Indígenas que estão na linha de frente das denúncias e da operação na terra dos ianomâmis foram incluídos, pelo Ministério dos Direitos Humanos (MDH), em programas de proteção do governo federal. O grupo tinha feito o pedido na semana passada, em reunião entre a equipe da pasta e lideranças nativas, uma vez que desde o início da operação para a expulsão de garimpeiros da reserva, multiplicaram-se as ameaças que habitualmente recebem.
Junior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami, afirma que vem recebendo recados intimidadores passados por diversas pessoas. "Muitas mensagens de ameaças pelo Instagram. Falam que são snipers, que vou morrer, que minha cabeça está desenhada, que estão me procurando. Às vezes, os garimpeiros mandam recado pelos ianomâmis. Não sei como descobriram meu número (de celular), mas me xingam para que pare de denunciar. Recebo muitos recados ameaçadores até do pessoal da cidade, de taxistas e motoristas de Uber", detalhou.
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Uma fonte que participa das ações em Boa Vista, e que conversou com o Correio sob a condição de anonimato, assegurou que o MDH incluiu as lideranças indígenas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas — mas para "para preservar informações e a segurança dos envolvidos" não disse quem são. Também não informou se outros chefes dos povos originários locais serão incluídos.
A fonte ouvida pelo Correio também reforçou que tanto na terra dos ianomâmis quanto na capital de Roraima, o clima é de tensão. "O que se percebe são os poderosos com mais medo. Há muitos comentários de que isso terá impacto na economia", observou.
Segundo essa mesma fonte, "os garimpeiros estão com muita raiva por estarem andando até Boa Vista. É um momento muito tenso, tanto para os ianomâmis, quanto para as lideranças que estão na linha de frente. Estamos sendo ameaçados pelos garimpeiros e, com certeza, pelos empresários. A gente sabe muito bem quem são os financiadores".
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Medo fecha postos de saúde para nativos
A fim de se precaver de represálias dos garimpeiros, foi reforçado o monitoramento policial no Distrito de Saúde Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) e das sedes das organizações indígenas que têm representação em Boa Vista. Mas, mesmo antes da chegada de integrantes do governo federal, o atendimento médico aos ianomâmis funcionava mal por causa dos invasores.
Ao menos sete polos de atendimento aos indígenas estão fechados devido à insegurança causada pela ação de garimpeiros, segundo um relatório da missão exploratória do Ministério da Saúde, que na segunda quinzena de janeiro esteve no território ianomâmi. A demanda de pacientes que seriam atendidos por esses polos sobrecarrega o polo-base Surucucu.
O DSEI-Y atende pouco mais de 31 mil indígenas, distribuídos em 31 polos-bases, que se localizam em 379 aldeias. No relatório, o ministério conta que a missão se deu após, em janeiro, haver denúncia de óbito de três crianças, entre 24 e 27 de dezembro, em detrimento de "falha do serviço de transporte aéreo e impossibilidade de locomoção das crianças" para atendimento. A pasta decidiu fazer a vistoria em Surucucu e Xitei, consideradas "regiões prioritárias" por causa da "proximidade com as comunidades que tiveram seus polos-base e unidades de saúde fechadas devido à insegurança do garimpo ilegal".
A pasta destaca, em nota no site do ministério, que além da insegurança, "os principais problemas encontrados foram estruturas de atendimento em condições precárias, falta de profissionais e uma desassistência generalizada". Funcionários da saúde indígena, que atenderam os ianomâmis, já haviam relatado o medo dos invasores e dos nativos cooptados para trabalhar no garimpo, que têm armas de fogo. "Tem crianças armadas, tem adolescentes armados", afirmam. Na reserva, os profissionais da saúde, por medo, atendem também os garimpeiros, o que agrava a falta de remédios e aumenta a carga de trabalho.
Grupos ligados à mineração ilegal dominam áreas dentro da reserva, incluindo pistas de pouso e até uma unidade de saúde. "Ocorre a troca de remédio por ouro", afirma Junior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami.
Insegurança
De acordo com o ministério, no território da etnia existem 31 polos-base e 37 UBSi (Unidades Básicas de Saúde Indígena). Quando o relatório menciona que não há equipes de saúde em algumas unidades, é porque não havia condições de os profissionais serem enviados de forma segura para essas áreas. Ainda de acordo com a pasta, foi solicitado o reforço na segurança, além das reformas estruturais para a reativação dos polos desativados.
Para esclarecer a situação, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, assim como os responsáveis pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e pelo DSEI-Y no governo Bolsonaro, foram procurados — mas não se obteve resposta. O coronel Robson Santos da Silva, que comandou a Sesai até abril de 2022, disse que "sem uma visão histórica dos fatos, não há uma compreensão da situação". Outras autoridades do DSEI-Y e Sesai não foram localizadas.
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