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Pesquisadores têm de fazer 'ginástica' para viver sem bolsa do MEC

Os R$ 50 milhões repassados pela Capes aos pesquisadores — parte dos R$ 460 milhões desbloqueados na quinta-feira — não são suficientes para sustentar aquele que faz do estudo um meio de trabalho

Tainá Andrade
postado em 10/12/2022 03:55 / atualizado em 10/12/2022 06:51
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Apesar dos R$ 50 milhões liberados ao Ministério da Educação (MEC) para o pagamento das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) — parte dos R$ 460 milhões desbloqueados na quinta-feira —, nem todos os pesquisadores receberam o salário. Mestrandos e doutorandos continuam fazendo malabarismo para se manterem dentro do orçamento de dezembro até, pelo menos, a próxima terça-feira, data prevista pelo ministro Victor Godoy para regularizar a situação.

O MEC deve, ainda, cerca de R$ 155 milhões para quitar a dívida com a Capes. Porém, quanto maior o atraso, pior é o descompasso entre as exigências impostas aos bolsistas e a responsabilidade do ministério em garantir a cobertura financeira das despesas dos acadêmicos. Afinal, quem escolhe a pesquisa abre mão de vínculos empregatícios.

Jaqueline Rocha Oliveira, de 35 anos, fez essa opção no início do ano, quando passou para o doutorado em Educação, Cultura, Movimentos Sociais e Ações Coletivas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao comparar o valor do salário como professora da Rede Estadual de Educação de Minas — função que ocupava há seis anos — com a bolsa da Capes, ela preferiu se aperfeiçoar. A bolsa tornou-se sua fonte de renda.

"Mudei minha vida toda para me dedicar à pesquisa. Foi um choque grande, porque não estávamos esperando o corte (dos recursos). É minha fonte de renda", explicou.

A desvalorização dos pesquisadores é uma das maiores frustrações de quem se dedica ao estudo, segundo Sara Suares, 25 anos, aluna do mestrado no Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). "A gente tem data para entregar qualificação, para férias, para entregar dissertação, mas não tem a reciprocidade no nosso pagamento. Esse é o nosso trabalho. A gente está fazendo pesquisa, se dedica àquilo. Só que não tem respeito e consideração", criticou.

Pedido

Apesar de ser precavido e conseguir economizar algo, Wagner Carlos de Alcantara Carvalho, 25 anos — doutorando em biotecnologia industrial, na Universidade Tiradentes (Unit), em Aracaju (SE), em 2009 —, selecionou algumas despesas para negociar o pagamento para o próximo mês. Isso porque não recebeu, ainda, a bolsa de dezembro.

"Informei às pessoas que pago mensalmente e pedi compreensão. Muitos colegas não conseguem fazer essa reserva e estão desesperados, porque temos compromissos", disse.

Mãe solo, negra e artista, Mayrla Silva, 26 anos, tem a própria empresa de comunicação, mas decidiu entrar no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) em Linguagens e Artes para aplicar um projeto de pesquisa prática em uma escola uma pública da comunidade onde vive, no Vale do Amanhecer (DF). Ela foi uma das 100 mil pessoas que teve o pagamento depositado na primeira leva de repasses feita pelo MEC, mas, mesmo assim, teve que negociar prazos e pedir ajuda da família para adiantar algumas contas.

"Sem a bolsa ou com atrasos, será impossível dar seguimento ao meu projeto, e quem perde é minha comunidade", lamenta. (Colaborou Isabel Dourado, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)

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