O pai e a filha mortos em um atropelamento causado por um soldado do Exército sem CNH, na manhã da terça-feira (15/11), treinavam para a Corrida de São Silvestre quando foram atingidos pelo automóvel que invadiu o canteiro central da rodovia Hélio Smidt, próximo ao Aeroporto de Guarulhos (SP).
Nas redes sociais, Álvaro e Jéssica Levadinha, de 69 e 31 anos respectivamente, mostravam ser inseparáveis e viviam uma relação de amor e cumplicidade também na corrida.
Jéssica se definia como “corredora de rua amadora” e considerava o pai um “paitreinador e mentor”, como citou no Instagram. Apesar de ser profissional da área do marketing, era a corrida que movimentava as redes e o coração de Jéssica, que sempre posava ao lado de Álvaro.
Ao portal g1 SP, um amigo da família e professor de educação física contou que Jéssica já participou de mais de 200 corridas, nestas subiu ao pódio mais de 140 vezes.
"Eu conheci a Jéssica há muitos anos. Quando ela tinha 14 anos, veio um pedido formal do seu pai, e sentimental também, para que fosse liberada a sua inscrição para uma prova de corrida de rua em Guarulhos. E como a Jéssica já treinava com seu pai desde os 10, 11 anos, nós abrimos uma exceção para que ela participasse da prova. E surpreendentemente, ela participou da prova e subiu ao pódio", lembrou Wilson Santos, atleta e amigo da família.
Na manhã desta quarta-feira (16/11), os dois também compartilharam o último momento juntos ao se despedirem da família em um sepultamento duplo, no Cemitério Vila Rio, em Guarulhos.
"Minha sobrinha tinha uma vida ainda pela frente. Nova, conquistando as medalhas dela. O que eu tenho para falar dela é isso. Meu coração está partido", afirmou uma tia de Jéssica ao g1 SP.
No Instagram, Jéssica compartilhou um vídeo com um trecho do incentivo do pai enquanto ela disputava uma corrida. “Pra cima do pikachu Jess, respira, pra cima dele, tá perto! Vai embora, desaparece”, incentivava Álvaro. “O resultado foi campeã geral feminina dos 10km”, escreveu Jéssica.
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Militar que dirigia o carro confessou ter bebido antes de assumir o volante
Soldado do Exército, João Victor Afinis Carvalho, de 19 anos, dirigia o carro que atingiu as vítimas, uma Mitsubishi Pajero preta. O homem não tinha carteira nacional de habilitação (CNH) e admitiu que ingeriu bebida alcoólica em uma festa antes de dirigir — no entanto não permitiu a realização do teste de bafômetro.
João foi preso em flagrante pela Polícia Civil por homicídio por dolo eventual, no qual se assume o risco de matar. Depois de uma audiência realizada nesta quarta-feira (16/11), a prisão do soldado foi convertida em preventiva, o que significa que ele ficará detido por prazo determinado.
Ele cumpre a reclusão num quartel do Exército em Osasco e responderá a um processo criminal na Justiça comum por não se tratar de um crime no âmbito do militarismo. A polícia ainda investigará se João estava acima da velocidade permitida para a via, cujo limite é de 70 km/h. Antes de atingir Álvaro e Jéssica, o carro derrubou dois postes de iluminação e destruiu parte do alambrado do canteiro. Uma perícia será feita no carro para aferir a velocidade no momento do acidente.
O carro dirigido pelo militar não era dele e, segundo o dono do veículo, João dirigiu “de forma indevida, escondida, sem qualquer autorização”.
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