MEIO AMBIENTE

Andorinha ameaçada de extinção é reencontrada no Rio Paraopeba

A andorinha-de-coleira Pygochelidon melanoleuca, atualmente criticamente ameaçada de extinção, foi reencontrada nas margens do Rio Paraopeba após expedição

Matheus Muratori - Estado de Minas
postado em 03/10/2022 18:53 / atualizado em 03/10/2022 18:54
Andorinhas-de-coleira namoram sobre as pedras do Rio Paraopeba. Espécie ameaçada de extinção -  (crédito: Gabriele Andreia da Silva)
Andorinhas-de-coleira namoram sobre as pedras do Rio Paraopeba. Espécie ameaçada de extinção - (crédito: Gabriele Andreia da Silva)

O namoro das aves e os ninhos com ovos entre as pedras à beira do Rio Paraopeba trazem esperança de que a andorinha-de-coleira, atualmente criticamente ameaçada de extinção, possa voltar a povoar o estado.

Uma população reprodutiva da ave Pygochelidon melanoleuca foi encontrada na bacia do Rio Paraopeba durante expedição de diagnóstico ambiental realizado por biólogos da mineradora Vale e especialistas acadêmicos.

A ocorrência da espécie em Minas Gerais era, até o momento, conhecida de poucos e isolados indivíduos observados nas bacias dos rios São Francisco e Paranaíba em um trecho de aproximadamente 60 quilômetros, entre os municípios de Pompéu e Curvelo.

A presença da espécie entre Pompéu e Curvelo apresenta dados inéditos e relevantes sobre o tamanho populacional e a biologia reprodutiva desses animais. Além disso, o diagnóstico tem produzido o mais completo conjunto de dados a respeito da biologia reprodutiva da espécie em todo o mundo.

O diagnóstico ainda descartou a existência de eventuais impactos do rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, sobre a população desses animais.

"Não havia estudos que demonstrassem a existência de uma população reprodutiva da andorinha-de-coleira no rio Paraopeba e é por isso que os dados obtidos neste monitoramento representam um enorme avanço no conhecimento sobre as populações desta espécie", destaca o biólogo e especialista em aves, Leonardo Lopes, professor da UFV.

Monitoramento das áreas

Segundo Leonardo, o monitoramento permitiu a documentação, até então inédita, da andorinha-de-coleira em plena atividade reprodutiva.

Estudos anteriores descreveram o ninho da espécie, mas nenhum pesquisador havia até então conseguido investigar detalhes sobre a sua reprodução. Isso porque a andorinha-de-coleira constrói seus ninhos em locais de difícil acesso, mais especificamente no interior de fendas localizadas nos afloramentos rochosos ao longo das corredeiras de rios.

Para chegar aos pássaros, a expedição contou com a experiência e o conhecimento de moradores locais, como o barqueiro Samuel Santos, um dos guias da expedição. "Conheço bem a região, sou ribeirinho, nascido às margens do rio São Francisco, e gosto de "passarinhar" por aí, sair em busca de pássaros. Sobre a expedição é uma alegria encontrar as andorinhas. Estar no meio dos pássaros faz bem para a alma, faz bem para o coração".

Como os ninhos da andorinha-de-coleira são de difícil acesso, para "visitar a casa das aves" foi necessário o uso de uma microcâmera própria para inspecionar locais com baixa luminosidade. O material que as aves utilizam para a construção do ninho, incluindo penas, folhas secas e fibras vegetais, é geralmente coletado nas margens, no próprio pedral ou nas pequenas ilhas de vegetação encontradas no leito do rio.

O monitoramento da biodiversidade em áreas impactadas e não impactadas pelo rompimento da barragem em Brumadinho, também chamado de Programa de Diagnóstico de Danos Ambientais sobre o Meio Biótico, é parte do Acordo de Reparação Integral assinado em 2021 pela Vale, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, pelos Ministérios Públicos Federal e do Estado de Minas Gerais e pela Defensoria Pública de Minas Gerais.

São monitoradas áreas de biodiversidade aquática e terrestre em 35 pontos do Rio Paraopeba entre Jeceaba e Três Marias, passando por Brumadinho, na confluência com o ribeirão Ferro-Carvão, local mais afetado pelo rompimento da barragem. Todas as atividades de monitoramento são acompanhadas pelos órgãos ambientais competentes.

"Quando monitoramos os locais impactados e não impactados é possível avaliar as condições ambientais de maneira ampla, e como o rompimento pode ou não ter influenciado a ocorrência, riqueza e distribuição da fauna e flora presentes ao longo da bacia do rio Paraopeba. Encontrar uma população saudável dessa espécie, em grande número e em novos pontos no rio Paraopeba é um importante indicativo ambiental e indica que o rompimento não interferiu na qualidade de vida dessas aves", ressalta Cristiane Cäsar, analista ambiental da Vale.

"Além disso, as expedições e os monitoramentos da Vale realizados em parceria com as instituições de ensino, ficarão como importantes fontes de pesquisas para as próximas gerações", complementa.

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