O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, reconheceu, ontem, que falhou o sistema de alerta por SMS para a população que mora em área de risco, em São Sebastião, durante as chuvas que caíram no último final de semana e mataram até agora 50 pessoas. Por causa disso, ele anunciou que será instalado um sistema com sirenes nas encostas, "como já existe em outros estados".
"Foram disparados 2,6 milhões de alertas antes da chuva, via SMS, e a gente viu que isso não tem efetividade. Foram mais de 30 mil pessoas que receberam o alerta. Precisamos ter uma maneira mais efetiva", justificou.
Tarcísio, porém, salientou que as sirenes somente terão eficiência se houver um protocolo pelo qual as pessoas nas áreas de risco saiam organizadamente para locais previamente estabelecidos como seguros. "Não adianta instalar o sistema se não tiver capacitação, se não tiver treinamento. Dispara a sirene, a pessoa já tem que saber para onde ir, tem de saber qual é o ponto de apoio, ter confiança de que o suprimento vai chegar, que o patrimônio dele vai estar protegido", observou, mas sem adiantar quando começará a ser feito esse treinamento dos moradores.
Segundo o governador, o estado pretende instalar mais radares meteorológicos no litoral e substituir os existentes por modelos de última geração. "De maneira geral, os radares são colocados no planalto e têm alguma dificuldade de observar ou prever alguns fenômenos extremos, como situações de baixa pressão. Então, a ideia é posicionar mais radares no litoral", explicou.
Para Tarcísio, as providências que serão tomadas servirão para criar um padrão que passe a ser utilizado em futuros episódios semelhantes. "O que vamos tentar fazer é usar esse caso de laboratório. Fazer algumas experiências sociais para verificar se a gente consegue ter êxito, e se a gente consegue ter um modelo de enfrentamento a esse tipo de crise, que se der certo aqui, pode dar certo em uma série de outros locais. Principalmente no que diz respeito à desmobilização de pessoas em áreas de risco", salientou.
O governo estadual, conforme adiantou Tarcísio, também pretende criar nos currículos das escolas uma disciplina relacionada à defesa civil e primeiros socorros. A ideia é capacitar a população desde a infância para evitar e enfrentar tragédias da magnitude como a de São Sebastião.
Identificações
O número de mortos chegou a 50, sendo 49 em São Sebastião e uma em Ubatuba, de acordo com o boletim da Defesa Civil estadual, divulgado ontem à noite. Trinta e oito vítimas foram identificadas, cujos corpos foram liberados para sepultamento. Trinta e seis pessoas continuam desaparecidas.
Ainda de acordo com a Defesa Civil, o número de desalojados — aqueles que estão fora de casa, mas conseguiram abrigo com parentes ou amigos — subiu para 2.251. No caso dos desabrigados — pessoas que estão nas instalações provisórias montadas pelo poder público —, 1.815 pessoas foram contabilizadas.
Além das equipes de busca, o trabalho de localização de vítimas está sendo realizado inclusive por voluntários que vieram de outras partes do país. "Hoje (ontem) chegou muita gente para ajudar no Sahy (uma das localidades devastadas pelos desabamentos). Encontrei um homem que veio do Paraná", relatou o diretor de Comunicação da Defesa Civil de São Paulo, tenente Roberto Farina.
Morador confirma: suporte foi ineficaz
O sistema de alerta por meio de mensagens SMS que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, admitiu que não teve a eficácia esperada para evitar a tragédia foi confirmado por moradores da região ouvidos pelo Correio. A cabeleireira Cristiane Santana dos Santos, de 35 anos, afirmou que não foi avisada do risco que estava correndo.
"Não recebi alerta por SMS do que estava acontecendo, do que iria acontecer. E não sei de ninguém que recebeu esse alerta", afirmou, ela que há 12 anos é moradora da Vila Sahy, um dos locais mais afetados pelas encostas que desceram.
Um morador que não quis se identificar confirmou ter uma amiga que recebeu um alerta no sábado. Mas ele mesmo só soube da situação de risco por meio do aplicativo de mensagens do grupo da igreja que frequenta. Ainda assim, o aviso a que o Correio teve acesso é pouco esclarecedor: "Defesa Civil alerta: chuvas intensas", diz o SMS.
Segundo moradores do Sahy, logo depois do início das fortes chuvas, o abastecimento de energia elétrica e o serviço de telefonia móvel foram interrompidos. Relatos dão conta de que os celulares da região ficaram incomunicáveis, sem realizar ligações ou conectar a internet — o que contribuiu para a ineficácia do aviso via SMS.
O técnico em eletrônica e segurança Tiago Marques, morador do Sahy há 20 anos, confirmou que a chuva do carnaval foi fora do comum. "Nunca aconteceu nada igual. Houve alagamentos e muitos comércios têm comportas para evitar inundação. Mas como o final de semana, nunca!", afirmou.
Ele explicou que depois dos celulares sem comunicação e da falta de luz, só conseguiu tranquilizar os parentes porque lançou mão dos conhecimentos profissionais que tem. Usou a bateria de uma parafusadeira como fonte de energia e, assim, ligou o modem que dá acesso à internet.
Os moradores do Sahy, os quais em boa parte segue em abrigos ou em casas de parentes e amigos, reclamam da falta de informações do governo. "Não tem um lugar para pedir informações. A gente vai para a rua e tenta ver se tem alguém passando que possa nos dizer o que fazer", criticou Tiago Marques, que apesar de não ter a casa atingida pelos deslizamentos, por cautela tem passado as noites com a mulher em um dos abrigos temporários.
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