A conclusão do relatório Desigualdade no Acesso a Vacinas contra Covid-19 no Brasil, divulgado pela Oxfam Brasil nesta quarta-feira (23/11), é de que apenas um estado da federação conseguiu alcançar a meta vacinal até outubro de 2022. O Ministério da Saúde tinha como objetivo aplicar doses em ao menos 90% da população, mas somente no estado de São Paulo esse número foi alcançado (91%). Nenhuma outra unidade da federação — ou o Distrito Federal — conseguiram alcançar a marca.
O relatório ainda aponta desigualdades regionais na distribuição de imunizantes. De acordo com os dados divulgados, em dezembro de 2021 apenas 16% dos municípios do Brasil apresentavam mais de 80% de sua população com o esquema vacinal completo. Na região Sul do Brasil, 30% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo, na região Sudeste 27,2%, no Centro-Oeste 11,8%, no Nordeste 2,7% dos municípios e na região Norte apenas 1,1%.
O relatório pondera que, apesar do alto percentual de vacinação no Brasil, os números de mortos pela covid-19 “ofuscam os resultados”. “São impacto de ações e omissões governamentais em resposta à pandemia, que levaram o país a ter o segundo maior número de mortos pela covid-19 no mundo, com 677 mil vidas perdidas para o coronavírus, mesmo tendo apenas a 5ª maior população do planeta”, diz o documento sobre os óbitos.
Negligência do Governo Federal
Jefferson Nascimento, coordenador de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, afirma que a negligência do governo federal se deu na falta de medidas de contenção sanitária. “Por exemplo, a ausência de uma coordenação nacional no programa nacional de imunização. O relatório também aponta a diferença entre os estados na cobertura vacinal, que eles também foram deixados à própria sorte para definir o modo com qual a vacinação iria acontecer”, explica.
“O relatório também demonstra ações deliberadas que dificultaram a ampliação na cobertura vacinal. Exemplo: o próprio fato do discurso negacionista adotado pelo governo federal, que aí não é só deixar de fazer como ativamente se propor a ter uma postura que dificultava o acesso às vacinas, dificultava a compreensão da população a respeito da importância de se vacinar contra a covid”, completa o Jefferson Nascimento.
O resultado destaca que a maioria das mortes decorrentes da pandemia ocorreu quando já havia vacina disponível no mundo. Enquanto o país teve, em 2020, 194.976 óbitos; em 2021, já com imunizantes disponíveis contra a covid-19, o total foi o dobro: 424.133.
A Oxfam apontan ainda que houve atraso na implementação do Plano Nacional de Imunização, demora para aquisição de vacinas contra a covid-19 e adoção de uma política negacionista de combate ao vírus. A instituição afirma que o governo federal atuou rechaçando medidas de controle social e estimulando o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus.
*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes
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