As imagens dos indígenas yanomamis doentes e desnutridos revelam a desumanidade imposta àquele povo. E a repercussão nacional e internacional dos registros deve-se, em grande medida, a um trabalho rigoroso e ético realizado por uma equipe de jornalistas do site Sumaúma. A reportagem “Não estamos conseguindo contar os corpos”, produzida na Amazônia, mostra a dimensão da tragédia que não estávamos enxergando.
Assinada por Ana Maria Machado, Talita Bedinelli e Eliane Brum, a reportagem, publicada em 20 de janeiro último, trouxe um número estarrecedor: 570 crianças yanomamis mortas nos últimos quatro anos devido a doenças que têm tratamento. As fotografias, feitas pelos próprios indígenas e por profissionais da saúde, também causaram tristeza e indignação. “Algumas das imagens mais chocantes não foram liberadas por afrontar a cultura yanomami ou por colocar em risco de morte o autor das fotos. Imagens são um tema difícil para os yanomamis. As lideranças que aceitaram a divulgação das fotografias só tomaram essa decisão porque estão desesperadas. Em uma delas, foi a própria liderança quem pediu que uma foto fosse tirada para ser levada ao mundo. Essa atitude, tão rara para um yanomami, dá uma medida do terror de ver crianças e velhos tombarem dia após dia”, narra a reportagem.
Em entrevista ao Pensar, Eliane Brum descortinou os bastidores da reportagem e contextualizou a tragédia vivenciada pelos yanomamis depois que a maior reserva indígena do Brasil foi invadida por garimpeiros, provocando danos às matas e aos rios e comprometendo o modo de vida desse povo.
Com 30 anos de carreira, Eliane é uma das jornalistas mais premiadas do Brasil e referência obrigatória para as novas gerações de repórteres. Em 2021, sua obra jornalística recebeu o prêmio Maria Moors Cabot, o mais importante das Américas o que dá ideia da importância de seu trabalho e de seu compromisso com os fatos e com as pessoas retratadas em suas reportagens.
Nascida em Ijuí (RS), em 1966, Eliane Brum mora na cidade paraense de Altamira desde 2017. Deixou São Paulo para mergulhar em uma nova fase da trajetória profissional e da vida pessoal, uma mudança que coaduna com o entendimento de que a questão climática é essencial para a permanência da humanidade na Terra. “Mudar para a Amazônia me desestruturou. E quando alguém se desestrutura é porque aquela estrutura à qual se filiava já tinha se tornado insuportável, às vezes a gente nem entende por quê”, conta no livro “Banzeiro Òkòtó – Uma viagem à Amazônia centro do mundo”, mistura de relato pessoal e investigação jornalística, que lançou em 2021, o mesmo ano de uma perda inestimável.
Companheiro de trabalho de Eliane nos últimos anos, o fotógrafo Lilo Clareto morreu em decorrência da COVID-19. Deixou um legado de registros de violações ambientais e humanas na maior floresta tropical do mundo. “Nosso Lilo, meu Lilo, virou árvore, virou rio, virou floresta. Virou luz e virou chuva. Virou vaga-lume, borboleta amarela na terra do Meio”, escreveu Eliane na época, quando era repórter e colunista do El País. A imagem da capa de “Banzeiro Òkòtó” é do fotógrafo, lembrado também na dedicatória: “Para Lilo Clareto, que se encantou em onça”.
Eliane Brum ajudou a criar, no ano passado, o projeto que pega o nome emprestado da frondosa árvore da Amazônia para o empreendimento jornalístico: Sumaúma – jornalismo do centro do mundo. E foi uma reportagem do Sumaúma que ajudou a abrir os olhos dos brasileiros para a tragédia vivida pelos yanomamis. Ao lado, uma entrevista com Eliane Brum sobre o seu trabalho.
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Como foi o trabalho de reportagem que chegou ao número de óbitos e as imagens que vocês divulgaram e provocaram repercussão mundial?
