A presidente da Rotary International, Jennifer Jones, está no Brasil para celebrar os 100 anos da instituição no país, comemorados nesta terça-feira. Do Rio de Janeiro, em entrevista ao Correio, a canadense destacou a importância do cuidado com a vacinação e como a história de combate à pólio ressalta o papel essencial das vacinas. Como primeira mulher a presidir a organização, predominantemente masculina, Jones também defende a importância da presença feminina em posições de liderança para as entidades, e de ações de capacitação profissional voltadas para as mulheres. A Rotary International é uma organização formada por grupos de pessoas que atuam em projetos sociais a nível local, nos chamados Rotary Clubs, e em grandes ações em nível global. Um dos carros-chefe da entidade é a erradicação da poliomielite no mundo, e os esforços de conscientização sobre as vacinas, como a da covid-19. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
A Rotary investe em projetos sociais por todo o mundo. Como é a organização da entidade, e quais os temas em que vocês atuam?
Nós temos a Rotary Internacional que define o que chamamos de "sete pontos de foco" das nossas ações. Entre eles está o combate à poliomielite, que é uma das nossas maiores bandeiras. Temos também um que se tornou muito importante hoje em dia, que é a proteção ao meio ambiente. E esses temas servem de guia para as ações locais, que os Rotary Clubs fazem em suas comunidades. Então são grupos de pessoas que buscam formas de ajudar suas comunidades locais, as pessoas necessitadas. Mas temos também os grandes projetos globais. A Fundação Rotary já arrecadou e investiu mais de US$ 5 bilhões em sua história pelo mundo.
Quais são as ações mais recentes pelo mundo?
Recentemente, na Turquia, tivemos ações locais e doações por conta do terremoto, para ajudar as pessoas atingidas. Com a guerra na Ucrânia, também arrecadamos doações. Aqui no Brasil, nós temos 49 mil filiados, em mais de 2 mil Rotary Clubs. Nos vemos como uma grande família de pessoas que querem contribuir e ajudar suas comunidades. Dessa forma, temos ações relevantes em todas as cidades nas quais estamos presentes. O que, hoje em dia, são todas as grandes cidades do mundo.
Sobre o combate à poliomielite mencionado pela senhora, o que já foi feito e está sendo feito pela organização?
O combate à pólio é uma das nossas ações mais importantes e um dos maiores projetos da Rotary. Essa atuação já dura mais de três décadas e nunca estivemos tão perto de conseguir completar esse objetivo, que é erradicar a poliomielite no mundo. Hoje em dia, você fala com várias pessoas sobre a pólio, mas elas respondem que 'Ah, isso é coisa do passado, já acabou', mas não é o caso. Nós temos a pólio endêmica ainda em dois países: o Afeganistão e o Paquistão. Neste ano, até o momento não tivemos nenhum caso — bate na madeira — mas, no ano passado, tivemos cerca de 30 casos. E nós estimamos que, para realmente erradicar a doença, ainda precisamos de um investimento de US$ 4,8 bilhões. Dessa forma, estamos muito confiantes de que conseguiremos acabar com a doença até o final de 2026, o que vai ser algo histórico.
Como são as parcerias da Rotary International?
Nós atuamos em parceria com muitas organizações. Apenas para citar algumas, temos a Organização Mundial da Saúde (OMS), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), e a Fundação Bill e Melinda Gates. E fazemos esse trabalho de campo também. Nós vamos de porta em porta, conversando com as mulheres, como as mães, sobre a importância dessa vacinação.
Com esse histórico de atuação na saúde, como veem os esforços de vacinação contra a covid-19 agora e o combate à pandemia?
O que é interessante é que somos uma organização que não é religiosa nem política. E mesmo assim somos grandes defensores da vacinação. Sabemos, pela nossa história, a importância das ações de vacinação e prevenção no combate às doenças, e é uma pena que isso tenha sido politizado hoje em dia. A pandemia da covid-19 foi uma coisa que afetou todas as pessoas, no mundo inteiro. Todos nós tivemos que nos isolar, todos nós tivemos que lidar com a incerteza, com o medo e com o fato de não sabermos com o que estávamos lidando, até que descobrimos.
Como a instituição atuou no enfrentamento da covid-19?
A Rotary teve também forte atuação contra a pandemia, inclusive no Brasil. Nós usamos nossa experiência de combate à pólio e ajudamos na criação de centros de vacinação, com doações, com auxílio às pessoas que perderam os empregos. E o que é interessante é que as pessoas que já haviam sido conscientizadas sobre a pólio, e isso no mundo todo, já sabiam a importância da prevenção, da vacina, do distanciamento.
A senhora é a primeira mulher a assumir a presidência da Rotary em 2022 e defende a inclusão de mulheres em posições de liderança e maior participação feminina na sociedade. O que é feito pela organização nesse sentido?
Eu tenho a honra de ser a primeira mulher a presidir a nossa organização, e acho que isso é um passo muito importante até para quebrar uma série de estereótipos que nós temos. As mulheres só puderam participar da Rotary em 1989, e isso precisou de uma decisão da Suprema Corte para acontecer. Na história da nossa organização, isso é uma coisa muito recente. Hoje nós temos em torno de 25% de mulheres como nossos membros. Em alguns países estamos bem mais perto da paridade, e em outros nem tanto. Então isso é muito importante para incentivar e mostrar para as mulheres que elas também podem participar da comunidade.
Quais iniciativas a Rotary desenvolve em favor das mulheres?
Sobre as ações voltadas para o que chamamos de "empoderamento das mulheres", eu cito como exemplo um projeto muito interessante que temos no Rio de Janeiro, voltado para capacitação de mulheres em culinária. Nós já investimos cerca de R$ 110 mil no projeto, que não é só sobre cozinhar em si, mas também capacitar de um ponto de vista dos negócios, da profissionalização. Então, na nossa visão, fazendo esse tipo de investimento e capacitação das mulheres, elas conseguem ter uma renda maior para suas famílias, que leva a crianças com melhor educação e melhores oportunidades no futuro.
Qual a importância da visita ao Brasil?
Para mim é muito importante e gratificante estar aqui no Rio de Janeiro e celebrar esses 100 anos da Rotary no Brasil. É a quinta vez que venho ao país. É uma grande oportunidade de rever pessoas que conheci nessas visitas, celebrar o momento e, principalmente, aprender sobre o que está sendo realizado pelas comunidades por aqui e que podem ajudar em outros lugares do mundo. Temos outros países completando 100 anos de Rotary. Em março, nós temos essa celebração nos Países Baixos.