Povo Ianomami

Garimpo ilegal cresceu 54% na Terra Yanomami apenas em 2022

As maiores concentrações de destruição estão nos rios Uraricoera e Mucajaí, região central, que concentram 40% do impacto, com cerca de 2 mil hectares devastados

Jéssica Andrade
postado em 30/01/2023 12:33
Área devastada explodiu 309% desde 2018, quando a associação Yanomami começou a monitorar os efeitos do garimpo -  (crédito: Hutukara/Isa/Divulgação)
Área devastada explodiu 309% desde 2018, quando a associação Yanomami começou a monitorar os efeitos do garimpo - (crédito: Hutukara/Isa/Divulgação)

A tragédia humanitária que atinge a comunidade Ianomami teve escalada com a explosão do garimpo ilegal na região, que cresceu 54% apenas em 2022. No último ano, 1.782 hectares da Terra Indígena Yanomami foi devastada pela exploração das terras. As informações são da Hutukara Associação Yanomami (HAY), que monitora as regiões afetadas por meio de satélites.

O monitoramento aponta o crescimento acumulado da área devastada pelo garimpo em 309% entre outubro de 2018 e dezembro de 2022. O período corresponde à gestão Bolsonaro no governo federal. De acordo com o líder da etnia, Davi Kopenawa, durante o governo do ex-presidente, cerca de 20 a 30 mil garimpeiros invadiram o Território Yanomami, que tem uma população de 30.400 indígenas e 386 comunidades.

Nos últimos quatro anos, foram mais 3.817 hectares destruídos na maior terra indígena do país, atingindo um total de 5.053 hectares. Quando a Hutukara começou a monitorar os efeitos do garimpo, em outubro de 2018, havia 1.236 hectares devastados. Em 2021, o desmatamento chegou a 3.272 hectares. Os dados foram publicados no relatório Yanomami Sob Ataque: garimpo na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo.

O monitoramento do garimpo ilegal nas terras ianomamis é feito com imagens de satélites de alta resolução espacial, capazes de detectar com precisão e mais frequência de vigilância áreas muitas vezes não capturadas por outros satélites. As atualizações são registradas duas vezes por mês.

De acordo com o relatório, as áreas mais devastadas estão entre os rios Uraricoera e Mucajaí, na região central da Terra Indígena Yanomami. No Uraricoera o percentual de destruição é de 40%, com cerca de 2 mil hectares devastados. Enquanto no rio Mucajaí, o impacto é de 20%, com cerca de mil hectares.

O geógrafo Estêvão Benfica, assessor do Instituto Socioambiental (ISA) explicou ao Instituto Socioambiental que os impactos do garimpo vão além destes observados no satélite, que é focado no desmatamento.

“Eles também afetam as disseminações de doenças, deterioração no quadro de saúde das comunidades, produção de conflitos intercomunitários, aumento de casos de violência e diminuição da qualidade de água da população com destruição dos corpos hídricos. Tudo isso somado compromete a capacidade de viver nas comunidades”, afirma Benfica.

Ainda segundo o geógrafo, a movimentação dos garimpeiros de uma área para outra é um fator que resulta na proliferação de doenças. “Os invasores chegam a levar novas cepas de malária de uma região para outra, por exemplo”.

Os casos de malária também deram um salto na Terra Indígena Yanomami, no período entre 2020 e 2021, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com o Sivep Malária, mais de 40 mil casos de malária foram registrados na região neste período. Em 2021, foram 21.883 casos, o maior registro desde 2003. O aumento da doença coincide com o aumento do garimpo na área.

 

Na coluna da esquerda, número de casos de malária; na coluna da direita, desmatamento em hectares, segundo monitoramento do Mapbiomas
Na coluna da esquerda, número de casos de malária; na coluna da direita, desmatamento em hectares, segundo monitoramento do Mapbiomas (foto: Reprodução/Mapbiomas e Sivep Malária)

Emergência de saúde pública

Na sexta-feira (20/1), o Ministério da Saúde declarou estado de emergência de saúde pública em todo o território indígena Yanomami. só em 2022, 99 crianças do povo morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região, segundo divulgado pelo Ministério dos Povos Indígenas. As vítimas foram crianças entre um a 4 anos.

No sábado (20/1), o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esteve em Roraima, acompanhado de ministros, para ver de perto a situação dos indígenas. Lula instituiu o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami. O objetivo do grupo é discutir as medidas a serem adotadas e auxiliar na articulação interpoderes e interfederativa.

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