Representatividade

Padre Júlio Lancellotti sobre Jesus negro: 'Não adianta menino Jesus loiro'

Religioso foi alvo de críticas após publicar foto nas redes sociais segurando uma escultura do filho de Deus negro

Durante uma celebração religiosa no domingo de Natal, o padre Júlio Lancellotti justificou a importância da representação negra do menino Jesus. No sábado (24/12), o religioso publicou uma foto na qual segurava uma escultura do filho de Deus que foge do imaginário coletivo de um Jesus branco. A publicação dividiu opiniões nas redes sociais.

“A maioria da população brasileira é afrodescendente. Não adianta fazer o menino Jesus loirinho, branquinho e com cabelinho lisinho. É preciso que ele seja semelhante à maioria do nosso povo. O Brasil é afro-ameríndio. Somos descendentes dos povos africanos e das nações indígenas. Menino Jesus negro é o retrato do povo brasileiro, que precisa de vida, com justiça, renda básica e libertação”, declarou durante celebração religiosa na Universidade São Judas (unidade Mooca), em São Paulo.

O padre havia sido acusado de promover uma “militância” e tentar “mudar a história” após postar uma foto com a escultura do menino Jesus negro nas mãos. Para Lacellotti, os comentários de desprovação podem ser entendidos como “racismo estrutural”.

“Uai, padre! Tá querendo mudar a história? Para poder lacrar? Acho que você precisa de um pouco mais de aula de história e teologismo. Não abdique dos ensinamentos para lacrar”, escreveu um dos internautas.

Com mais de 1,3 milhão de seguidores apenas no Instagram e vinculado à Arquidiocese de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti é conhecido por suas ações sociais que visam atender, especialmente, pessoas em situação de rua. Nas redes, ele divide com os seguidores o trabalho que executa, além de levar palavras de fé às pessoas.

Jesus negro ou branco?

Parte substancial das igrejas evangélicas no Brasil – principalmente as grandes denominações – tem sido conivente com a violência sofrida por pessoas negras e pobres das periferias de grandes cidades, segundo avalia o teólogo e pesquisador Ronilso Pacheco, de 44 anos, que também é autor do livro Teologia Negra, o sopro antirracista do espírito.

“Podemos chamar a Teologia Negra de um movimento teológico que está basicamente direcionado a questões de colonização e opressão das populações negras. Ela envolve os contextos de escravização e de políticas antinegras ao redor do mundo”, pontuou o pesquisador em entrevista à BBC Brasil em março de 2021.

“Não há a discussão se Jesus era negro ou branco, porque em relação a isso não há muito o que discutir: é difícil imaginar uma figura branca na Palestina daquela época”, explicou Pacheco.

Para o teólogo, Cristo branco elimina qualquer possibilidade de identificação teológica e bíblica com a população negra. "Deliberadamente, a presença e o protagonismo do continente africano são apagados, como uma forma de justificar a colonização e a escravização. Além disso, há uma tentativa de apagamento da tradição e religiosidade da África”, avaliou.

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