O ano de 2022 foi o período em que mais pessoas morreram de dengue no Brasil neste século. De acordo com boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), 1.016 pessoas faleceram, no ano passado, em decorrência da doença — ainda existem 109 mortes em investigação. O número é o maior deste século e só fica atrás dos registros da década de 1980, quando a dengue se tornou uma epidemia no Brasil pela primeira vez. No ano passado, foram mais de 1,4 milhão de casos prováveis, um aumento de 162,5% na comparação com 2021.
Já havia um alerta para uma nova epidemia da dengue em 2022, de acordo com o ministério. A situação deve se manter nos primeiros meses de 2023. A expectativa era de que as regiões mais quentes e úmidas liderassem o números de casos, mas a surpresa foi que a dengue se espalhou mais em regiões onde, geralmente, o clima predominante não é o preferido pelo mosquito Aedes aegypti. As cidades com o maior número de casos foram Brasília/DF (70.672), Goiânia/GO (56.503), Aparecida de Goiânia/GO (27.810), Joinville/SC (21.353) e Araraquara/SP (21.070).
Em relação às mortes, até o momento, foram confirmados mais de mil óbitos por dengue. Os estados que apresentaram o maior número de mortes foram: São Paulo (282), Goiás (162), Paraná (109), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66). De acordo com a pasta, períodos chuvosos, principalmente no verão, e a diminuição da percepção de risco para a doença são apontados como os principais motivos do aumento dos casos e mortes em 2022.
Em Brasília, foram notificados 85.560 casos suspeitos de dengue, dos quais 70.672 eram prováveis. Foi um acréscimo de 312,4% em comparação ao mesmo período de 2021, quando foram registrados 16.888 casos. Dos 3.027 casos prováveis em outras unidades da Federação, 2.905 foram de residentes no estado de Goiás, o que representa 95,97% do total. Os números acendem o alerta entre os infectologistas devido ao comportamento da doença, que aumenta a transmissão entre outubro e maio, por causa do período de chuvas.
A publicitária Catarine Torres, 23, entrou para as estatísticas ao ser diagnosticada com dengue tipo 3, a forma mais agressiva da doença, em outubro do ano passado. O irmão da jovem também foi diagnosticado na mesma época. Os diagnósticos assustaram a família, que costumava tomar os cuidados necessários em casa contra prováveis focos da doença. Porém, Catarine conta que não notava as mesmas preocupações entre vizinhos.
A moradora de Sobradinho relata a experiência da infecção grave como "a pior doença da vida". Catarine se sentia muito fraca, a ponto de perder as forças do corpo ao descer as escadas de casa. "Sentia calafrios, principalmente nos primeiros dias, quando estava com febre. Uma sensação muito esquisita, parecia que a alma estava se esvaindo. Depois, comecei a sentir enjoo, tinha dificuldade para comer", detalha. "Minhas articulações, músculos, doíam como se eu tivesse feito exercícios." Apesar da gravidade, ela recebeu a recomendação de se tratar em casa e se curou após algumas semanas.
O diretor de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, Jadir Costa Filho, explica que os dados alarmantes podem ser reflexo da pandemia de covid-19. "Com a pandemia, os agentes estavam impedidos de fazer vistorias nas casas; além disso, muita gente pode ter apresentado os sintomas e imaginado ser covid-19, o que dificultou a nossa computação", disse. "A partir deste ano, os dados tendem a se normalizar por conta da volta das visitações e a vacinação contra a covid-19. Esse dado assusta, mas certamente irá se estabilizar."
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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