Sumaúma foi lançado em 13 de setembro de 2022 e a reportagem de estreia era uma matéria sobre o colapso humanitário na terra indígena yanomami, principalmente causado pela invasão de milhares de garimpeiros ilegais. Nós escolhemos dar essa matéria de estreia, que foi um grande investimento de uma plataforma que estava no seu início, porque a gente entendia que era a situação mais séria no Brasil. Contamos essa situação pelo ponto de vista das mulheres yanomamis, que eram e ainda são as mais invisibilizadas. Então, naquele momento, ainda no governo Bolsonaro, a gente conseguiu os dados por meio da Lei de Acesso à Informação. E os números já eram alarmantes: o salto da malária, por exemplo, de 2.928 casos em 2014 para 20.394 em 2021.
Nos primeiros 5 meses de 2022, 46 crianças com menos de 5 anos já haviam perdido a vida e isso a gente sabia que era por causas evitáveis e a gente sabia que havia uma subnotificação por causa de um apagão estatístico. Se não tem profissionais para contabilizar os dados, então os dados não são realistas e, também, mesmo com essa subnotificação, mais de 50% dos das crianças yanomamis, com menos de 5 anos, estavam desnutridas.
Também relatamos naquele momento que os postos de saúde que funcionam dentro do território foram fechados 13 vezes por conta das ações de garimpeiros, deixando os indígenas sem atendimento médico e, desde então, a gente acompanha a situação dos yanomamis. No começo de dezembro, a gente começou a receber fotos de fontes de liderança de profissionais de saúde que atuam dentro do território, fotos dramáticas de crianças, velhos e mulheres completamente subnutridos, mal parando em pé. Eram fotos terríveis. E aí a gente sabe que, para os yanomamis, a questão da imagem é muito séria. A fotografia faz parte da pessoa, do que cada um é. Quando um bebê, uma pessoa velha, uma pessoa doente é fotografada, isso fragiliza ainda mais quem já está numa condição de grande vulnerabilidade.
As consequências dentro da cultura deles para isso podem ser muito graves, a pessoa pode acabar indo para o mundo dos mortos. Então, a gente sabia que não podia simplesmente jogar essas fotos na internet sem autorização da liderança, sem saber, sem conversar, sem entender e acertar junto com eles quais fotos poderiam ser publicadas.
Algumas das piores fotos não foram publicadas exatamente pela situação de imensa vulnerabilidade das pessoas, o que tornaria tudo mais arriscado para eles. Por isso as imagens de todas as pessoas, adultos ou crianças, aparecem borradas. Isso foi acordado. Claro que foi uma conversa longa, com idas e vindas, e com diferentes associações e lideranças que pensam de forma diferente. Mas a gente entendeu que não poderia fazer de outra forma. Enquanto isso, fomos entrevistando algumas pessoas em off. Sabíamos que essas pessoas poderiam ser mortas, já que várias áreas do territórios são dominadas pelo garimpo e parte desse garimpo é dominado pelo crime organizado, muito diferente do que foi no passado, com o uso evidente de armas pesadas.
Conversamos também com agentes do Censo, que estavam lá dentro, e profissionais de saúde, que também poderiam perder o emprego no governo anterior. No meio do processo, em dezembro, essas fotos vazaram pela internet e algumas matérias foram feitas com essas fotos. A gente pensou que deveria seguir fazendo o nosso trabalho do jeito que a gente acredita que deve ser feito. Foi o que fizemos.
