ARQUITETURA POPULAR

Favorita para prêmio 'Casa do Ano 2023' fica no Aglomerado da Serra, em BH

A Casa do Pomar do Cafezal, no Aglomerado da Serra, em BH, foi escolhida pelo portal ArchDaily, o maior do mundo, para concorrer ao prêmio internacional

Leonardo Godim - Estado de Minas
postado em 09/02/2023 14:05
 (crédito:  Leonardo Finotti/Divulgação)
(crédito: Leonardo Finotti/Divulgação)

Quem olha de longe talvez não perceba que entre as casas da Vila do Pomar do Cafezal, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, esteja uma das concorrentes, e quiçá favorita, do concurso que vai eleger a melhor casa do ano pelo principal portal de arquitetura do mundo.

A “Casa do Pomar do Cafezal”, “Castelinho”, “Bunker”, “Casa do Kdu”, ou – como prefere o dono – “meu barracão”, é a casa do artista belo-horizontino Kdu dos Anjos, de 32 anos. Com 66 m², ela se adapta à arquitetura local apenas de longe. De perto, todos os detalhes foram pensados “minuciosamente”, como diz Kdu.

Tijolos à vista com os clássicos blocos de oito furos, mas na horizontal. Piso de cimento queimado — como na roça ou nas favelas antigamente, ressalta o dono. Janelas grandes, que deslizam e viram portas. Móveis planejados, e muitas plantas.

Nada convencional

Para Kdu, o tipo de casa nada convencional na periferia. “A arquitetura moderna, planejada e benquista, assinada por arquitetos formados, não está presente na periferia. Mas quem constrói tudo são pedreiros periféricos, trabalhadores da construção civil que moram na periferia”, disse, lembrando que as outras vezes que a imprensa o procurou para falar sobre o Pomar do Cafezal, o assunto eram casas que haviam desabado na região.

Segundo Fernando Maculan e Joana Magalhães, os arquitetos que assinaram o projeto, foi usado o repertório construtivo dos mutirões. Muita atenção foi dada ao fluxo de água das chuvas, ventilação e iluminação naturais e controle de temperatura com materiais e vegetação.

Os dois são membros do coletivo Levante, do qual Kdu também faz parte. O grupo tem outros projetos que já foram realizados no bairro, como o Centro Cultural da Favelinha.

Fotografia

Kdu conta que não inscreveu a casa no concurso. Tudo começou um ano depois dela ficar pronta, com um sortudo encontro com o fotógrafo Leonardo Finotti, artista renomado no campo da arquitetura. Leonardo registrou a casa nas suas lentes, as fotos foram para um editorial e o editorial para o e-mail de revistas de arquitetura do Brasil e do mundo – entre elas, a ArchDaily.

Várias gostaram e publicaram as fotos. Então, em 2022, a lista das 10 casas mais curtidas do ano na ArchDaily foi divulgada, e lá estava a Casa do Pomar do Cafezal. Depois, outra lista: a de 10 casas mais interessantes do ano. Foi questão de tempo para que o “barracão” do Kdu fosse selecionado para o concurso.

O dono da Casa do Pomar do Cafezal disse que está otimista. “Os arquitetos são muito anti sociais. Eles ficam postando foto de corrimão, de maçaneta. Eles não tem engajamento que nem nós. Já que Anitta não ganhou o Grammy, vamos ganhar essa”, brincou Kdu. Mas, no fundo, é verdade: ele disse que ficou surpreso com a proporção que a coisa ganhou, com vários veículos procurando-o para entrevistas. Como o concurso é decidido pelo voto no site, o brasileiro é um favorito.

Prêmio

O concurso ‘Building of the Year 2023’, da ArchDaily, tem duas fases: a de nomeação da lista curta, e a votação final. Até o dia 15 de fevereiro, todo usuário cadastrado no site (que é gratuito) pode votar em um projeto.

Em seguida, cinco projetos por categoria vão disputar a final, que vai até o dia 23 de fevereiro, quando será anunciado um vencedor. Junto ao prêmio em formato NFT, a principal gratificação é o reconhecimento por pares internacionais.

O artista

Kdu dos Anjos é cantor, compositor, agitador cultural e empreendedor. Criado no Aglomerado e feliz por hoje morar pertinho da casa dos seus pais, ele diz que não quer sair. O que ele mais gosta no bairro que escolheu para construir sua casa é a efervescência cultural, a familiaridade e a segurança. Ele conta que cresceu conhecendo histórias de grandes artistas que foram obrigados a aceitar subempregos para sobreviver, e acredita no trabalho que hoje faz à frente do Centro Cultural ‘Lá da Favelinha’ como uma forma de transformar isso.

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