A vida de quem mora nas ruas é tomada pela solidão em diversos momentos. Mas tem uma companhia que as pessoas em vulnerabilidade jamais desejam ter: a da fome. Nesta época do ano, os olhos e os corações se voltam para rebater essa realidade. Organizações não Governamentais (ONGs), instituições, empresas e o poder público reúnem esforços para dar a essas famílias um Natal mais acolhedor.
Com a volta do país ao mapa da fome, em 2021, mais brasileiros se veem sem o básico para se alimentar. Em uma tentativa de reverter, pelo menos localmente, a realidade da fome, a Ong BSB Invisível proporcionou um Natal sem fome às pessoas em vulnerabilidade social no Distrito Federal em 17 de dezembro.
A ceia, realizada no Parque da Cidade, na Praça da Capoeira, reuniu cerca de 150 pessoas em situação de rua. A presidente da organização, Maria Baqui, explica que o Natal é uma data que remete solidão e exclusão para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade. "Elas têm o Natal como uma data triste, que remete à solidão, à exclusão, ao não-pertencimento, esse sentimento de não se sentir parte da sociedade, parte de nada, inclusive com as pessoas lembrando dos presentes, lembrando da família e muita gente mora sozinho, é andarilho. São várias situações que fazem com que o Natal não seja uma data boa para essas pessoas", explica.
Para impactar positivamente o mundo ao redor, a Ong acredita que deve começar com pequenos passos. "O nosso lema é que, para mudar o mundo, é necessário mudar um mundo de cada vez, e é com isso que a gente vai guiando o nosso trabalho", detalha. "Fizemos toda uma ceia de Natal completa, teve lombo, refrigerante também, a gente entregou presentes, que no caso foi panetone, brownie, doces. Teve samba, chorinho, pagode, serenata de natal. Foi uma festa mesmo que durou a manhã inteira. A gente teve desde criança a idoso", comemora Baqui.
Insegurança alimentar
De acordo com a última pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em 2022, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer. São 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano. A edição recente da pesquisa mostra que mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau — leve, moderado ou grave (fome). O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990.
A realidade cruel da fome se repete em milhares de lares brasileiros. Também com o intuito de acolher e mudar a realidade ao seu redor, o Instituto Acolhe buscou fazer sua parte. O principal objetivo do grupo é ressocializar pessoas que já passaram ou que ainda enfrentam situações de vulnerabilidade social, por meio de ações simples, como fornecer um corte de cabelo ou uma refeição para quem precisa.
Neste Natal, o grupo promoveu uma ceia de Natal na Casa Mãe do Novo Homem, um lar que acolhe ex-moradores de rua, que não têm contato com parentes ou amigos. O almoço festivo ocorreu no último sábado e uma das voluntárias do instituto, Graziela Cardoso, disse que ficou emocionada em poder contribuir com o evento.
"Eles ficaram muito emocionados, porque se lembraram da família, dos parentes, e viram que tudo estava sendo feito para eles. Então ver a emoção e satisfação deles não tinha preço", relata a voluntária.
"O que para nós é uma coisa simples, como um almoço, para eles foi algo extraordinário e único. Nesse banquete, a gente teve várias comidas que a gente come em uma ceia tradicional, como rabanada, peru. Foi um momento muito especial, não só para eles, como também para nós", completa Graziela.
Sofia Anouk, presidente do Projeto Dividir, conta que a iniciativa nasceu em março de 2020 por conta da pandemia da covid-19, e tinha como foco distribuir marmitas para pessoas em situação de rua. "A fome é uma questão política. A gente sempre soube que ajudar as pessoas era o certo a se fazer, tentar manter o mínimo de alimentação para essas pessoas", relata.
Por meio de arrecadações, o Projeto Dividir realizou duas ações de Natal este ano. "No Natal a gente sempre faz uma série de ações, produções de marmitas para pessoas em situação de rua, doações de brinquedos, sapatos, roupas e ainda estamos fazendo arrecadação de cestas básicas. Mas atualmente está um pouco difícil. Alimentação é uma coisa tão básica e muita gente não tem acesso. Sinto um pouco de aflição de ver essa desigualdade tão grande."
*Estagiários sob a supervisão de Taísa Medeiros
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