Somos uma equipe pequena, mas bem experiente. Alguns de nós têm mais de 30 anos de experiência no jornalismo fazendo reportagem na Amazônia. Então seguimos. E aí, finalmente, quando a gente tinha um número de relatos consistentes, sólido, robusto, e as fotos bem decididas de como poderiam ser publicadas, entramos em contato com o Ministério da Saúde. Pedimos os dados de 2022, porque para os outros anos já tínhamos pela Lei de Acesso à Informação. E aí foi bem demorado. Depois de muita pressão, conseguimos os dados em 18 de janeiro. O ministério explicou que, nesta gestão, pauta a relação com a imprensa pela transparência e resposta imediata para os dados. Mas eles tiveram dificuldades por conta do período de transição. Então, finalmente, com os dados de 2022 na mão, a Talita Bedinelli, que trabalha com jornalismo de dados e com DataSUS há quase 20 anos, fez a tabulação e trabalhou com os dados. No dia 19, a gente teve os dados de 570 crianças com menos de 5 anos mortas por doenças que têm tratamento. Ou seja, se a Constituição tivesse sido cumprida, se essas crianças tivessem assistência de saúde e os direitos garantidos pelo governo passado, elas estariam vivas: um aumento de 29% comparado aos governos anteriores. Finalmente, a gente tinha um número que, apesar de terrível – 570 crianças mortas – ainda é subnotificado, porque havia um apagão estatístico. Esses dados não eram contabilizados pelos governos passados ou eram parcialmente contabilizados. Esse número de mortes é provavelmente bem maior, o que é absolutamente estarrecedor. Com o número sólido e com o arcabouço de fotos autorizadas, a gente publicou a matéria em 20 de janeiro. Essa é a história dessa reportagem.
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Na reportagem, vocês enfatizam que lideranças indígenas autorizaram a publicação das fotos devido à urgência da situação. Dentro da cultura yanomami, o que representa a divulgação das imagens?
Na cultura yanomami, e isso eu aprendi com os antropólogos e bem diretamente com Ana Maria Machado, uma das autoras da matéria, com experiência de 15 anos com os yanomamis. Ela é também tradutora do yanomã, uma das línguas yanomamis, e indigenista. A gente procura trabalhar sempre fazendo as matérias com uma tradutora profissional para entender exatamente o que eles estão dizendo, porque as palavras são muito importantes e também. Com as palavras vem uma cultura muito diferente da nossa e que precisamos respeitar quando fazemos uma reportagem. Então, o que eu aprendi com a Ana é que a imagem capturada numa fotografia é um dos componentes da pessoa. Não é a fotografia que é um dos componentes da pessoa. É a imagem capturada na fotografia. Então, quando um bebê, uma pessoa velha, uma pessoa doente é fotografada, isso fragiliza ainda mais quem já está numa condição de fragilidade, e as consequências podem ser graves, já que por ter sido fotografada e filmada, a pessoa pode acabar indo para o mundo dos mortos. Então, jogar simplesmente as fotos numa reportagem, mesmo que a intenção seja denunciar uma violação absoluta de direitos, se a gente não tiver cuidado pode se tornar mais uma violação. Quando um yanomami morre, tudo o que é parte dele, os seus pertences, o próprio corpo, é queimado num longo ritual muito particular, muito bonito. Tudo dele precisa desaparecer. Como retirar da internet uma fotografia que, no entendimento deles, capturou a imagem deles, ou seja, capturou uma parte deles? Isso é muito sério. A gente precisa ter muito cuidado. O fato de as lideranças autorizarem a publicação – e houve até um caso em que a própria liderança pediu que a foto fosse feita – mostra o total e absoluto desespero dessas lideranças de testemunhar, dia após dia, o seu povo morrer. Porque é muito arriscado, muito grave ter essas imagens, essas fotografias e essas filmagens circulando pela internet. Mesmo como a gente fez, borrando o rosto.
Em uma série de postagens nas redes sociais, a ex-ministra Damares Alves afirmou que não houve omissão do governo federal nos últimos quatro anos, criticou a imprensa e questionou a política do isolamento imposta, segundo ela, a algumas comunidades. Como analisa a reação de Damares?
