Amazonas

Fiocruz tem projeto para levar água limpa à Terra Yanomami

Pesquisa da Fiocruz comprovou a relação entre desnutrição e consumo de água em condições impróprias em duas comunidades ianomâmis da Terra Indígena Maturacá, no município de São Gabriel da Cachoeira

Mariana Albuquerque*
postado em 15/02/2023 15:57 / atualizado em 15/02/2023 16:07
 (crédito: Fernando FRAZAO/AGENCIA BRASIL/AFP)
(crédito: Fernando FRAZAO/AGENCIA BRASIL/AFP)

Equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) busca levar água própria para consumo para indígenas ianomâmis no Amazonas. O projeto vem depois de uma pesquisa da instituição comprovar a relação entre desnutrição e consumo de água em condições impróprias em duas comunidades ianomâmis. O trabalho, que envolve cientistas de diversas especialidades, como biólogos, engenheiros sanitaristas e médicos, contou, neste ano, com visita técnica a duas aldeias na Terra Indígena Yanomami Maturacá, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Os pesquisadores coletaram amostras da água consumida pelos indígenas nos rios, poços e sistemas pluviais, além de peixes dos arredores, a fim de conduzir um trabalho educativo e de discussão para que as aldeias possam melhorar sua estrutura de saneamento.

Um estudo feito pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) mostrou que 81,2% das crianças observadas tinham baixa estatura para a idade, um indicador de desnutrição crônica; 48,5% tinham baixo peso para a idade, o que aponta para desnutrição aguda; e 67,8% delas estavam anêmicas.

A falta de água limpa desde a infância é um problema que se arrasta pelo resto da vida. É o que afirma a pesquisadora em Saúde Pública da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Ana Claudia Santiago, coordenadora de projetos de pesquisa na área da Saúde Indígena.

“Um dos principais fatores que causam a desnutrição das crianças ianomâmis é a falta de saneamento básico. Então, grande parte da população inidigena daquelas regiões consome água com coliformes fecais e com mercúrio provenientes das mineradoras ilegais da região. Isso provoca um enorme quadro de diarréia, o que faz com que a população não se desenvolva como o esperado. Eles ficam suscetíveis a outras diversas doenças, não só a desnutrição, que é, claro, um agravante no cenário”, explica.

A pesquisadora já havia destacado, em entrevista ao Correio, a importância do leite materno para a criança de 0 a 6 meses na formação de imunidade e fortalecimento. Segundo ela, a falta do leite, que já está prejudicado com mercúrio, expõe a criança muito cedo a um contato com uma água insalubre.

“Quando a criança passa a ter contato com a terra, ela sai do colo da mãe para beber água, começa a ter acesso a outro tipo de alimento, além do leite materno, e inicia esse quadro de diarreia. São quadros repetitivos que levam à desidratação e à desnutrição. Isso se explica pela contaminação da água dos rios.”

PNATI

Vale destacar que já existe no governo federal uma medida que tem como objetivo levar água para populações mais remotas que sofrem com a falta de saneamento básico e com a poluição exacerbada de rios e afluentes. O Ministério da Saúde lançou, em novembro do ano passado, o Programa Nacional de Acesso à Água Potável em Terras Indígenas (PNATI), para ampliar e universalizar o acesso à água potável em comunidades indígenas assistidas pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS). A meta é alcançar 78% dessa população nos próximos quatro anos.

Atualmente, a Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai) atende cerca de 762 mil indígenas. Desse total, 45% recebem água potável proveniente de infraestrutura com tratamento de água adequado. O objetivo do programa é que, ao longo deste ano, sejam construídos 219 Sistemas de Abastecimento de Água, beneficiando todos os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígena (DSEI) em território nacional. Segundo o governo, nos próximos 20 anos, o objetivo é beneficiar aproximadamente 95% dessa população.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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