A tecnologia está se tornando uma aliada das mulheres no combate à violência de gênero. Desenvolvido por um grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o aplicativo Maria da Penha Virtual tem mostrado resultados positivos no estado. De acordo com a professora Kone Cesário, responsável pela coordenação do projeto, o aplicativo contribuiu para mais de 2 mil denúncias ao Tribunal de Justiça fluminense.
Ela explicou ao Correio como funciona o recurso. "É um link que uma mulher passa para outra, por meio de uma mensagem nas redes sociais. Ela consegue compreender as formas de violência, porque vai clicando intuitivamente, como se estivesse em um site de compras. Tem perguntas e, conforme ela vai respondendo, tem a explicação do que é cada violência, por exemplo", descreve. "Pode gravar áudio, filmar, fotografar. o aplicativo transforma o que a mulher está vivenciando em provas e tudo isso se converte em uma petição judicial que vai direto para uma das juízas do juizado da violência doméstica no Rio. A lei dispensa que passe por uma delegacia ou por um advogado", acrescenta.
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Cesário informa, ainda, que a vítima pode chamar por socorro com um botão de emergência, diretamente vinculado à Central 190 e ao sistema da PMRJ. O recurso permite também que três familiares ou pessoas de confiança recebam a localização caso o botão de emergência seja acionado. Ao baixar o app, a usuária deve fazer um cadastro prévio e os dados ficarão salvos. Caso a função de emergência seja acionada no aparelho móvel, a polícia conseguirá saber a localização da vítima pelo GPS do celular.
Kone Cesária detalhou os estudos desenvolvidos para se chegar ao Maria da Penha Virtual. Os estudantes aplicaram técnicas de marketing para melhorar a navegabilidade e usabilidade, além de adaptar a lei Maria da Penha e o formulário de risco do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para uma linguagem tecnológica, na qual a mulher possa responder de forma rápida e intuitiva.
"No começo da pandemia nós ofertamos para o Tribunal de Justiça, uma vez que as mulheres estavam com dificuldade de acessar os locais de socorro, muitos fecharam. Outros problemas frequentes: as [vítimas] não têm condições financeiras de ir até a delegacia, outras não queriam passar pelo processo de revitimização. Por meio do app, em questão de segundos a mulher pode acionar as autoridades", observou a professora.
Outro projeto que tem se tornado popular entre o público feminino, desde o lançamento em 2019, é o aplicativo Penha, criado pelo veículo jornalístico AzMina. Com mais de 11 mil usuários em todo o Brasil, a ferramenta busca fornecer às mulheres em situação de violência uma rede de apoio. Normalmente, pessoas em situações abusivas são distanciadas de familiares e amigos, então esse espaço serve para elas se informarem com a ajuda de outras mulheres que vivenciaram estórias semelhantes e conseguirem se reconhecer para romper o ciclo da violência.
"É uma ferramenta poderosa para que mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, de isolamento social, de isolamento de suas redes de afeto e de apoio possam se informar e pedir socorro. A gente acredita no enfrentamento da violência de gênero, que a violência contra a mulher passa exatamente por alguns passos: no reconhecimento dessa violência, na conscientização acerca disso e dos direitos, da formação dessa rede de apoio e finalmente na ação que vai dar um basta ao relacionamento abusivo. O Penhas reúne tudo isso e facilita todas as fases desse processo", ressaltou Marília Moreira, gerente de projeto no Instituto AzMina e coordenadora do aplicativo Penhas.
A Startup Terapia de Bolso é uma plataforma em que mulheres em situação de violência doméstica podem ter acesso on-line a um psicólogo e compartilhar suas vivências por esse ambiente que possui a segurança digital para evitar vazamento de dados e a leitura pelos algoritmos das redes sociais, o que impede que comece a aparecer anúncios nas páginas do computador e, com isso, evita a descoberta pelo agressor. Elias Balthazar, CEO da empresa, acredita que os empreendimentos devem sempre identificar problemas sociais e oferecer uma solução, principalmente no tema de violência de gênero, que, entre as prioridades, acredita que não é tratada como deveria pelo mundo empresarial.
Apesar de todo o empenho e contribuição com a facilitação de canais para as mulheres, Naira Liguori, diretora da Think Olga, frisa que essa é uma solução para levantar dados e agregar informações para compreender um cenário, melhorar o acesso ao atendimento. Porém, o combate deve ser feito também com políticas públicas e ações de educação, principalmente nas escolas.
"A gente [a entidade] se preocupa quando vemos problemas complexos sendo resolvidos de forma simplista. Não é o caso de invalidar tudo que está sendo feito, mas a gente sabe que aplicativos não resolverão tudo. A tecnologia tem o papel de tentar incorporar conversas e colocar hábitos no dia a dia das pessoas. Isso pode surtir alguma mudança, mas vejo a tecnologia como aliada, não como protagonista. A educação de meninos e meninas, das forças de segurança e da Justiça em relação à violência de gênero é a protagonista do processo", enfatiza.
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