A ex-ministra Damares Alves, atual senadora, é uma mentirosa. Ela mentiu várias vezes durante o tempo em que esteve à frente do ministério e mente mais uma vez, como foi a prática do governo Bolsonaro. Quando a realidade não lhes convém, eles negam a realidade e mentem. Só que a realidade é a realidade. Se não houve omissão, vai ser preciso explicar como 570 crianças com menos de 5 anos morreram em 4 anos, como aumentou 29% em comparação ao governo anterior, como há milhares de garimpeiros ilegais dentro do território yanomami, como houve um apagão da saúde, um apagão estatístico, como essas pessoas estão morrendo de fome e de doenças. Crianças, adultos, homens e algumas mulheres grávidas, eles estão aí; o mundo está vendo. Eu só espero que as instituições brasileiras sejam fortes e sólidas o suficiente para que a ex-ministra Damares Alves, atual senadora, responda finalmente por suas mentiras. Como é uma pessoa com cargo público, suas mentiras têm uma consequência ainda maior, porque a sua responsabilidade também é pública.
O ministro Flávio Dino determinou abertura de inquérito por “indícios de genocídio”, o que foi feito na última quarta-feira pela Polícia Federal. Pelo que você observou e apurou, é possível falar em genocídio?
Sim. A nossa investigação jornalística, assim como outras investigações jornalísticas na terra indígena yanomami, mostra claramente que há indícios de genocídio. Quando a gente mostra que 570 crianças com menos de 5 anos foram mortas por causas que poderiam ser evitáveis, ou seja, se tivessem tido acesso a tratamentos, se a Constituição tivesse sido cumprida, essas crianças hoje estariam brincando, estariam vivas, estariam existindo. Isso é genocídio. Não foi o primeiro ato genocida do governo Bolsonaro. Há várias comunicações do Tribunal Penal Internacional mostrando atos deliberados e negligência de Bolsonaro, especialmente contra os indígenas. O que se espera é que Bolsonaro, finalmente, responda pelos seus atos, dentro do país, porque há lei para isso. É fundamental porque a justiça é fundamental. E parte do que tornou possível a eleição de um extremista com o Bolsonaro, que quando era militar planejou um ataque terrorista, e mesmo assim chegou à Presidência da República, é porque nunca foi punido, não precisou responder pelos seus atos. Isso também será fundamental para a reconstrução de nossa democracia. E, pelo nosso próprio futuro, a punição precisa ser exemplar.
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Como é possível, de imediato e de forma efetiva, ajudar os yanomamis para impedir mais mortes?
Neste momento, é uma situação totalmente emergencial, que o governo está enfrentando de forma correta. Acabei de ver a informação de um aumento de inscrições de voluntários para as forças do SUS de 700%, o que mostra como grande parte dos brasileiros estavam ansiosos por finalmente ser uma comunidade, agir a favor do país, depois de quatro anos de um governo que agia contra o país. Então, esse engajamento é incrível. Isso mostra que a gente pode reconstruir o Brasil. Neste momento, é preciso atendimento à saúde porque a situação é de catástrofe humanitária. As pessoas estão morrendo de fome em áreas de difícil acesso. Mas não basta chegarem as cestas básicas como as que chegam na periferia de Belo Horizonte, Rio ou São Paulo. Os yanomamis são um povo muito particular, com alimentação própria. Precisa ser uma cesta básica que seja adaptada àquilo que eles comem. Em casos de desnutrição grave, caso de muitas pessoas, não é simples. É muito difícil reverter uma situação de desnutrição severa. Então, é uma ação emergencial na área de saúde numa região de difícil acesso, que precisa de muito recurso financeiro, muitos recursos humanos, muito respeito à cultura, muito trabalho com as associações e lideranças, muito conhecimento de quem realmente conviveu e pesquisou esse povo e sua cultura durante décadas. Também é preciso a imediata a expulsão do garimpo ilegal, do crime organizado. E de forma efetiva. Porque a expulsão já aconteceu outras vezes e eles voltam. São milhares de pessoas, muitos trabalhando numa situação análoga à escravidão. Se essas pessoas não tiverem alternativa, vão voltar. Trabalhar com as comunidades que, de forma acelerada, tiveram sua cultura completamente transtornada; pararam de fazer suas roças, já não podem pescar porque os rios estão contaminados por mercúrio, não tem mais animais de caça, porque a caça fugiu ou também morreu nas condições de deterioração ambientais produzidas pelo garimpo. Então, é uma ação que parte da emergência e precisa se tornar permanente, efetiva. E só pode ser feita se for construído – isso é muito importante – se for construído com as comunidades yanomamis, com os diferentes povos yanomamis, com as lideranças e associações. Se não for construído com eles não terá efetividade.
