A sensibilidade e empatia de um casal do Rio Grande do Sul tem chamado a atenção na internet. Vinicius Longaray e Kelli Longaray abriram o que eles dizem ser o primeiro restaurante adaptado para receber pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o "Espetinho do Vini".
De acordo com Longaray, a ideia de tornar o restaurante que eles já tinham em um espaço adaptado para pessoas autistas surgiu depois que uma cliente que estava no estabelecimento pediu para ele fechar o portão para que seu filho não saísse para a rua.
"Como eu também tenho um filho autista, entendi quando ela fez esse pedido e fechei sem problema algum. No dia seguinte, a cliente fez uma publicação no Instagram elogiando a nossa atitude inclusiva. Foi nesse momento que tive a ideia de adaptar o nosso restaurante para crianças autistas'', disse Vinícius.
O casal tem um filho diagnosticado com TEA. Enzo Gabriel, de 5 anos, recebeu o diagnóstico de autismo, há dois anos. Ele é um entusiasta do negócio dos pais e adora receber os novos clientes com a frase: “Olá, seja bem vindo ao espetinho do Vini, o primeiro restaurante para autistas”. Veja o vídeo:
O pai de Enzo contou à reportagem do Correio que tinha muita dificuldade de sair com o filho, por causa de todas as demandas sensoriais que as crianças atípicas geralmente possuem. E, por isso, eles não saiam muito de casa.
"Então, quando eu tive essa virada de chave, fechamos o restaurante para reforma e fizemos várias adaptações, fechamos a área externa com vidro, colocamos brinquedos sensoriais e em julho deste ano reinauguramos com essa nova proposta”, conta.
Além do olhar inclusivo dos empresários, que ainda fazem o acolhimento de famílias recém diagnosticadas ou em processo de investigação de TEA, outro diferencial da casa são os preços do cardápio exclusivo para as crianças, com opções a partir de R$ 1,90.
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“Nós repassamos para o cliente apenas o preço de custo. Os autistas geralmente têm seletividade alimentar. E nós não achamos justo que os pais paguem por um prato inteiro, se a criança ainda não come tudo. Porque eu vou cobrar a carne, por exemplo, se a criança só come arroz e batata?", questiona Vinícius.
Além disso, o serviço vai para além do menu. Se a criança tem uma demanda específica, o casal faz o possível para atender. “Nós não temos massa no cardápio. Mas semana que vem temos uma reserva de mesa com duas crianças autistas. Uma delas só come massa com maionese. E nós vamos fazer”, diz orgulhoso o pai do Enzo. A casa oferta também brinquedos sensoriais e abafadores de ouvido para os clientes usarem, caso seja necessário.
No local, há ainda adesivos com informações básicas sobre o Transtorno do Espectro Autista colado nas mesas para que os demais clientes aprendam um pouco sobre o assunto. “Muita gente ainda tem preconceito com pessoas autistas. Mas a gente só tem preconceito em relação àquilo que não conhecemos. Nossa ideia é, além de tudo, disseminar informações sobre o assunto, para que as pessoas vejam que não é tão difícil assim de lidar, basta entender”, esclarece o empresário.
Apesar das mudanças realizadas no restaurante, Vinícius e Kelli Longaray garantem que não perderam clientes. Ao contrário, a comunidade abraçou a ideia. “Eu fiquei com um pouco de receio de entrar em um nicho muito específico e perder clientes neurotípicos (termo para denominar indivíduos que não manifestam alterações neurológicas ou do neurodesenvolvimento). Mas pelo contrário, aqui vem famílias, crianças neurotípicas, jovens, adolescentes”, aponta Longaray.
“Sabemos que disseminar informação e combater preconceitos é um processo a ‘passo de formiguinha’, mas se isso servir para inspirar alguém pelo Brasil, ou para que os restaurantes invistam pelo menos em uma brinquedoteca, já ficaremos felizes”, finaliza o empresário.
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