Davi Kopenawa culpa Bolsonaro pela tragédia humanitária em Terra Yanomami

Para o líder indígena, ex-presidente Jair Bolsonaro é responsável pelo genocídio da etnia

Reprodução/Urihi Associação Yanomami

A tragédia humanitária que atinge a comunidade Yanomami teve escalada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com a explosão do garimpo. É o que garante o líder da etnia, Davi Kopenawa, 66 anos. Estima-se que, nos últimos anos, de 20 a 30 mil garimpeiros invadiram o Território Yanomami, que tem uma população de 30.400 indígenas e 386 comunidades.

Kopenawa afirmou que o número de invasões à Terra Indígena Yanomami começou a aumentar justamente em 2020. Ainda segundo ele, a responsabilidade da situação é do Estado brasileiro, que, durante os quatro anos de governo Bolsonaro, negligenciou o dever de proteger as áreas de proteção. 

“A associação Hutukara fazia documentos avisando sobre o aumento de garimpeiros, aumentou muito. A gente pedia para a Funai, para retirarem eles da Terra Yanomami, mas não fizeram nada. E aumentou ainda mais”, disse Kopenawa à Folha de S.Paulo.

Para o líder indígena, o ex-chefe do Executivo é o grande responsável pelas mortes que se acumulam na comunidade. “Quem matou o meu parente, meus irmãos, minha família, foi o presidente Bolsonaro. Nos quatro anos que ele ficou junto com os garimpeiros levou doença, gripe, disenteria, verminose e outras doenças. Foi ele quem matou. Ele matou e foi embora. Se não tivesse matado, estavam aqui junto com nós.”

Desnutrição e malária

Segundo a professora do departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, Silvia Guimarães, especialista em Saúde Indígena, o descaso da gestão do ex-presidente e a liberação do garimpo ilegal na área indígena cooperaram para o quadro atual de desnutrição e da malária, já que o povo Yanomami vive majoritariamente da soberania alimentar.

“Muitas bases de proteção da Funai foram fechadas e a presença dos garimpeiros produziu adoecimento nos indígenas, violações, estupros, cooptação de jovens para trabalhar no garimpo. Ou seja, houve toda uma desestruturação do tecido da vida social de um povo que vive pela soberania alimentar. Então, a presença dos garimpeiros levou muitas doenças e agravou o quadro da malária, além disso, teve uma fragilização dos serviços de saúde.”

“Os yanomamis nunca morreram de fome. Estou aqui, tenho 66 anos e, quando era pequeno, ninguém morria de fome. Agora, o garimpo está matando o meu povo e também os parentes Munduruku e Caiapó. Quando os indígenas ficam doentes, eles não conseguem trabalhar [na roça] ou caçar", destacou o líder indígena Kopenawa.

Caminho da morte

Uma das rotas mais acessadas por garimpeiros para invadir a Terra Indígena Yanomami (TIY) fica próxima ao 4° Pelotão Especial de Fronteira do Exército (PEF), de Surucucu, comunidade da etnia onde foi registrado o maior número de pessoas desnutridas e crianças mortas. Procuradores da República, do Ministério Público Federal de Roraima, explicaram que o caminho já era conhecido e acusaram o Ministério da Defesa de Bolsonaro e as Forças Armadas de omissão no combate aos invasores.

Segundo a Folha, os relatório da Funai feitos no início do governo Bolsonaro apontam que membros do Exército mantinham diálogo via aplicativo de conversas com garimpeiros para facilitar o fluxo de informações sobre possíveis fiscalizações e ações que seriam realizadas na região da TIY.

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro