Pelo menos dez gatos foram envenenados ou esquartejados nos últimos 40 dias em um condomínio de oito prédios no bairro Caiçara, região noroeste de Belo Horizonte, em Minas Gerais. De acordo com a síndica de um dos blocos, Nancy Moreira, “é de uma crueldade sem tamanho. Somente essa semana já encontramos três corpos”. Moradores relatam que o prédio é visitado por muitos gatos constantemente. A Polícia Civil investiga o caso.
A síndica explicou que os corpos foram encontrados em diversos locais, ela e outros síndicos recebiam notícia dos moradores dizendo que haviam gatos mortos nas dependências do condomínio. Nancy mora no local há 52 anos e diz que não faz ideia de quem possa ter cometido o crime.
“Todo mundo sabe que aqui tem muito gato de rua, nós sempre deixamos comida e água para todos. A maioria só come e vai embora, esses que morreram são gatos que entraram no condomínio”, diz Moreira.
Ainda de acordo com ela, desde a primeira morte, no dia 9 de abril de 2022, foram registrados boletins de ocorrência. “A Polícia Militar tentou de tudo, fizeram uma vistoria no condomínio e não encontraram nada, nenhum pingo de veneno. Depois que eles vieram aqui, teve uma trégua de dois meses na matança, depois começou tudo outra vez”.
Imagens das câmeras de segurança foram analisadas, mas o suspeito não foi identificado. Há desconfiança de que o criminoso conheça o local, já que todos os corpos dos gatos foram vistos em locais fora do raio da câmera. “ Além disso, os gatos mortos e até os que estavam esquartejados não tinham uma gota de sangue perto. Não sei como isso pode acontecer, ficamos ainda mais preocupados”, contou a síndica.
Os moradores não desconfiam de ninguém até o momento. Algumas amostras de comidas possivelmente envenenadas foram encontradas e serão levadas para a perícia técnica.
Saiba Mais
Moradores pensam em se mudar do local
Carina Araújo mora no local há cerca de um ano e meio e pensa em se mudar do condomínio. Ela é conhecida como a “menina dos gatos”, pois sempre ajuda a resgatar, cuidar e tentar lares adotivos para os pets que aparecem nos prédios.
“Não teve um único dia desde que eu vim morar aqui que essa questão de envenenamento dos gatos não era tocado em conversa entre os vizinhos”. Ela conta que um dos episódios que mais a marcou aconteceu no ano passado.
Ela e a síndica Nancy resgataram um gato apelidado de Neguinho, castraram e deram os cuidados necessários para ele. “Em uma noite, a dona Nancy começou a gritar dizendo que ele estava morrendo. Cheguei lá, ele tinha sido intoxicado. Foi um verdadeiro alvoroço, não conseguimos salvar ele”.
Para piorar, ao voltar para a casa, a sua gata Mel tinha sido intoxicada também. Dessa vez, deu tempo de salvá-la. Porém, meses depois, ela saiu para andar pelo condomínio e não voltou para casa. “Eu só encontrei o corpinho dela no local que ela amava brincar perto de casa”.
Carina diz estar com problemas psicológicos sérios e está fazendo terapia para lidar com os traumas. “Nenhum animal está seguro aqui, e acho que nenhuma pessoa está segura também. Quem mata os bichos assim mata gente”.
No último sábado (17/9), uma outra morte de um gato, chamado Dengo, revoltou Carina. “Pra mim foi a gota d’água, se alguém quer brincar de assassino tem que lidar. Isso tem que acabar”. Ela também destaca a dificuldade nas investigações, pois as imagens são em preto e branco e com pouca nitidez.
Ela afirma que desconfia que seja alguém mais velho, que não goste de gato e que não esteja agindo sozinho. “Os venenos apareceram em diversos pontos dos blocos, ou é mais de uma pessoa, ou essa pessoa age muito estrategicamente”.
Maria Magalhães é tutora de July, uma gata siamesa de 4 anos que também foi assassinada na última semana. De acordo com Maria, a gata era companheira de seu pai, que é viúvo há cinco anos. “Ela era a nossa princesa, sempre foi muito mimada por nós e amada por toda a família. Durante a pandemia, ela foi a melhor amiga dele”.
Magalhães explica que ela era uma gata caseira, muito quieta. Sempre que alguém saía de casa, July costumava esperar o retorno das pessoas no estacionamento. No dia que foi encontrada morta, a dona explicou que estacionou o carro e não a viu no estacionamento.
“Quando eu cheguei lá e não a vi, fiquei preocupada porque, dias antes o pessoal já estava comentando que tinha gato sumindo. Então eu subi, quando abri a porta ela estava morta, com espuma perto da boca e com a barriga inchada. Desconfiei na hora que era envenenamento”, disse.
Ela argumenta que espera que as autoridades resolvam logo essa questão, pois os casos são muito frequentes e estão deixando os moradores muito apavorados. “E não acontece somente com gatos, parece que tem casos de envenenamento com cachorros também”.
A moradora desconfia que seja alguém de dentro do condomínio. “Porque eu acho difícil alguém de fora, tem que ter algum motivo além da desumanidade e da loucura para fazer isso. Essa pessoa não gosta de gato. É importante ressaltar que os gatos não entram nas casas uns dos outros. E digo mais, quem tem gato não recusa visita de outros, nós sempre lidamos com isso”, contou.
A Polícia Civil informou em nota que "instaurou procedimento investigativo, ao tomar conhecimento do crime de maus-tratos a gatos ocorridos em um condomínio residencial situado no bairro Monsenhor Messias, na capital. A nota diz ainda que foram requisitados "exames periciais e os trabalhos investigativos estão em andamento pela Delegacia Especializada em Investigação de Crime Contra a Fauna".