No mesmo dia em que foram divulgadas as imagens, começou a surgir uma onda de fake news com desinformação, afirmando que os indígenas que aparecem desnutridos nas fotos, por exemplo, são todos venezuelanos. Como enfrentar essa estratégia de desinformação?
Nós vivemos no Brasil quatro anos com um presidente de extrema-direita que mentia todos os dias e várias vezes por dia. Chegou a mentir na ONU com as imagens da floresta queimando para todo mundo ver que não havia incêndios na Amazônia. Ele governava a partir de mentiras. E seguiu fazendo isso, tanto que negou o resultado das eleições, e como os golpistas foram tolerados em frente aos quartéis do Exército, chegou-se a uma tentativa de golpe, algo que não acontecia desde 1964, em 8 de janeiro deste ano. Ou seja, a gente vive, há vários anos, submetida a fake news, às mentiras. É uma estratégia de controle do poder. Só que esse é um outro momento do país. Esse é o momento em que é preciso que as pessoas públicas que mentem respondam pelas suas mentiras, conforme a legislação prevista no Brasil, dentro do rito democrático. E como a gente enfrenta isso? Com os fatos. As pessoas podem negar a realidade, mas a realidade se impõe e nós podemos testemunhar. E a realidade nesse momento são indígenas que mal param em pé, indígenas yanomamis que mal param em pé e um número assombroso de mortes. E a imprensa tem um papel muito importante nesse restabelecimento da verdade, da palavra que representa aquilo que é. A imprensa trabalha com o respeito aos fatos e a coragem de contá-los. A gente checa, investiga, documenta. Esse é o nosso papel.
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Sumaúma faz um trabalho de fundamental importância, baseado na Amazônia. Sabemos o alto risco aos jornalistas. Vocês já sofreram algum tipo de ameaça? O que destaca de mais importante no seu trabalho?
Criamos o Sumaúma porque a gente acredita que, neste momento de crise climática, de extinção em massa de espécies, ambas produzidas por humanos, a gente precisa deslocar o que é centro e o que é periferia. O centro do mundo é onde está a vida: são as florestas tropicais, como a Amazônia, são os oceanos, os outros biomas. Os centros são onde está a vida, e não onde estão os mercados. Trabalhar baseada de Altamira, um dos epicentros da violência, do desmatamento contra a floresta, mas também da resistência, significa enfrentar várias forças poderosas. Então, trabalhamos com riscos. É importante deixar claro que os riscos que a gente corre como jornalistas são muito menores do que os enfrentados pelas pessoas cujas histórias a gente conta, as que estão na linha de frente nessa luta na floresta, como os próprios indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e os camponeses. Então, neste momento, mesmo com a troca de governo, tenho amigos que estão em refúgios; ou seja, escondidos, exilados dentro do próprio país. Estavam ameaçados de morte e seguem ameaçados: são militantes, ativistas da floresta e de outros biomas que estão escondidos para não ser mortos. Há outras ameaças, de pistolagem, milícia, grileiros, pistoleiros, fazendeiros, muitos vivendo no Centro-Sul do país, mas com terras griladas aqui na Amazônia, então a situação continua gravíssima. Por isso prefiro falar dos riscos que elas estão vivendo neste momento, mesmo com outro governo, do que dos nossos riscos. A luta pela Amazônia é uma luta para sempre. Vivemos uma guerra contra a natureza, uma guerra global. É muito importante que, assim como os brasileiros estão se engajando para fazer sua parte na catástrofe humanitária contra os yanomamis, seguir no engajamento na luta pela floresta, pelos outros biomas e pela natureza, na luta pelos povos, que em várias regiões da Amazônia, junto com a floresta, estão ameaçados de morte. São eles que mantiveram a floresta em pé até agora, e, portanto, mantiveram a nossa possibilidade de futuro em pé.
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