Jornal Correio Braziliense

TERRITÓRIO IANOMÂMI

Governo vai acelerar contratação de médicos para trabalhar em território ianomâmi

Ministério da Saúde anuncia que vai acelerar o recrutamento de profissionais para trabalhar na região. Medida vem um dia após a pasta declarar situação de emergência. Deputados acionam o MPF

O Ministério da Saúde anunciou, ontem, a abertura de edital do Programa Mais Médicos para que os profissionais de saúde atuem de forma permanente nos postos de saúde da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A decisão foi tomada pela Sala de Situação, criada pela pasta na última sexta-feira (20) e coordenada pela Secretaria Especial de Saúde e Atenção Indígena (Sesai), para dar celeridade ao processo em função da crise sanitária que se estabeleceu entre o povo ianomâmi e do preenchimento total das vagas para os Distritos Sanitários Indígenas (Dsei), que têm 37 Polos Base.

"A Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) está garantindo recursos para um edital em andamento, em que há 77 médicos alocados em Dsei. O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami é um dos que mais carece de profissionais entre os territórios, com apenas 5% das vagas ocupadas", explicou o secretário de Atenção Primária à Saúde, Nésio Fernandes, por meio de nota à imprensa.

A ideia é de que a prioridade seja para os profissionais brasileiros que se inscreverem. As vagas remanescentes vão para os nacionais formados no exterior e, por último, se ainda houver, poderão ser ocupadas pelos estrangeiros que vierem a se candidatar.

"Tínhamos um edital só para brasileiros. Só em seguida que faríamos um edital para brasileiros formados no exterior e, depois, para estrangeiros. Frente à necessidade de levarmos assistência à população dos distritos indígenas, especialmente aos ianomâmi, queremos fazer um edital em que todos se inscrevam de uma única vez", explicou o secretário.

Força Nacional

O ministério também divulgou um formulário para voluntários que tenham interesse em fazer parte da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem enviado equipes para trabalhar nos atendimentos tanto em Boa Vista quanto em Surucucu, no município de Alto Alegre, ao Norte de Roraima. As áreas são diversas, sobretudo na saúde. Entre elas, estão enfermagem, nutrição, psicologia, biomedicina e assistência social.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anunciou um pacote de ações para tornar o governo federal mais presente na região, compartilhou a informação. "Ajude a compartilhar. O Brasil é o país da solidariedade e esperança", pediu Lula nas redes sociais.

A Força Nacional do SUS é um programa de cooperação voltado a "medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população quando for esgotada a capacidade de resposta do estado ou município."

 

Depoimento

Desumana realidade

"A situação de risco vivida ao longo das últimas décadas pelo povo Yanomami, em decorrência principalmente da ação do garimpo ilegal e suas terríveis consequências sobre a vida de uma população originária da floresta, chegou finalmente ao seu limite.

Depois de insistentemente denunciada por organizações nacionais e internacionais e repercutida pela mídia, a triste e desumana realidade do povo Yanomami é agora exibida ao mundo por meio de fotografias macabras, que lembram algumas das tragédias mais assustadoras da história da humanidade.

A nós, brasileiros, causa um sentimento misto de indignação e vergonha.

A nós, pesquisadores do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da UnB, à repulsa soma-se a energia redobrada para fazer avançar ações imperativas contra tudo e todos que financiam e estimulam o genocídio dos povos originários do Brasil. Seja nos Yanomami, seja em outras áreas também ameaçadas.

Se prova urgente a reparação de todos os malefícios que têm afetado esse povo fisicamente, psicologicamente, social e culturalmente! Que os Yanomami possam recobrar a sua dignidade. Que todas as ações em prol de sua vida digna se multipliquem em defesa da existência de todos os povos de nossas florestas."

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, professora da UnB