religiosidade

Menina cearense, Benigna da Silva é beatificada pela Igreja Católica

Menina, que viveu na região do Crato, foi assassinada em 1941 e tornou-se símbolo da resistência das mulheres aos abusos sexuais

Thays Martins
postado em 25/10/2022 03:55 / atualizado em 25/10/2022 08:24
 (crédito: Nívia Uchoa/Governo do Ceará)
(crédito: Nívia Uchoa/Governo do Ceará)

A menina Benigna Cardoso da Silva foi beatificada, ontem, pela Igreja Católica. Assim, cearense que foi morta em 1941 se tornou a primeira mártir do estado a ser reconhecida pelo Vaticano. A beatificação foi autorizada pelo Papa Francisco, em 2019. A cerimônia foi conduzida pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e reuniu autoridades, como o ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT-CE).

Benigna se tornou símbolo de resistência por causa de uma tentativa de estupro, quando tinha apenas 13 anos. Por não ceder ao ataque, foi brutalmente assassinada a golpes de facão em Santana do Cariri, a 523km de Fortaleza, em 24 de outubro de 1941.

A cearense ficou órfã de pai e mãe ainda criança e foi criada pelos irmãos. De acordo com Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant'Ana, de Santana do Cariri, cidade natal da agora beata, Benigna era vista como especial ainda criança pela sua devoção a Deus e pureza. Segundo a história do crime, ela começou a ser assediada aos 12 anos por Raimundo Raul Alves Ribeiro, mas ela sempre rejeitou as investidas.

Em homenagem à beata, será inaugurado, em 2023, o Complexo de Benigna, que ficará próximo à capelinha do martírio, em Santana do Cariri. O local terá uma estátua da menina de mais de 20 metros.

Desde maio de 2019, o dia 24 de outubro é, também, o Dia de Combate ao Feminicídio no Ceará. A data foi instituída pela Lei 16.892, que prevê a realização de campanhas, debates e seminários para conscientizar a população sobre a importância do combate ao feminicídio e a outras formas de violência contra as mulheres.

Processo

A beatificação é um processo da Igreja Católica Apostólica Romana que autoriza que a pessoa tenha a imagem venerada. Isso pode ser feito por meio de um milagre reconhecido ou o martírio, um sacrifício em nome de Deus — por isso ela se torna um mártir. O processo é diferente da canonização, que é quando a beata vira santa. Para isso, é necessária a comprovação de pelo menos dois milagres e o Brasil, hoje, tem pelo menos 37 santos e 54 beatos reconhecidos pelo Vaticano.

De acordo com Leandro Lousada, fundador do canal Conhecimentos da Humanidade e graduado em Ciências da Religião, pela Universidade Unimais, Benigna está recebendo o título de beata por ser considerada pelas pessoas da região como alguém que pode interceder por aquelas pessoas. "A menina, teoricamente morreu para proteger a castidade dela, uma virtude associada aos preceitos da Igreja Católica, e como a Benigna morreu para defender uma virtude, ela não precisa comprovar milagre. A menina já pode ser automaticamente levada para um processo de martírio, sendo beatificada por isso", explica.

O processo de beatificação de Benigna teve início em 2011, com o pedido feito pela Diocese do Crato. Em 2013, foi formada uma comissão para analisar os relatos de pessoas que viveram com ela e possíveis milagres da menina. Em 2019, o Vaticano reconheceu seu martírio.

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