A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) estima prejuízos de R$ 15 milhões para as companhias aéreas associadas à entidade que tiveram suas operações suspensas durante pelo menos nove horas em decorrência de um acidente com avião de pequeno porte na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no último domingo. As operações só foram normalizadas ontem, e o incidente abriu uma série de debates sobre o funcionamento do terminal, leiloado em agosto deste ano para uma empresa espanhola.
No total, 320 voos comerciais foram cancelados. O acidente, entretanto, foi causado por um avião de pequeno porte. No início da tarde de domingo, o pneu de um Learjet 75, sob matrícula PPMIX, fabricado em 2015, estourou durante o pouso, causando interrupção da operação até as 22h daquele dia. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), a regularização ocorreu após a ampliação do horário de funcionamento do terminal, que funciona até as 23h. Após a reabertura, o aeroporto funcionou até a 1h de segunda-feira, quando, no horário comercial, os voos seguem até meia-noite.
Representante das empresas aéreas afetadas, a Abear emitiu dura nota sobre a importância de "restringir a operação de aeronaves de baixa performance na pista principal de Congonhas a fim de agilizar a recomposição da malha nacional e atender aos milhares de passageiros que precisam ser transportados ainda hoje (ontem) e nos próximos dias", explicou.
Em reação, a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) defendeu a operação geral, incluindo voos de carreira e executiva. "Representantes de companhias aéreas e da Abear, a associação que representa parte do setor da aviação regular, não tardaram em apontar o vilão da história: a aviação de negócios que opera em Congonhas. Será mesmo?", contestou a entidade por meio de nota.
A associação diz que "repudia qualquer tentativa de prejudicar as importantes operações da aviação geral em qualquer aeroporto no Brasil", e que "não faz sentido fazer de Congonhas um hub vital para a malha aérea nacional, aumentando slots e planejando ampliações faraônicas, sendo que jamais será possível manter operações de linha aérea em mais de uma pista".
Para o grupo, ainda, a principal medida deveria ser voltada para o controle de tráfego aéreo. "O ponto que a Abag entende ser necessário se discutir melhor é se existe sentido concentrar tantos voos em um aeroporto de tamanha importância com uma única pista apta a receber operações de linha aérea, como é o caso de Congonhas. Hoje é um avião de pequeno porte que estoura os pneus, mas amanhã pode ser algum outro motivo que torne a pista do aeroporto impraticável, e toda a malha aérea do país voltará a ser prejudicada."
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Histórico de problemas
A Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA) aponta equívocos na interpretação dos problemas vivenciados em Congonhas, embora os episódios não sejam recentes. Há exatos 15 anos, um Airbus A320 da TAM, atual Latam, vindo de Porto Alegre não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas, e se chocou contra um prédio da companhia aérea.
"Há uma máxima que diz que, para todo problema complexo, sempre há uma solução simples, rápida e errada", inicia a nota da entidade. "Infelizmente, por razões a serem ainda averiguadas, a liberação das operações em Congonhas demorou várias horas. O incidente em si, apesar da gravidade, felizmente, não causou maiores consequências para os tripulantes e passageiros, o que prova que a operação é segura", sustenta o grupo.
Além disso, a entidade lembra que os maiores acidentes envolveram aviões de grande porte e defende a continuidade da operação no aeroporto. "Os dados mostram que a aviação privada não apresenta qualquer risco adicional às operações em Congonhas. As operações no aeroporto são extremamente seguras, para todas as aeronaves que lá operam, sejam da aviação comercial, de táxi aéreo ou particular", diz Humberto Branco, presidente da AOPA Brasil.
O acidente e suas consequências levaram representantes da Abear a solicitar uma agenda de reuniões com a Infraero e abriu uma série de discussões sobre o futuro do aeroporto, leiloado na 7ª rodada de concessão de aeroportos, realizada pela Anac no último dia 18 de agosto. O valor total inicial a ser pago pelos vencedores representa um ágio médio de 116,94% em relação ao lance mínimo inicial total de R$ 938,4 milhões.
Liderado por Congonhas e composto, ainda, pelos aeroportos de Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul; Santarém, Marabá, Parauapebas e Altamira, no Pará; Uberlândia, Uberaba e Montes Claros, em Minas Gerais, o Bloco SP-MS-PA-MG foi arrematado pela Aena Desarollo Internacional SME SA por R$ 2,45 bilhões. Houve ágio de 231,02% em relação ao lance mínimo inicial de R$ 740,1 milhões.
Procuradas, tanto a Anac quanto a Aena não retornaram até a publicação desta reportagem.
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