Mensagens divulgadas nas redes sociais por colegas e supostas vítimas de Alice Dudy Muller Veiga, 25 anos, revelam que a estudante — acusada de desviar R$ 927 mil do fundo de formatura dos estudantes de medicina da Universidade de São Paulo — teria caído, na verdade, caído em um golpe ao investir parte do valor — sendo que o restante havia sido utilizado na tentativa de resgatar a quantia investida.
No texto que Alice enviou aos colegas em um grupo de WhatsApp da comissão organizadora da formatura, ela relata que todo o dinheiro teria sido perdido: “Nosso dinheiro foi todo repassado para a Sentinel Bank, uma investidora que, no fim das contas, não se passava de um grande golpe e nunca mais retornou nem com o dinheiro investido, nem com os rendimentos", diz. A estudante ainda afirmou que sente "dor, culpa e arrependimento".
O golpe da formatura
Segundo acusações da turma, a colega teria desviado R$ 927 mil. Para a Comissão de Formatura, afirmou que havia transferido a quantia para uma conta pessoal e teria aplicado o valor de R$ 800 mil em uma corretora de investimentos chamada Sentinel Bank, que a teria enganado.
Alice disse ainda que a quantia restante teria sido utilizada para pagar advogados na tentativa de “recuperar os investimentos”. No dia 6 de janeiro deste ano, a Comissão constatou o desvio e no dia 10 uma das vítimas registrou a ocorrência na delegacia.
Em nota, a Comissão declarou que: "De toda a história contada pela (Alice), o único fato que temos certeza é a transferência do montante guardado sob custódia da empresa ÁS Formaturas para uma conta pessoal dela. Ainda estamos averiguando em que contexto foram realizadas as transferências".
A empresa ÁS Formaturas se manifestou e disse que "todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais" e que estão à disposição das autoridades para o fornecimento de documentos.
A Faculdade de Medicina da USP afirmou em nota que "os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos".
Segundo informações da Agência Estado, Alice já é investigada por lavagem de dinheiro e estelionato em uma lotérica na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Em julho do ano passado, foi aberto um boletim de ocorrência contra ela no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de São Bernardo do Campo.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, uma representante da lotérica compareceu ao Deic e relatou que a mulher, que não teve o nome revelado, vinha realizando apostas em valores altos diariamente, sempre pagos por meio de transferência via Pix.
No dia 12 de julho, no entanto, "a mulher teria deixado um prejuízo de R$ 192.908,47, após ter feito o agendamento do valor via Pix, sem pagar efetivamente pelas apostas que realizou". O caso foi registrado como lavagem de dinheiro e estelionato e é investigado pelo Deic.
O Correio tenta contato com Alice Veiga para conceder um possível direito de resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
Confira o que dizem as partes envolvidas:
Nota da Comissão de formatura
"A Associação de Formatura da 106a Turma do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo informa que, no dia 6 de janeiro de 2023, teve conhecimento de que a então Presidente desta comissão retirou, sem o conhecimento e consentimento de qualquer outro membro da comissão, um montante totalizando aproximadamente 927.000,00 reais. A atitude isolada não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta Comissão e os mais de 110 alunos aderidos, vítimas dessa conduta.
Ressalta-se o entendimento desta comissão de que a [suspeita] descumpriu nosso Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua. Na data do 6 de janeiro de 2023 a Comissão da Turma 106 tomou conhecimento dos fatos por meio de uma mensagem de WhatsApp em que a [suspeita] confessava as transferências para uma conta pessoal sua. Ela alega ter perdido cerca de 800,000.00 reais investindo em um esquema supostamente fraudulento da empresa “Sentinel Bank”. O restante, confessa ter utilizado para, em cunho pessoal, contratar advogados para tentar reaver o dinheiro perdido. O montante de cerca de 927.000,00 foi arrecadado durante 4 anos pela empresa ÁS Formaturas.
De toda a história contada pela [suspeita], o único fato que temos certeza é a transferência do montante guardado sob custódia da empresa ÁS Formaturas para uma conta pessoal dela. Ainda estamos averiguando em que contexto foram realizadas as transferências".
Nota da Faculdade de Medicina da USP
"A Diretoria da Faculdade de Medicina foi informada que a Comissão de Formatura e, portanto, os alunos aderentes à formatura da Turma 106ª, foram vítimas de fraude após investimento do recurso arrecadado para organização das festividades de celebração, que ocorrerá ao final de 2023.
Os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos".
Nota da ÁS Formaturas
"Com relação ao caso da MED USP 106, é necessário destacar que a ÁS não se comprometeu com a realização ou produção de qualquer evento. A responsabilidade da ÁS no contrato limitava-se a arrecadar os valores dos formandos e transferir para a turma, além da realização da cobertura fotográfica. Neste sentido, todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais.
Estamos à disposição das autoridades para o fornecimento de contratos, documentos, e-mails e demais informações. Finalmente, gostaríamos de informar que mesmo estando isento de responsabilidades legais, estamos em contato com a comissão de formatura para buscar algum tipo de solução que viabilize a realização do evento planejado".
*Com informações da Agência Estado
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