isso envio esse relato de forma anônima, por medo e pela minha segurança. Recebi a informação direta de uma pessoa de confiança e que trabalha no [...] e me colocou que o [...] esbravejou que está querendo te matar e vendo meios para isso, por isso preze pela sua segurança e pela sua vida. A sua vida vale muito para as mulheres”, informa a mensagem recebida pela advogada.
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Ainda no mesmo mês, no dia 29, um homem não identificado foi filmado entrando no carro de Luanda. A câmera de segurança mostrou que o rapaz abriu uma das portas traseiras. O veículo branco que aparece nas imagens estava estacionado na rua, enquanto ela fazia compras num supermercado na Zona Sul de São Paulo.
O invasor entra e depois sai do veículo. Nada foi furtado. No dia seguinte, Luanda encontrou dentro do automóvel um objeto pequeno, semelhante a um chip, que cabe na palma da mão. Por suspeitar que possa ser uma espécie de rastreador, ela o encaminhou para as autoridades periciarem. Ainda não saiu nenhum laudo sobre o o objeto.
“Abriu o meu carro e colocou esse possível rastreador. Tanto eu quanto a polícia suspeitamos que o e-mail e o suposto rastreador têm ligação e ambos estão ligados a um dos casos do Me Too Brasil”, disse a diretora, que acha que alguém usou um bloqueador de alarme que impediu o travamento das portas do carro quando ela saiu do veículo.
As câmeras de segurança mostram ainda que ao menos outros dois jovens poderiam estar envolvidos na invasão ao carro de Luanda. Todos os três tinham entrado e saído juntos de uma loja de conveniência em um posto de combustíveis próximo ao local onde a diretora havia deixado seu automóvel
O e-mail com tom de ameaça e a invasão de seu automóvel motivaram Luanda a registrar boletim de ocorrência em 5 de dezembro de 2022 na Polícia Civil. Ela pediu que fosse apurada a suspeita de crime de "coação no curso do processo".
A polícia encaminhou as queixas de Luanda para o Ministério Público (MP), que depois as comunicou à Justiça. O caso segue atualmente sob sigilo. Até a última atualização desta reportagem não havia uma conclusão sobre o processo.
OAB-SP e Instituto Marielle
A advogada também acionou a Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP). A diretora do Me Too Brasil ainda entrou em contato com o Instituto Marielle Franco para pedir ajuda para a sua segurança.
"Estamos desde o fim do ano passado dando suporte a Luanda, com diálogos sobre medidas de proteção e solicitação de apoios urgentes para ela, para arcar com as mudanças de vida necessárias desde a identificação da ameaça", disse Fabiana Pinto, coordenadora de incidência do Instituto Marielle Franco, ao G1.
“Nestes primeiros meses também entraremos com um pedido para que ela seja inserida no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos”, completou.
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