A chuva e os deslizamentos registrados no litoral norte de São Paulo são parte de um contexto mundial de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. Em entrevista ao Estadão, um dos principais especialistas mundiais no tema, Paulo Artaxo, disse que parte das mortes registradas em tragédias ambientais brasileiras seriam "evitáveis" se os governos se mobilizassem em ações de prevenção e redução de riscos.
"O clima do Brasil já mudou, o novo normal são essas chuvas cada vez mais concentradas e intensas", afirma. "O ponto principal é que, em geral, essas mortes poderiam ser evitadas ou, no mínimo, minimizadas. E é preciso um trabalho de longo prazo, não adianta fazer só na hora que está chovendo."
Integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e professor da USP, Artaxo defende a implantação de um Programa Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas e uma maior atuação das defesas civis estadual e municipal. "Esse plano existe. No governo interior, foi ignorado. Acho que governo atual deve tirar da gaveta e implantar o mais rápido possível."
Ele comenta que a chuva no litoral norte foi atípica, mas era possível proceder de forma a reduzir o número de vítimas, pois um alerta do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) havia apontado o risco com 12 horas de antecedência.
"Choveu em algumas regiões de 400 a 600 milímetros em 24 horas. Isso, em algumas regiões, é um nível de precipitação que nunca sido observado", aponta. "Faltou que as Defesas Civis tirassem essa população das áreas de risco. Isso tem que ser feito."
- Sobe para 40 número de vítimas das chuvas no litoral de São Paulo
- Bolsa Família será pago de forma unificada a vítimas de chuvas em São Paulo
No caso das chuvas, cita outros casos recentes. "Teremos outros eventos climáticos extremos no próximo ano, ou daqui a dois, três anos, cada vez mais", aponta. "Há dois, três anos, teve outro desse tipo, com muitas mortes, e nada foi feito pelo governo federal. É fundamental que haja uma política de adaptação ao novo normal", defende.
Em março 2020, por exemplo, mais de 40 pessoas morreram em deslizamentos na Baixada Santista. "É preciso que os governos se mobilizem para atenuar os riscos de tragédias e reduzir as chances de mortes evitáveis", ressalta.
O pesquisador defende que os governos precisam atuar junto à população de áreas de risco, com atenção à população em situação de vulnerabilidade, e invista em ações para aumentar a capacidade de drenagem. "E não só em áreas serranas, em áreas urbanas também."
Entre as ações necessárias, estão mapeamentos "rigorosos" das zonas de risco, principalmente nas encostas e em áreas mais propensas a alagamentos, e uma maior integração entre os sistemas de alerta e os municípios e defesas civis. "O Brasil tem pesquisas muito sérias e muito fortes nesta área. Temos condições de mapear essas zonas de risco muito bem", afirma.
Artoxo cita, ainda, exemplos internacionais de eventos climáticos extremos, como as nevascas nos Estados Unidos e as ondas de calor extremo na Europa e no Oriente Médio registrados no segundo semestre do ano passado.
"O que se observando no mundo inteiro é o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos no mundo todo. Não há dúvida que eventos climáticos extremos vão aumentar de frequência e ainda mais intensidade, porque não estamos reduzindo as emissões de gases do efeito estufa como deveríamos estar fazendo."
Saiba Mais
- Brasil Operação conjunta do DNIT, PRF e Defesa Civil em São Sebastião vai até terça
- Brasil Governo federal reconhece estado de calamidade em 5 cidades além de São Sebastião
- Brasil Ministro mantém prisão preventiva de agente da PRF acusado por morte de Genivaldo
- Brasil Dos blocos às escolas de samba: veja como foi o carnaval no sudeste e nordeste
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.