As fortes chuvas por todo o Brasil têm provocado mortes e muita destruição. Os temporais causaram ao menos 11 óbitos, em Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia.
Em Belo Horizonte, a situação pode piorar já que as tempestades tendem a se intensificar. De acordo com o secretário nacional de Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, a previsão é que o cenário para os 34 municípios que integram a Grande BH fique mais crítico até hoje. "Estamos prevendo chuvas muito fortes em Minas, principalmente para a Região Metropolitana de Belo Horizonte", disse.
Líder comunitária da Vila do Chaves, Geni Mendes, de 50, explica que o problema com as chuvas é recorrente. Ela conta que o local na capital mineira é considerado um "ponto crítico", já que foi construído sobre um aterro sanitário. "Chega esta época de chuva e a gente não dorme, preocupada com os pais e mães que têm que sair para trabalhar e deixar os filhos dentro de casa. É um sofrimento muito grande", desabafa.
A situação climática de Belo Horizonte é semelhante ao restante de Minas Gerais. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), 770 municípios mineiros, incluindo os da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), estão em perigo de chuvas intensas.
Em Santa Catarina, o mau tempo matou duas pessoas. Até ontem, havia 131 desabrigados e 55 desalojados. Um trecho da rodovia SC-418 foi interditado para veículos pesados. O litoral norte e a Grande Florianópolis foram os mais atingidos. Balneário Camboriú, Barra do Sul e Navegantes decretaram estado de emergência.
Duas mortes ocorreram em Balneário, na madrugada de segunda-feira. Ketlin Arno Ribeiro, 16 anos, e Elaine Soares Marques, 17 anos, dormiam em uma casa, no bairro de Jardim Aliança, quando houve um deslizamento de terra. Elas foram socorridas por equipes do Samu e do Corpo de Bombeiros, mas não resistiram aos ferimentos. A irmã caçula de uma delas, de 9 anos, foi levada ao hospital, mas foi liberada. Além desse episódio, foram registradas ocorrências em seis municípios.
Alagamentos
Alagamentos, com carros e casas submersos, queda de barreiras, trechos de rodovias federais e estaduais foram interditados por conta da instabilidade do solo — alguns motoristas que passavam pela orla utilizaram a faixa de areia da Praia Central como escape para fugir da água que invadiu a via. A Defesa Civil estadual informou, no boletim de ontem à noite, que nove municípios estão em alerta máximo para potenciais deslizamentos de terra, são eles: Itajaí, Itapema, Penha, Camboriú, Balneário Camboriú, Itapema, Piçarras, Penha, Florianópolis, São José e Palhoça.
Cleber Souza, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que as fortes chuvas na região são resultado de um episódio climático chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul. Também conhecida como Zcas, o fenômeno é o encontro de massas de ar carregadas de umidade. "Esse sistema resultou em bastante umidade e chuvas no litoral de Santa Catarina", esclareceu o especialista.
O meteorologista acredita que a situação climática de Santa Catarina melhore nas próximas semanas, mas as massas de ar úmido seguirão para o Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e a região Sul da Bahia devem receber fortes precipitações até o fim desta semana e início da próxima.
Desastres naturais
A Defesa Civil Nacional divulgou uma lista de 16 cidades em situação de emergência por causa do risco de desastres naturais. Até o momento, Minas Gerais acumula um total de oito óbitos — cinco em Brumadinho. Há 91 municípios em estado de emergência, 1.244 desabrigados e 4.434 desalojados. A Defesa Civil Nacional enviou R$ 2,5 milhões para duas cidades mineiras, Coroaci e Ouro Verde de Minas.
A Bahia também enfrenta situação difícil. Até o momento, foi registrada uma morte no estado. Há 14.576 desalojados, e 56 municípios em estado de emergência.
Outro estado que está com alerta vermelho é o Espírito Santo. A Defesa Civil aponta um total de 1.400 desabrigados somente em São Mateus, mas não há nenhum óbito registrado. Em Nova Venécia, além do risco de inundação, há o aviso de um possível rompimento de represa.
No Rio de Janeiro, mais uma cidade entrou em situação de emergência. Rio das Ostras interrompeu serviços da cidade, como a vacinação e suspendeu aulas, por causa de risco de transbordamento do Rio Jundiá. Em Macaé, a 23 km de Rio das Ostras, houve inundação e a abertura de uma cratera em uma das ruas, o que deixou moradores ilhados.
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O drama da prevenção
A falta de planejamento do governo federal para mitigar os riscos causados pelas chuvas que assolam o país no final e início de cada ano já tem cobrado a conta. Os trabalhos do Grupo Técnico (GT) de Desenvolvimento Regional da transição mostraram que existia um orçamento de R$ 2 milhões para o desenvolvimento desse trabalho, mas o poder público é muito lento na resposta aos desastres naturais, sobretudo com mortes.
Para janeiro, a Defesa Civil começou a distribuir o fundo emergencial, que é destravado quando acontecem os desastres. O valor é de cerca de R$ 100 milhões. "Os secretários que pediram ao ministério não foram atendidos. A área técnica apontou a necessidade de ter mais investimento, mas não foi atendido pelo Ministério da Economia, de forma que não veio na LOA", assegurou o deputado distrital, coordenador e membro do GT, Leandro Grass (PV-DF).
"Ações de respostas estão com R$ 100 milhões, mas são variáveis. São feitas suplementações orçamentárias à medida que são pedidas", explicou. O parlamentar explica que o objetivo, a partir do próximo governo, é adequar o orçamento para a prevenção. "Se não há orçamento para ação de prevenção, vai requerer mais recurso para a resposta, vai ter mais desastre, mais acidente", avaliou Grass. "Eles sabem que não tem recurso para o ano que vem. Defendemos no relatório um orçamento para política de prevenção", ressaltou o parlamentar.
As ações para conter os estragos feitos nas unidades federativas ainda são de ordem do governo de Jair Bolsonaro (PL). O líder da gestão no Senado Federal, Carlos Portinho (PL-RJ), confirma que tanto a Defesa Civil Nacional, quanto o Ministério do Desenvolvimento Regional enviarão os recursos, inclusive com o amparo de outros órgãos. Sobre a prevenção de desastres, o senador acredita que tem havido um "negligenciamento" do relator do Orçamento.
"Essa questão da prevenção do desastre tem sido muito negligenciada, embora a gente saiba que todo ano, no verão, os estados, cidades do nosso país sofrem. É uma questão que os orçamentos do Congresso tem se debruçado, em especial, o relator não tem dado conta, na verdade, dos recursos necessários", disse.
Portinho defende que a decisão do Congresso Nacional em entregar as emendas de relator (RP9) — que são conhecidas pelo nome de Orçamento Secreto — às emendas de comissão, facilitaria a destinação do recurso.
"A maior contribuição que o Congresso poderia dar é aprovar a transferência da emenda do relator, parte dela, para as emendas de comissões. As emendas precisam atingir o Brasil positivamente. Nas comissões poderia eu, como senador do Rio, socorrer, com uma emenda, em uma comissão de infraestrutura ou de meio ambiente uma tragédia em Santa Catarina, uma tragédia em Brumadinho", exemplificou.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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