MINAS GERAIS

Estudante fica em coma após 'trote' em república de propriedade da UFOP

A mãe do jovem disse que irá processar moradores e a universidade. Segundo os médicos, ele chegou ao hospital 'quase morto'. Há suspeita de estupro

Um estudante da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) entrou em coma após um “trote” em uma república federal, de propriedade da União, onde ele foi submetido a tomar óleo, cachaça, molho de pimenta e molho shoyu misturados, e baldes com pó de café foram jogados no seu rosto. Há suspeita de que ele tenha sido estuprado.

O caso aconteceu no dia 4 de agosto. O jovem foi levado ao hospital “quase morto”, segundo os médicos. “Ele aspirou e se asfixiou com o líquido, teve pneumonia por aspiração e em seguida, o coma alcoólico. Ele já estava pálido e se debatendo quando levaram ele para a UPA”, relatou a mãe.

Os médicos disseram à mãe que encontraram vômito e pó de café no pulmão do estudante. O hospital acionou a Polícia Civil e registrou boletim de ocorrência após identificarem resquícios de lubrificante no seu ânus.

O jovem, natural de São Luís, no Maranhão, entrou no curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Ouro Preto em 2021, durante a pandemia. Em fevereiro de 2022, com o retorno das aulas presenciais, ele se mudou para a cidade mineira e se instalou na República Sinagoga, uma das Repúblicas Federais que são propriedade da universidade autogestionadas pelos estudantes.

O trote seria parte de um dos “ritos” de entrada na moradia.

Ele teve que trancar o curso pelas sequelas físicas e psicológicas do abuso, e voltou para São Luís. Segundo a mãe, ele está muito abatido e foi diagnosticado com Transtorno de Estresse Agudo. O jovem está com queda de cabelo, perdeu parcialmente o movimento do pé esquerdo e desenvolveu problemas cardíacos.

Justiça

A mãe do estudante disse que vai entrar na justiça contra os membros da república responsáveis pelo trote e contra a universidade, que é responsável pela casa. Segundo ela, os médicos disseram que casos como o que aconteceu com seu filho são recorrentes nas repúblicas da região.

Ela conta que foi até Ouro Preto quando soube do que tinha acontecido, mas só entendeu a gravidade da situação após os relatos dos médicos. Foi quando ela questionou os outros moradores da república e eles admitiram que tinham submetido o jovem ao “trote”.

Inicialmente, a família e os moradores da casa fizeram um acordo para que o caso não fosse relatado à universidade, onde o trote é proibido. Os estudantes prometeram arcar com os gastos do tratamento, e pagaram as passagens do pai e da mãe do jovem agredido, além da quantia de R$ 900.

Mas logo a postura dos estudantes mudou, e eles pararam de ajudar financeiramente a família. Em seguida, eles enviaram uma carta à mãe acusando o jovem de uso de drogas e de ter assediado três mulheres. A mãe contesta essa versão, e aponta que o exame toxicológico realizado no hospital deu negativo. “Se meu filho fez isso, assediou essas meninas, eu quero que elas provem”, comentou.

A Polícia Civil de Minas Gerais foi questionada sobre a investigação, mas não respondeu até o fechamento da matéria.

UFOP

A República Sinagoga, onde ocorreu o “trote”, é uma das repúblicas federais que integra o sistema de moradias da UFOP. Em Ouro Preto, são 59 repúblicas desse tipo, espalhadas pelo centro histórico da cidade.

A universidade respondeu, em nota, que tomou conhecimento da situação e que serão tomadas as medidas administrativas cabíveis. Leia na íntegra:

“Na quarta-feira (19), a Universidade recebeu um e-mail do estudante, que imediatamente foi encaminhado para acolhimento pela equipe técnica de moradia e acompanhamento por assistente social. Já solicitamos a ele que encaminhe documentos para que possa ser aberto um processo administrativo disciplinar discente para possibilitar a aplicação das normas da UFOP, que proíbem o trote, de acordo com a Resolução Cuni nº 1.870. Segundo o mesmo documento, a prática de trote implicará aplicação de penalidades de advertência, suspensão ou desligamento. Questões relativas a penalizações que a Universidade pode receber devem ser respondidas pela Advocacia-Geral da União (AGU).”

Os membros da República Sinagoga não foram localizados, e a página do Instagram da casa foi excluída.

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