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Brasil afunda rumo ao apagão de professores, mostra pesquisa

Pesquisa mostra que as novas gerações não têm estímulo ao magistério devido à desvalorização enfrentada pela profissão

O descaso com a estrutura do sistema educacional tem feito com que os jovens se afastem da docência como carreira profissional. A constatação é de uma pesquisa do Instituto Semesp, divulgada ontem. O envelhecimento dos professores, cuja média de idade é acima dos 50 anos, subiu 109% entre 2009 e 2021. Em contrapartida, houve, no mesmo período, a queda no número de docentes até 24 anos em início de carreira — caiu 42,2%. As estatísticas, de acordo com o estudo, demonstram um risco para a educação, já que essa desproporção ameaça causar um "apagão" na profissão até 2040, com um deficit de 235 mil professores em todas as etapas da educação básica.

O Semesp calcula que, se forem consideradas 20 pessoas para cada docente ativo na educação, que dará aula para crianças e adolescentes entre três e 17 anos — matriculadas entre o ensino fundamental 1 e 2 e ensino médio —, serão necessários quase 2 milhões de profissionais para atender a demanda. Se a taxa de crescimento na docência se mantiver baixa, o resultado será um decréscimo, em 18 anos, que chegará a 1,74 milhão de profissionais em atividade.

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"O processo de desvalorização da educação tem sido intenso. Em alguns casos, costumamos dizer que há uma criminalização dos docentes em sala de aula que acaba afastando as pessoas de ir ensinar. É um processo profundo. O sentimento é que está sendo criminalizado pelos governos, com os parlamentares que colocam dúvida o que a gente ensina em sala de aula, como se a violência que acontece na sociedade nascesse da educação passada pelos professores", analisa Cléber Soares, diretor do Sindicato de Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF).

O Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de 2020 registrou que mais de 1,3 mil instituições ofereceram cursos de licenciatura, sendo 1,1 mil em universidades privadas e 196, em públicas. A maior procura foi para o formato de Educação a Distância (EAD). Os 73,2% de matriculados superaram os 37,6% do presencial — um aumento de 4,4% de ingressantes. No entanto, a evasão acompanhou, pois houve uma média de um a cada três alunos que desistiram da graduação. Das 696 mil pessoas que entraram no curso, apenas 243 mil concluíram — com destaque para o bacharelato em Pedagogia.

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Desinteresse

Outro fator que chama a atenção é o crescimento do número de pessoas acima dos 29 anos nos cursos de licenciatura. Em 10 anos, houve um aumento de 94,4%. "Esse aumento se dá, em sua maioria, por pessoas que já trabalham com educação. Isso acontece em razão de a lei que obriga o professor em exercício ter formação mínima na área de Pedagogia ou em licenciaturas para o magistério na educação básica", observa Lúcia Teixeira, presidente da Semesp.

A fuga de jovens tem uma razão: o desinteresse. O problema já ocorria antes da pandemia de covid-19, mas foi agravado pela calamidade pública. As questões de saúde na sala de aula que vieram junto com o novo coronavírus deixaram mais evidentes a precarização da profissão e a ausência de soluções. Junto a isso, soma-se a falta de reconhecimento da profissão com a baixa remuneração.

De acordo com o estudo do Instituto Semesp, se comparado o salário do professor com a média paga aos empregados de outras categorias, com ensino superior completo, há um desnível. Em 2020, um docente do Ensino Médio recebia, em média, R$ 5,4 mil mensais, enquanto outros trabalhadores ganhavam cerca de R$ 6,5 mil.

"Há o baixo reconhecimento social da profissão. Professores falam mais sobre as precárias condições de trabalho do que sobre as boas práticas que realizam. Acho que se querem enfrentar, de verdade, esse risco de apagão, tem que tornar a profissão mais atrativa. Ter um olhar social e o próprio professor se percebendo como detentor de uma função complexa, com orgulho das suas práticas", aponta Claudia Costin, diretora Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em 2021, o Brasil contava com 180 mil escolas de educação básica em funcionamento. Em 138 mil delas, 3,8% não tinham banheiro; 2,6% careciam de abastecimento de água, sendo que 5,8% dessas padeciam da falta de água potável; 2,5% sofriam com a falta de energia elétrica e 5,5%, de esgotamento sanitário; 21,6% estavam sem acesso à internet; e em 39,9% não havia sala de professores.

"Me chamou atenção que quase 40% das escolas estão sem sala do professor. Tem que ter um espaço para conversar, planejar. O Brasil terá que pisar no acelerador porque, com a pandemia, teve perda de aprendizagens muito importantes", avalia Cláudia Costin.