Jornal Correio Braziliense

Roraima

Para MPF, governo Bolsonaro abandonou ianomâmis

o MPF apontou descumprimento de ordens judiciais expedidas em ações que tramitam não só no Supremo, mas também no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e na Justiça Federal de Roraima

Ao reforçar, ao Supremo Tribunal Federal, pedido para que sejam retirados os invasores de sete terras indígenas em Roraima, com urgência nas operações de extrusão nos locais ocupados pelos povos ianomâmi, iekuana e outros em situação de isolamento voluntário, o Ministério Público Federal (MPF) ressaltou ter alertado, desde setembro, para problemas nas ações do governo Jair Bolsonaro sobre a proteção dos povos originários.

Segundo a subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, coordenadora da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, perícia entregue à Corte máxima em setembro indicava que ações da gestão de Bolsonaro sobre a desintrusão das terras indígenas "apresentavam incompletude, possuindo efeitos localizados e temporários, que não se mostram suficientes para atender as determinações de retirada dos invasores".

Descumprimento

Três meses depois, o MPF apontou descumprimento de ordens judiciais expedidas em ações que tramitam não só no Supremo, mas também no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e na Justiça Federal de Roraima. Documentos da Polícia Federal (PF) e de procuradores que trabalham na área das sete terras indígenas, também reforçaram o não cumprimento integral da desintrusão ordenada pelo STF.

O Supremo investigará se o governo Bolsonaro descumpriu decisões judiciais e repassou informações falsas sobre a situação do povo ianomâmi. Em comunicado divulgado na quinta-feira, o gabinete do ministro Luís Roberto Barroso afirmou que as operações colocadas em prática pela União não seguiram o planejamento aprovado pelo STF e ocorreram com "deficiências".

Perícia divulgada no fim do ano passado, nos autos da Petição 9.585, concluiu que os objetivos fixados no Plano Operacional de Atuação Integrada — Terra Indígena Yanomami e no Plano Operacional 7 Tis não haviam sido atingidos. Também constatou o descumprimento de ordens judiciais expedidas pelo STF, Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e Justiça Federal em Roraima.

O texto endereçado a Barroso foi assinado na quinta-feira. O documento foi levado ao STF no bojo da ação que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pediu a "desintrusão completa e imediata" das terras indígenas caripuna, uru-eu-wau-wau, caiapó, araribóia, mundurucu e trincheira bacajá, além da ianomâmi.