MORTALIDADE INFANTIL

Crianças negras têm 39% mais chances de morrer antes dos 5 anos

Estudo da Fiocruz mostra o impacto da desigualdade racial na mortalidade infantil do Brasil

Izabella Caixeta* - Estado de Minas
postado em 06/10/2022 14:07 / atualizado em 06/10/2022 14:07
 (crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)
(crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)

Estudo da Fiocruz mostra como as desigualdades etnorraciais interferem diretamente na mortalidade infantil no Brasil. Crianças negras têm 39% mais risco de morrerem antes de completarem 5 anos. Realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), o estudo foi publicado na edição de outubro do The Lancet Global Health.

A pesquisa parte da percepção de que o racismo é um determinante social no Brasil e que diminui o acesso à saúde pelas populações negras e indígenas. “No Brasil, as injustiças raciais levam a maus resultados na saúde materno-infantil para populações negras e indígenas, incluindo maiores riscos de complicações relacionadas à gravidez; diminuição do acesso aos cuidados pré-natais, parto e pós-natal; e maiores taxas de mortalidade infantil”, afirma o artigo.

O estudo observou 19,5 milhões de crianças nascidas entre 1º de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2018 e concluiu que grande parte das mortes foi por causas evitáveis, como má nutrição e diarreia.


Entre as crianças negras, há duas vezes mais risco de morrer por má nutrição, 72% mais de risco de morrer por diarreia e 78% mais chances de morrer por pneumonia do que crianças brancas. A situação de crianças indígenas também é desoladora, com 14 vezes mais chances de morrer por diarreia, 16 vezes mais por má nutrição e 7 vezes mais chances de morrer por pneumonia.

Causas acidentais também foram consideradas pela pesquisa, mostrando que uma criança preta tem 37%, e uma criança indígena chega a ter 74% mais risco de morrer em um acidente do que crianças brancas.

Ao observar as mães, foi possível constatar que uma vez que a população negra tem menos acesso à educação e à serviços de saúde, iniciando o pré-natal tardiamente, colocamo a qualidade da gravidez em risco. É recomendado que as mães façam pelo menos seis consultas de pré-natal, mas o estudo mostra que quase um terço das mães indígenas e uma a cada dez mães negras fizeram apenas três consultas. Um reflexo desse dado é que 15% dos bebês indígenas nasceram prematuros, e desses, 90% nasceram com menos de 2,5 kg.

“Já existem as políticas Nacional de Saúde Integral do Povo Indígena desde 2002 e da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra desde 2006, mas elas precisam ter mais recursos para que sejam implementadas, e o estudo mostra essa necessidade”, afirma Poliana Rebouças, pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia que liderou o estudo, à Agência Fiocruz de Notícias.

 

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