A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (28/2), a terceira operação em menos de um mês contra a rede de compra e venda de ouro extraído ilegalmente da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Desta vez, os alvos são pequenos empresários do setor de construção civil que, segundo as investigações, podem ter movimentado, nos últimos quatro anos, R$ 271 milhões.
Na operação, batizada Nau dos Quintos — referência ao navio português que levava para Portugal o ouro arrecadado como tributo das minas brasileiras —, os agentes cumpriram três mandados de busca e apreensão em Boa Vista. Os bens dos envolvidos foram bloqueados por determinação da 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima.
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As investigações tiveram início após uma denúncia anônima e levaram a dois empresários, identificados como integrantes do esquema. Eles recebiam “valores de centenas de pessoas físicas e jurídicas” para “compra de ouro ilegal”, segundo nota da Polícia Federal. Um deles, microempresário dono de uma loja de material de construção, teria movimentado R$ 162 milhões nos últimos quatro anos, usando a própria empresa, legalmente registrada, para “esquentar” o dinheiro que financiava o comércio do ouro ilegal. Outro suspeito, que declarou à Receita Federal rendimentos de apenas R$ 40 mil no período, teria movimentado em suas contas mais de R$ 12 milhões.
Há mais envolvidos no esquema de financiamento que dá suporte à extração de ouro da reserva indígena, inclusive pessoas que já foram alvo das operações anteriores, cujos nomes são mantidos em sigilo por determinação judicial.
Parentes do governador
Em 9 de fevereiro, a Operação Bal cumpriu oito mandados de busca e apreensão em endereços de suspeitos de financiar a compra e venda de ouro ilegal extraído das terras ianomâmis, entre eles, a irmã (Vanda Garcia de Almeida) e um sobrinho (Fabrício de Souza Almeida) do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP). Outros parentes do governador, cujos nomes não foram divulgados pela PF, também estão sob investigação. O esquema teria movimentado R$ 64 milhões em dois anos. Fabrício já havia sido preso, em 2010, ao ser flagrado com diamantes, em Rondônia.
Uma semana depois, a Operação Avis Aurea (ave dourada, em latim) cumpriu mais 16 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Goiás e Roraima, com a identificação de, pelo menos, 17 pessoas e nove empresas suspeitas de envolvimento no comércio criminoso, segundo apurou o Correio. No endereço de um dos suspeitos, os policiais encontraram diamantes.
De acordo com a PF, a quadrilha enviava dinheiro vivo para Boa Vista, que era usado na compra do ouro ilegal em um esquema que teria movimentado, em cinco anos, R$ 422 milhões. Uma das empresas suspeitas de integrar a rede criminosa já era investigada pela corporação após a descoberta de 111kg de ouro em um avião apreendido em Goiânia.
De acordo com a Polícia Federal, a quadrilha usava motoristas para enviar a Boa Vista, por via terrestre, em viagens que duravam mais de uma semana, grandes somas de dinheiro captado de pessoas físicas e jurídicas das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Lá, era usado para comprar ouro sem registro extraído nos garimpos ilegais da reserva indígena. As investigações tiveram início após a Polícia Rodoviária Federal apreender mais de R$ 4 milhões em espécie no interior de um veículo abordado em Cáceres (MT) que seguia para Roraima.
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