O médico hematologista Dimas Covas deixou a presidência do Instituto Butantan para assumir a diretoria-executiva da Fundação Butantan, organização privada que dá apoio às atividades do instituto e responsável por administrar a receita obtida com a venda de vacinas e soros produzidos no complexo.
O pedido de exoneração ocorreu no dia 11 de novembro, mas só foi divulgado nesta quarta-feira, 30, conforme nota da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, à qual o Butantan é vinculado.
Embora a saída ocorra em meio a uma investigação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em contratos do Butantan, a mudança de cargo, na prática, garante a permanência do poder de Covas na instituição no momento em que ele seria obrigado a deixar o instituto por causa das trocas de nomes que serão promovidas pelo governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No cargo desde 2017, Covas pediu demissão do instituto após conseguir ser eleito para assumir a diretoria-executiva da Fundação Butantan. O ocupante desse cargo é definido pelo conselho curador da fundação, sem ingerência do governo estadual, e tem mandato de quatro anos. Assim, ao assumir o posto, Covas fica imune às trocas políticas do novo governador.
Freitas inclusive já anunciou que colocará o infectologista Esper Kallás no comando do Instituto Butantan a partir de 2023.
O Butantan e a Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde negam relação entre a saída de Covas e a investigação do TCE. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo publicada em 9 de novembro, a apuração do tribunal apontou risco de superfaturamento na contratação de uma empresa desenvolvedora de software.
De acordo com o Butantan, a saída de Covas foi decidida em reunião no dia 17 de outubro (anterior à reportagem) e formalizada ao secretário David Uip, titular da pasta de Ciência e Pesquisa, no dia 11 de novembro.
"Ele alegou motivos pessoais, não teve nenhum desgaste", disse Uip ao Estadão. "Todos sabem que não concordo com uma mesma pessoa exercer cargo na fundação e no instituto. Acho que tem conflito de interesse. Então essa minha posição pode ter influenciado a decisão dele (de pedir exoneração)", diz Uip.
Covas foi procurado pelo Estadão para comentar os motivos da sua saída, mas não retornou os telefonemas da reportagem.
O médico ganhou notoriedade em 2020 ao liderar o processo de parceria do Butantan com a biofarmacêutica chinesa Sinovac para importação da vacina Coronavac ao Brasil. O imunizante foi o primeiro contra a covid-19 a ser aplicado em território nacional e virou alvo de disputa política entre o então governador João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que era contra a compra do produto.
Covas aparecia quase que diariamente nas coletivas de imprensa sobre as medidas de combate ao coronavírus ao lado de Doria e, nos bastidores, indicava que usaria a visibilidade que alcançou para se lançar a algum cargo eletivo nas eleições de 2022, o que não aconteceu.