CB Fórum Agro 4.0

Especialistas debatem empecilhos para aplicações tecnológicas no agro

Aplicações tecnológicas no agro dependem de profissionais qualificados, líderes engajados e processos bem definidos

A tecnologia tem se tornado cada vez mais um ponto-chave para o aumento da produtividade e da rentabilidade no campo, destacando o setor na economia global. Segundo o gerente da Unidade de Difusão de Tecnologias da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Bruno Jorge Soares, a tecnologia não funciona sozinha.

"Eu costumo dizer que a tecnologia não é um fator isolado. Ela depende, para sua eficácia maior, da necessidade de pessoas treinadas, da liderança engajada e de processos bem definidos", explicou, ao ser questionado sobre a relação entre tecnologia e produtividade no agro.

Segundo o gerente, quando a ABDI começou a migrar os reforços, iniciativas e estratégias para o agro 4.0, levou para a associação a bagagem da indústria. "Nos deparamos com duas realidades diferentes, mas que têm soluções basicamente semelhantes", afirmou.

Para o gerente essa migração provocou vantagens e desvantagens. "A vantagem é a questão da escala. Quando a gente fala de sensores, hoje eles estão mais baratos. Mas nós temos uma desvantagem: só neste tempo, a gente descobriu que, por exemplo, o erro numa indústria de tecnologia software pode ser feito e corrigido rapidamente, numa plantação não", frisou.

O gerente disse também que algumas aplicações, abordagens e metodologias usadas para o setor de serviços precisam ser adaptadas para a tecnologia no agro. "E é nesse sentido que a gente trabalha na ABDI, para desenvolver projetos que sejam maduros e adequados para o agronegócio", detalhou Bruno Jorge Soares.

O gerente da unidade de difusão de tecnologias da ABDI explicou que a questão da entidade com os ecossistemas é antiga e remete à própria visão da inovação. "Em um primeiro momento, a gente pensava na inovação como um processo individual das empresas. Depois passou por um processo aberto com outras empresas, e hoje ele tem que ser coletivo", disse Soares.

Segundo o especialista, os projetos da associação evoluíram de projetos específicos, como aqueles para a propriedade e agroindústrias, para projetos que mudem para ecossistemas. "E o ecossistema é formado tanto pelos usuários da tecnologias, os produtores, quanto pelos provedores de tecnologias e instituições também facilitadoras deste diálogo", explicou.

Soares foi um dos participantes do segundo painel do CB Fórum Agro 4.0. Nessa mesa-redonda, a discussão temática abordou a aplicação de tecnologias digitais para produtividade no agronegócio e o papel do ecossistema de inovação.

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Dualidade

Ainda que os recursos naturais sejam imprescindíveis para o desenvolvimento humano, é fundamental utilizá-los de forma consciente para que não se esgotem e causem danos socioambientais. Todos os setores da economia, em especial o agronegócio, precisam estar cientes dessa realidade e adotar práticas sustentáveis que garantam a sua própria longevidade.

Cada etapa da cadeia produtiva pode ser revista para encontrar melhores soluções sustentáveis. O desenvolvimento de novas tecnologias tem tornado as soluções naturais mais eficientes mesmo em produções de larga escala, desta forma a produtividade e a sustentabilidade andam juntas.

Soares comentou ainda que não vê uma dualidade entre a produtividade e sustentabilidade. "Tanto que na COP 27, que está acontecendo agora, eu estava lendo matérias sobre a questão da agricultura O posicionamento lá é uma das experiências que a gente vai mostrar", disse. "Eles têm mostrado como é que o aumento da produtividade, no caso da soja, por exemplo, vai levar uma menor necessidade de uso de terras, consequentemente, menor necessidade, ou seja, um uso mais sustentável", explicou.

Segundo o gerente, a produtividade pode ser um vetor importante para a sustentabilidade. "Porque eles vão mostrar para o produtor que quanto mais produtivo ele é, mais sustentável e maior margem que vai ter, mais receitas pela sua prosperidade."

Atenção especial aos pequenos produtores

Antes um diferencial competitivo, as inovações tecnológicas se tornaram uma necessidade para todo produtor que queira permanecer no mercado com bons resultados. Aumento da produtividade, maior controle na gestão do próprio negócio, mais qualidade, redução de custos e implementação de ações mais sustentáveis são alguns pontos citados pelo diretor geral do Parque Tecnológico da Paraíba, José Nilton Silva, em relação à importância da tecnologia para o pequeno agricultor.

"A gente tem várias experiências na Paraíba com relação ao pequeno produtor e a agricultura familiar. Em 2013, quando a gente chegava no pequeno produtor, uma grande dificuldade que ele tinha era da composição de preço do seu produto", comentou.

Nilton Silva afirmou que é essencial auxiliar o pequeno produtor em todas as etapas. "Ele tem que colocar os custos e até o tempo que ele gasta para produzir, os insumos envolvidos e etc", apontou. "Se o produtor tiver uma visão clara do custo de produção e onde ele pode minimizar e diminuir os custos, isso já é um passo importante", exemplificou.

Na avaliação de Alain Marques, cofundador do Agventure Hub, atualmente a tecnologia está cada vez mais acessível para os pequenos produtores. Para ele, os produtores estão abertos para investir e ter acesso às novas tecnologias que abrem as portas para um negócio próspero.

"O nosso propósito é acelerar inovações para alimentar o Brasil e o mundo. Ou seja, aumentar a produtividade com sustentabilidade para que a gente possa alimentar o mundo com tecnologias sustentáveis", disse Marques.

"A gente observa que o grande produtor tem mais acesso às tecnologias de startups porque ele pode pagar por isso. Mas existem projetos como os nossos, que conseguem difundir melhor a tecnologia para os pequenos produtores. Isso é muito importante. A gente consegue levar inovação para o grande e para o pequeno produtor", comentou.