Jornal Correio Braziliense

Yanomami

Operação de combate ao garimpo na terra Yanomami será gradual e progressiva

A partir da próxima sexta-feira estão previstas as primeiras incursões de agentes da Polícia Federal, com suporte das Forças Armadas, em áreas ocupadas pelo garimpo.

A operação de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, será deflagrada por etapas, ao longo de todo o mês de fevereiro, de forma gradual e progressiva. A partir da próxima sexta-feira, segundo apurou o Correio Braziliense, estão previstas as primeiras incursões de agentes da Polícia Federal, com suporte das Forças Armadas, em áreas ocupadas pelo garimpo. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, explicou que, no momento, os diversos órgãos do governo envolvidos na operação em Roraima estão finalizando os respectivos planos de mobilização de recursos humanos e equipamentos para atuar na região. O ministro disse ainda que não haverá "nenhuma operação midiática" e que tudo será feito no sentido de garantir a segurança dos indígenas.

Fontes do Ministério da Defesa, porém, reconhecem que a situação ainda está "um pouco solta", sem uma articulação totalmente coordenada. As forças militares e de segurança, por enquanto, atuam apenas na logística e na proteção das equipes que estão cuidando dos indígenas, dando suporte ao transporte de doentes das aldeias para Boa Vista e o abastecimento de comida e remédios. A repressão à extração de ouro ainda está sendo planejada com base em informações de agentes de inteligência das Forças Armadas e da Polícia Federal que trabalham na região.

A partir de amanhã, o Ministério da Defesa ativará o Comando Operacional Conjunto (COC) das forças militares, que centralizará a coordenação da retirada do garimpo da terra indígena. A Polícia Federal também terá representação no comando, mas ainda não há definição sobre a presença do Ibama (que tem papel fiscalizador) e da Funai (que tem a tarefa de implementar políticas públicas e defender os direitos dos indígenas).

As medidas adotadas, até agora, seguem sob responsabilidade dos respectivos órgãos. O planejamento, a coordenação e a execução das ações de controle do espaço aéreo em Roraima, com a criação da Zona de Identificação de Defesa Aérea (Zida), estão a cargo do Comando de Operações Aeroespaciais (Comae), com poder para ordenar a interceptação de aviões suspeitos. Essa missão é cumprida por mais de 10 aviões caça Super Tucano da FAB baseados em Boa Vista. Armados com duas metralhadoras e lançadores de foguetes, esses aviões — do mesmo modelo utilizado pela Esquadrilha da Fumaça — são voltados para treinamento de pilotos de caça e ataques leves de precisão.

"Aeronaves não identificadas ou não autorizadas poderão ser interceptadas e estarão sujeitas à aplicação das Medidas de Policiamento do Espaço Aéreo (MPEA)", informou a FAB, em nota. Na quinta-feira, foram divulgadas as regras para voos na região. Serão considerados suspeitos aviões e helicópteros sem plano de voo aprovado, sem identificação para o controle de tráfego aéreo, sem marcas de nacionalidade ou matrícula impressas na fuselagem, que invadirem a Zida sem autorização, que voem à noite com luzes apagadas ou façam manobras para fugir da interceptação por aviões militares, entre outros pontos.

Gargalos

As dificuldades para implementar uma operação complexa como a que deve ser deflagrada até o fim de semana para a retirada de mais de 20 mil garimpeiros espalhados por uma área de 97 mil km estão sendo mapeadas. A reportagem apurou que as Forças Armadas trabalham com cinco áreas de dificuldade. A primeira é o isolamento de Boa Vista e as distâncias entre a capital do estado e as aldeias e postos de atendimento na TI. Esse último trecho de tem sido feito por helicópteros de médio porte Black Hawk, da FAB, o único com grande capacidade de carga e autonomia para atender as cerca de 300 aldeias da região. Por enquanto, os aparelhos estão sendo usados apenas para transporte de indígenas doentes e desnutridos, comida e remédios, mas serão utilizados também para desembarque de policiais nas áreas de garimpo.

Os obstáculos de deslocamento também são apontados como complicadores da operação. Por isso, a logística de transporte de tropas militares e unidades da Polícia Federal, além de equipamentos e suporte de segurança, está sendo discutida pelas três Forças. O Correio apurou que muitos policiais federais e militares convocados não têm conhecimento da região e das condições em que vão atuar, e precisão de um tempo para se adaptar.

Os preparativos do cerco aos garimpos também levam em conta a segurança dos agentes envolvidos nas operações em terra e na assistência de eventuais feridos. Por enquanto, apenas um suboficial da FAB foi picado por uma cobra na base de Surucucu — principal área de suporte da TI Yanomami — e precisou ser removido, de helicóptero, para Boa Vista.

Finalmente, há uma equipe do gabinete de crise que está avaliando os impactos da operação na infraestrutura urbana de Boa Vista e nas pequenas comunidades próximas com a chegada de milhares de garimpeiros que serão obrigados a deixar a floresta. (TA e VD)

 

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