atos antidemocráticos

Política e prisão provocam divisão em etnia indígena

Adivergência política dentro da etnia tem feito alguns se descolarem da proteção do território — principal pauta defendida pela maioria dos povos originários brasileiros

Tainá Andrade
postado em 18/12/2022 06:00
 (crédito: Twitter/Reprodução)
(crédito: Twitter/Reprodução)

A prisão do bolsonarista José Acácio Serere acendeu um alerta no povo xavante. Sendo uma das comunidades mais numerosas do país, com 22.256 pessoas abrigadas em nove terras indígenas, em 14 municípios do Mato Grosso, a divergência política dentro da etnia tem feito alguns deles se descolarem da proteção do território — principal pauta defendida pela maioria dos povos originários brasileiros.

Serere fazia parte de um grupo que trabalhava para que o povo xavante a concordasse com a prática de arrendamento em terras indígenas por grandes investidores do agronegócio. O bolsonarista convenceu dois territórios — Sangradouro e Parabubure — a acolherem a ideia. Os outros distritos da etnia resistiram ao projeto, o que gerou um conflito interno.

"O povo indígena xavante é o único povo no Mato Grosso que não compactua com o movimento antidemocrático e está muito indignado com a má-fé do Serere. Estamos no século 21 e, hoje em dia, o índio não pode ser usado de qualquer maneira, como se fosse no tempo colonial", criticou Lúcio Xavante, líder na aldeia Guadalupe e ativista da Terra Indígena São Marcos.

As lideranças acreditam que foi durante o período em que o bolsonarista se envolveu com a política que começou a abraçar pautas ligadas ao agronegócio e à mineração. "As oito terras dos xavantes vinham debatendo, porque deveria ter uma discussão ampla. A reação foi muito dura contra esse projeto, houve muitas críticas. Os próprios indígenas impediram que acontecesse. Não queremos destruir a nossa floresta. Ele (José Acácio) vinha trabalhando fortemente para convencer as demais aldeias", afirmou Lúcio Xavante.

Linha de frente

Na avaliação do líder da comunidade de São Marcos, José Acácio foi escolhido para ser "linha de frente" em um projeto da extrema direita. "Cadê o chefão desse movimento? Deixaram o indígena como laranja. Estamos muito indignados e preocupados. É como se o povo xavante estivesse apoiando esse movimento. O movimento indígena é independente, a gente se defende contra a invasão do território, garimpo, extração da madeira ilegal. Os bolsonaristas estão querendo a cooptação de indígenas para ficar do lado deles", acusou Lúcio Xavante.

Nas últimas eleições, a extrema direita tentou se aproximar dos indígenas, segundo ele. O objetivo era convencer as comunidades a se alinharem às pautas sobre demarcação de terras, garimpo e extração de madeira. A deputada federal indígena Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira indígena a ocupar uma cadeira no Parlamento, criticou.

"A política é muito nova para a gente. A política da direita muitas vezes não quer saber da coletividade e de outros indígenas. Quer nomes para puxar votos e fazer escadinha para eleger o majoritário. Usam a nossa imagem para traçar estratégias para política velha. São posições individualistas", lamentou.

Wapichana não se reelegeu para o Congresso, mas a presença indígena na política será ampliada a partir de 2023. Cinco candidatos declarados indígenas conseguiram se eleger ao legislativo federal. No Congresso, são quatro representantes: Sônia Guajajara (PSol-SP) e Célia Xakriabá (PSol-MG), Paulo Guedes (PT-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP). Na ala de direita, está a deputada federal eleita Silvia Waiãpi (PL-AP).

 


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