A União dos Povos do Javari (Unijava), entidade na qual o indigenista assassinado Bruno Araújo realizava um trabalho de defesa do território no Vale do Javari, disse ao Correio que a conclusão anunciada, nesta segunda-feira (23/1), pela Polícia Federal (PF) do Amazonas é “tímida” diante do tamanho da organização criminosa que atua na região.
“Entendemos que a PF está entregando um produto em face do processo. Está super avançado, traz, em um primeiro momento, algo que já havíamos dito, quem é o mandante. Mas somente isso não elucida, porque indicamos a entrada do mundo político, que ainda não foi respondida. Há muitas perguntas sem resposta e as incertezas permanecem”, reforçou Eliésio Marubo, assessor jurídico da entidade.
Ele relembrou um episódio de ameaça, feito em novembro do ano passado, ao povo Kanamari, sobretudo a uma indígena que estava com o grupo. Eles pescavam na região do lago apelidado de Volta do Bindá, no rio Itacoaí, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari — o local fica há seis horas da comunidade de Cachoeira, onde assassinaram Bruno Pereira e Dom Phillips — quando foram abordados por três pescadores armados.
A indígena, ameaçada com uma arma no peito, disse ao site Amazônia Real que o homem mencionou que ela teria o mesmo fim dos dois ativistas.
“A frase que ele usou quando colocou a arma de fogo em mim foi: ‘'você já estava na lista. Só que não tinha certeza, mas agora tenho certeza. A partir de agora, quando eu chegar em Atalaia você não vai escapar. Vamos te matar como aconteceu com o Bruno e o outro’. Ele me disse isso, na frente da minha filha pequena”, relatou na entrevista.
Eliésio, que desde a exposição por causa do episódio de violência com Bruno e Dom se mudou para Brasília por segurança, junto com Beto Marubo, diz que o acontecimento com os Kanamari é uma evidência de que apenas uma parte do grupo criminoso foi preso.
“Uma parte do bando foi preso, mas a outra não. Isso é preocupante porque esperávamos uma resposta sobre isso das autoridades, mas ainda não tivemos. Esse é um dos fatos que corrobora com uma situação de ameaça independente de quem foi preso. Há um grupo maior e estão em liberdade”, diz Marubo.
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