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CB Fórum Agro 4.0: Tecnologia estimula agricultura sustentável

Representantes do setor público e privado debatem, em evento do Correio e da ABDI, o uso de soluções inovadoras para ampliar a presença do Brasil como produtor agrícola de relevância e reforçar o compromisso do país com o meio ambiente

Mariana Albuquerque*
Raphael Pati*
Rafaela Gonçalves
postado em 10/11/2022 03:55
 (crédito: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

É impossível falar de agronegócio no Brasil sem levar em conta dois aspectos fundamentais: sustentabilidade e produtividade. E a tecnologia é a ferramenta que permite ao agricultor nacional alcançar esses dois parâmetros, essenciais para o país manter a hegemonia no mundo como potência agrícola.

A fim de debater as implicações da tecnologia na sustentabilidade e na produtividade do agronegócio, autoridades e especialistas participaram do CB.Fórum Agro 4.0, promovido Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Correio Braziliense.

O encontro foi dividido em dois painéis. Na primeira mesa-redonda, os convidados discorreram sobre a aplicação de tecnologias digitais para sustentabilidade no agronegócio. Representantes do setor público e privado discutiram as próximas tendências e ações do ecossistema de inovação sobre tecnologias no campo.

Segundo o presidente da ABDI, Igor Calvet, não há como pensar em sustentabilidade no agronegócio sem considerar a tecnologia. "Tecnologias como internet das coisas (IoT), aprendizagem de máquinas, georreferenciamento e tantas outras podem ser traduzidas como experiências que podem aumentar produtividade, por um lado, e aliar isso à sustentabilidade", afirmou.

A primeira mesa temática contou com a participação de Marcela Carvalho, assessora da presidência da ABDI; Sibele Silva, diretora de Apoio à Inovação para Agropecuária do Ministério da Agricultura; Vasco Picchi, sócio-fundador da Safe Trace; e Caroline Holtz Rolim, coordenadora de sustentabilidade da Cargill.

O objetivo da união entre tecnologia e sustentabilidade, de acordo com o presidente da ABDI, é encontrar soluções para os desafios que permeiam questões como mitigar emissões de gases de efeito estufa, reduzir consumo e desperdício de água e energia, reduzir o desperdício de alimentos e rastreabilidade.

"Mais do que tecnologias fomentando ambientes de inovação, o que nos interessa é fazer com que parques tecnológicos, ou seja, os provedores de tecnologia, se unam aos agricultores e cooperativas, tudo em prol do desenvolvimento do tecido produtivo brasileiro", disse Calvet.

Por entender o segmento como uma indústria fundamental para desenvolvimento econômico e social do país, Calvet destacou a importância de amplificar esforços e fazer com que essas tecnologias cheguem cada vez mais rápido ao tecido produtivo. "O agronegócio precisa de duas coisas para continuar crescendo e sendo o pilar do nosso desenvolvimento econômico, conectividade e uso de ferramentas 4.0."

Mercado de carbono

Um dos principais produtores agrícolas de todo o mundo, o Brasil precisa se adequar à agricultura de baixo carbono para continuar sendo uma referência mundial no agronegócio, sustentou a assessora da presidência da ABDI, Marcela Carvalho. "Quando a gente fala de sustentabilidade no agronegócio, estamos falando da redução de cultivos agressivos, de redução de resíduos da produção e tratamento adequado, uso mais eficientes de recursos naturais e insumos da produção", disse.

Como grande exportador de commodities agrícolas, Carvalho destacou a importância do setor contribuir com metas globais. "Muitos países hoje já têm barreiras contra a comercialização e compra de produtos que não garantam sustentabilidade. É preciso que produtores brasileiros estejam atentos a essas questões", comentou.

Ela lembrou ainda que 30% das emissões de carbono no país vêm da atividade agropecuária. Para a assessora, é preciso reverter essa lógica. "Se conseguirmos mudar um pouco esse sinal — capturar carbono ao invés de liberar e emitir — o Brasil de fato tem potencial para ser uma grande liderança mundial nesse mercado", acrescentou.

A assessora ressaltou, ainda, a necessidade de implementar uma agenda tecnológica para adotar práticas mais sustentáveis no setor. "A gente acredita que a adoção da tecnologia pode ser também uma agenda levada pelo Brasil. Sustentabilidade e digitalização são temas que podem e devem ser aproveitados e incorporados nos processos produtivos de todas as cadeias", concluiu.

Esforço para construir redes de inovação no país

Um dos maiores desafios para a implantação de tecnologias sustentáveis no agronegócio é o custo dessa inovação. "Ambiente de inovação é um tema extremamente caro para o Ministério da Agricultura", destacou a diretora de ambiente da inovação do MAPA, Sibele Silva. Segundo o Marco Legal de Ciência, os ambientes de inovação e tecnologia se caracterizam como espaços propícios à inovação e ao empreendedorismo, fazendo uma nova economia baseada no conhecimento.

São exemplos de ambientes de inovação: parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, hubs, espaços coworking, open labs, entre outros. A implementação desses ambientes cabe ao MAPA na parceria dos editais junto à ABDI. De acordo com a diretora do MAPA, o projeto é baseado em cinco pilares da gestão ministerial e a implementação desses ambientes beneficia principalmente os pequenos produtores.

"Temos várias políticas públicas para a agricultura de baixo carbono, que remontam dez anos extremamente bem sucedidos. Temos um time técnico do Ministério da Agricultura neste momento participando da convenção do clima no Egito, levando esta política pública, inclusive a pauta de inovação", descreveu a representante do Mapa.

"Além da sustentabilidade, temos o tema de bioeconomia, da inovação aberta, foodtech — que são os novos alimentos —, e o tema da digitalização do agro digital", afirmou Silva. "E nesse processo de construção de redes de inovação aberta, nós vislumbramos um programa que chamamos de Agrohub Brasil. No programa estamos buscando conhecer e fomentar os ecossistemas regionais de inovação", acrescentou.

Diálogo internacional

O sócio-fundador da Safe Trace — empresa especializada na rastreabilidade da cadeia produtiva de alimentos -, Vasco Picchi, destacou a importância em dialogar com outros grandes players e consumidores do mercado internacional, tais como a União Europeia e a China, e citou o Brasil como ator fundamental para incentivar políticas socioambientais sustentáveis.

"A gente, cada vez mais, no Brasil vai ter que trabalhar essa pauta de transparência, sempre unindo esforços. Não vai ter uma solução, seja governamental, seja privada, que vá resolver esse problema sozinho. A gente vai ter que conectar diferentes soluções para poder ter transparência e, com isso, fortalecer o agronegócio nacional e a posição do Brasil como maior exportador de alimentos do mundo", disse.

Segundo a coordenadora de sustentabilidade da Cargill — multinacional de processamento de grãos —, Caroline Holtz Rolim, já é possível perceber uma mudança comportamental em empresas do setor do agronegócio para priorizar a inovação e, acima de tudo, a sustentabilidade dentro do ambiente do agro no Brasil.

"Eu lembro que, há menos de dez anos, as áreas de sustentabilidade, se existiam nas empresas, era uma pessoa ou duas. Hoje em dia, todas as empresas do agro têm pelo menos um time de sustentabilidade e esse time está crescendo em uma velocidade maior do que todas as outras áreas", frisou.

*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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