violência

Chacina em Sinop: advogado diz que atirador poupou a vida de uma das vítimas

Homem que atirou de escopeta se rende após morte de comparsa. Segundo advogado, ele teria "poupado" mulher de uma das vítimas

Ândrea Malcher
postado em 24/02/2023 03:55
 (crédito: Fotos: Redes sociais/Reproduções)
(crédito: Fotos: Redes sociais/Reproduções)

Edgar Ricardo de Oliveira, de 30 anos, que aparece dando tiros de escopeta em um grupo de pessoas depois de ter perdido um jogo de sinuca, em Sinop (MT), se entregou ontem à polícia. O crime aconteceu na terça-feira. Uma adolescente de 12 anos, que tentou fugir, foi assassinada com um tiro nas costas por Edgar, conforme mostram imagens da câmera de segurança do bar onde aconteceu o crime.

Segundo o delegado Bráulio Junqueiro, que conduz as investigações, Edgar estava em uma casa no bairro Jardim Califórnia, também em Sinop. "Quando chegamos, ele abriu o portão, com a mão na cabeça, e se entregou. Nós o conduzimos para delegacia e, agora, vamos adotar as providências cabíveis ao caso", afirmou.

O delegado disse, ainda, que Edgar confessou o crime. "Não tem como negar. Ele também apresentou a versão dele informalmente, em off, para a gente. Vai responder por sete homicídios, todos qualificados", explicou.

Edgar é registrado pelo Exército como CAC (Colecionador, Atirador Esportivo e Caçador) e chegou a frequentar um clube de tiro em Sinop. Mas foi desfiliado, conforme informou a Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT). Nas redes sociais, o assassino aparece ostentando armas e fazendo disparos. Edgar também tem registros usando um boné em apoio à reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O advogado de Edgar, Marcos Vinícius Borges, disse que o cliente se "demonstra arrependido" pelos sete assassinatos. "Não entramos no mérito, mas ele se demonstra totalmente arrependido e, agora, será esclarecido o fato", disse. Ainda segundo o advogado, Edgar "poupou" a vida de Raquel Gomes de Almeida, sobrevivente da chacina, mulher de Getúlio Rodrigues Frasão Júnior e mãe de Larissa, de 12 anos, ambos mortos.

Em um áudio que circula nas redes sociais, o assassino, ao saber da morte do comparsa Ezequias Souza Ribeiro — que também fez vários disparos contra o grupo de pessoas e foi morto na noite de quarta-feira pela polícia —, diz ao advogado que iria se entregar. "Estou desarmado, não quero confronto com a polícia, não tenho nenhuma arma mais. As armas ficaram na caminhonete. Não tenho arma, não quero nenhum tipo de confronto com ninguém. Só quero me entregar e o senhor agiliza aí o horário", teria dito ao advogado.

Edgar e Ezequias têm passagens pela polícia. O primeiro é fichado por violência doméstica, enquanto o outro tinha uma folha corrida por porte ilegal de arma, roubo, formação de quadrilha, lesão corporal e ameaça, além de um mandado de prisão em aberto.

Disputa política

A chacina gerou comoção nas redes sociais e virou tema de debate entre políticos aliados e de oposição ao governo Lula. Enquanto os governistas destacaram o fato de que um dos responsáveis pela tragédia tem registro de CAC, a oposição defendeu, principalmente, a punição dos atiradores.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, associou a tragédia a uma "irresponsável política armamentista que levou à proliferação de 'clubes de tiro', supostamente destinados a 'pessoas de bem'". Já a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), prestou solidariedade às famílias das vítimas e afirmou que é de conhecimento "quem é o guru do ódio que estimulou a intolerância e o armamento da população".

O deputado federal e vice-líder do governo Lula no Congresso, Bohn Gass (PT-RS), classificou a chacina como "uma sequência de horror e covardia": "Bandidos, frequentadores de clubes de tiro, matam, com tiros na cabeça, cada uma das vítimas desarmadas cujo 'crime' foi ter ganho deles no jogo", postou.

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) também ressaltou o fato de que Edgar tinha registro de CAC. O ex-presidente do Novo, João Amoêdo, ressaltou que a chacina é "exemplo da irresponsabilidade na definição de políticas públicas e do incentivo à cultura de ódio pelo ex-presidente".

Entre aliados de Bolsonaro, o foco das manifestações foi a punição aos envolvidos. O ex-ministro da Justiça e atual senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) defendeu a prisão perpétua para os assassinos, pena inexistente no Código Penal nacional. "Os dois responsáveis pelos assassinatos covardes em Sinop/MT devem ser caçados, presos, condenados e abandonados na prisão pelo restante de suas vidas", tuitou.

A punição também foi defendida pelo senador Magno Malta (PL-ES). "Que esses desgraçados apodreçam na cadeia", disse. Já o deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR) compartilhou uma reportagem sobre a morte de Ezequias, um dos autores da chacina. "Que vá para o inferno esse covarde", publicou o parlamentar. (Com Agência Estado)

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