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Gravidez de Cláudia Raia aos 55 anos reacende esperança de maternidade madura

Número de mulheres grávidas, entre os 35 e os 39 anos, ascendeu nos últimos 20 anos, junto com a faixa etária entre os 40 aos 44 anos

Lauriene Pereira, 45 anos, colocou a carreira médica na frente da vida pessoal e, mesmo casada, deixou os planos da maternidade para depois. Como é ginecologista, com especialidade em reprodução humana, acompanhava o avanço dos métodos de fertilização e sabia que era possível. A primeira gravidez veio naturalmente aos 34 anos — idade próxima ao que chamam de limite da fertilidade, que acontece aos 35 —, mas perdeu o feto. Em seguida, houve mais quatro tentativas, todas sem sucesso. Lauriene realizou alguns exames e passou a saber que o motivo das perdas tinha raiz cromossômica, era um erro genético, por isso optou pela fertilização in vitro. Teve seu primeiro filho com 38 anos.

O caso de Lauriene é o de 71% das mulheres no Brasil, de acordo com um levantamento da Folha de São Paulo, realizado por meio dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, em 2019. O número de mulheres grávidas, entre os 35 e os 39 anos, ascendeu nos últimos 20 anos, junto com a faixa etária entre os 40 aos 44 anos. Os grupos somados apontam um crescimento de 60% desse perfil de maternidade tardia.

A própria ginecologista, que deu à luz aos 38 anos, afirma que 80% dos partos que realiza hoje são de pacientes acima dos 35 anos de idade. "É o mercado de trabalho, os métodos contraceptivos. A mulher tem mais controle sobre o corpo dela, tem inúmeras formas de prevenção, e isso influencia no planejamento da gravidez", afirma.

A maternidade tardia ganhou repercussão na semana passada, após o anúncio de gravidez da atriz Claudia Raia. Aos 55 anos, a artista celebrou a vinda do terceiro filho. No próprio relato, Cláudia conta que quando a médica pediu o exame Beta — usado para confirmar a gravidez — ela se surpreendeu. Claudia Raia chamou a profissional de "louca", pois a atriz está na menopausa. Marcado pela baixa ovulação, o período não impediu a atriz de viver uma uma nova gestação.

No caso de Claudia Raia, não ficou claro se a gravidez foi natural ou se a atriz fazia algum tipo de tratamento. Especialistas dizem que a gravidez é, a cada dia, mais possível em qualquer idade e isso é considerado uma vitória para as mulheres. "Antes, tinha meio que um prazo. A partir de 35 anos, a qualidade do óvulo cai, a capacidade de engravidar naturalmente cai. De uns cinco anos para cá, começou a realmente ter o congelamento disponível. Antes só se congelava o zigoto, método que tinha que ter um pai definido. Agora, onde está o limite? A ciência ainda não definiu um limite", indaga Priscila Levy, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, pós-graduada em medicina fetal.

A médica ressalta que o único impedimento é uma normativa do Conselho Federal de Medicina (CFM) de que não se pode inseminar uma paciente sem um laudo médico indicando que a mulher tem condições clínicas para gestar.

"Até os 55 anos é um momento legal. Depois disso, fica complicado para o organismo da mulher, mas ainda não tem bibliografia para isso. A partir da idade mais avançada, vai ficar mais perigoso, principalmente para as que já têm alguma comorbidade, como hipertensão, diabetes de difícil controle, cardiopatia", descreve Levy. "A gravidez traz um peso no organismo da mulher, sobrecarrega todas essas funções. Nas mulheres que já têm algo, agrava em um nível que oferece risco para a vida dela", alerta a especialista.

Psicológico

Para além das considerações científicas, a esperança de ser mãe desafia os limites do tempo. "Não importa a sua idade, o útero pode ser uma caixinha de surpresa. Nós aprontamos ele quimicamente, mas ele reage como quer", ouviu Lucy Mary Rocha, 50, do seu médico. Professora da educação especial, ela estava correndo contra o tempo, em 2020, em uma saga de tentativas in vitro.

Aos 48 anos, ela tinha urgência para ser mãe. Conseguiu engravidar, primeiramente, de Isaac. Na tentativa mais recente, no ano passado, engravidou de Esther. "A minha insistência foi porque, primeiro, fiz um check up. Minha médica me incentivou muito (a ter mais um filho), por eu ter uma saúde muito boa. Não tenho nenhuma comorbidade, tenho hábitos alimentares saudáveis, sou ativa profissionalmente", explica.

Pelos riscos que envolvem uma gravidez tardia, os cuidados devem ser maiores. Quando o primeiro filho estava com três anos, Lauriene ficou grávida pela segunda vez. Mas perdeu a criança em um aborto espontâneo. Lauriene tinha 41 anos e, com óvulos férteis em quantidade reduzida, pensou em uma fertilização in vitro com óvulos de uma doadora anônima. Enquanto ela e o marido avaliavam se aceitavam ou não os óvulos disponíveis, ela engravidou espontaneamente.

Lauriene lembra o turbilhão de emoções que sentiu. "Fiquei muito chateada, porque o risco de perder era grande, por causa da minha reserva [de fertilidade] e pelo medo de ter uma doença cromossômica. O medo de ter uma criança com doença grave era alto", relata. "No primeiro ultrassom, estava tudo perfeito. Fiz o teste genético, que é para o rastreio de doença cromossômica, veio normal. Tinha medo de fazer ultrassom e aparecerem alterações. O exame morfológico estava normal, o segundo ultrassom também. A partir disso, fui ficando mais animada: era possível ter um bebê saudável", conta. "No final de maio de 2020, Esther chegou. Eu ainda tinha pego covid-19, mas ela chegou super bem", comemora Lauriene.

A psicóloga clínica do Instituto Meraki Saúde Mental, Bruna Capozzi, afirma que o medo é o sentimento mais presente para as mulheres com gestação tardia. "Todos os cuidados já são diferentes, o próprio protocolo do que precisa ser feito é diferente. A grande vantagem é a maturidade", avalia.

"O medo de ter uma criança com doença grave era alto. (Mas) o exame morfológico estava normal, o segundo ultrassom também. A partir disso, fui ficando mais animada: era possível ter um bebê saudável"

Lauriene Pereira, 45 anos, médica

A minha insistência foi porque, primeiro, fiz um check up. Minha médica me incentivou muito (a ter mais um filho), por eu ter uma saúde muito boa. Não tenho nenhuma comorbidade, tenho hábitos alimentares saudáveis,
sou ativa profissionalmente",

Lucy Mary Rocha, 50 anos, professora da educação especial

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