Jornal Correio Braziliense

Roraima

Comando articula operação contra invasores nas terras ianomâmis

Nos últimos três dias, aviões caça Super Tucano, da Força Aérea Brasileira (FAB), fizeram voos de reconhecimento da terra indígena, fotografando e levantando informações sobre localização de garimpos

As Forças Armadas estão transferindo para Boa Vista, neste fim de semana, o comando das ações de repressão ao garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami, em parceria com a Polícia Federal (PF). Ontem, o Ministério da Defesa ativou o Comando Operacional Conjunto (COC) das forças militares, que começa a operar na capital de Roraima na segunda-feira. As primeiras incursões contra os invasores serão deflagradas até a próxima sexta-feira.

Nos últimos três dias, aviões caça Super Tucano, da Força Aérea Brasileira (FAB), fizeram voos de reconhecimento da terra indígena, fotografando e levantando informações sobre localização de garimpos e pistas de pouso, além de rotas de tráfego de pessoas e suprimentos. Na próxima quarta-feira, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, irá a Roraima com os comandantes militares para conhecer a estrutura do COC e acompanhar o andamento da Operação Escudo Ianomâmi — como foi batizada a ação militar na região.

Desde quarta-feira, a Aeronáutica coordena medidas de restrição do espaço aéreo de Roraima definidas com a implantação da Zona de Identificação de Defesa Aérea (Zida). Estão proibidos os voos comerciais e particulares sobre praticamente toda a área dos ianomâmis. Nas regiões adjacentes, há restrições de acordo com a identificação e a finalidade das aeronaves.

Expansão

As áreas de exploração ilegal na terra ianomâmi aumentaram de 0,1km² para 4,2km², entre 2016 e 2020, segundo aponta um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, nos Estados Unidos, publicado na revista Remote Sensing. Na Amazônia Legal, a área ianomâmi é uma das mais atingidas pela mineração irregular, segundo a pesquisa, ficando atrás, apenas, das TIs dos caiapós (77,1km² de área ocupada) e dos mundurucus (15,6km²), ambas no Pará. Os pesquisadores concluíram, também, que a maior parte do garimpo ilegal em reservas indígenas da Amazônia se dedica à extração de ouro (99,5%), enquanto a mineração de estanho ocupa 0,5% da área.

De acordo com o estudo, o isolamento das terras dos ianomâmis contribuiu para dificultar o acesso de garimpeiros nas últimas três décadas. Mas, com o aumento da cotação do ouro e o enfraquecimento da fiscalização, Roraima virou a nova fronteira da mineração. Atualmente, organizações não governamentais que atuam no estado estimam que há mais de 20 mil garimpeiros extraindo ouro nos rios que cortam a TI, número que se aproxima da população indígena na região — cerca de 26 mil pessoas.