A professora de farmacologia Débora Rufino chamou atenção nas redes sociais por um vídeo publicado por sua aluna Natália Nascowight. Nas imagens, ela carrega a bebê da estudante, enquanto leciona. A cena aconteceu durante uma aula para alunos dos terceiro e quarto períodos do curso de enfermagem na UNIP, em Recife.
Natália conta que precisou levar a bebê para a sala de aula, mas que ela estava muito agitada. “Ela mamava e parava várias vezes, ficava dando gritinhos e resmungando. Até porque ela estava com sono, coitada”, lembrou a mãe. Com isso, a professora acabou se desconcentrando e resolveu chamar a atenção da pequena Ester enquanto passava o conteúdo para os alunos. Débora começou a dar aula com voz de bebê e a pequena gostou e até prestou atenção. Mas não parou por aí: a professora pediu para pegar Ester no colo e ficou um tempo com ela no braço, enquanto a mãe terminava de fazer anotações. “Ela ficou bem quietinha, prestando atenção em tudo”, contou.
Além da pequena Ester, Natália tem outros dois filhos: Nathan e Lívia. Com a correria da vida de doula e estudante, acontece de precisar levar a filha para a faculdade. “Geralmente deixo pelo menos dois dormindo antes de sair, mas não gosto quando ficam os três acordados, aí levo um, geralmente a bebê. Tento não levar, mas quando preciso levo sim”, explica.
Segundo a mãe, a presença dos filhos na sala de aula não perturba professores e alunos. “Eles nunca atrapalharam a aula, mas algum imprevisto eu sempre saio da sala. Mas assim com tanto carinho nunca tinha acontecido”, aponta.
Mãe e estudante
Natália conta que ser mãe é uma realização pessoal. “Sempre sonhei em ser mãe e planejei todos os meus filhos, o desafio pra mim não é ser mãe e estudante, mas simplesmente o fato de ser mãe numa sociedade que não respeita mães e crianças”, explica.
Ela, que é representante de turma, conta que um grupo de alunos fez uma reclamação à outra representante, alegando que a presença da criança atrapalha o desempenho nas aulas. “Eu fiquei profundamente chateada, tanto pela reclamação em si, porque os próprios alunos fazem muito mais barulho, quanto pelo fato de terem ido falar com terceiros, sendo que eu além de ser também representante, sou a mãe. Me senti desrespeitada, calada, invisibilizada”, desabafa.
Aula de empatia
A professora Débora define o episódio como natural. “É uma situação que requer uma aptidão com crianças, sensibilidade e que o número de alunos com filhos seja reduzido, porque, se todo mundo tivesse com filho, não teria como”, avalia.
Ela conta que Ester estava tranquila, mas que queria interagir na sala de aula. Enquanto isso, a turma dispersou do conteúdo, prestando atenção na fofura da criança. “Foi quando eu tive a ideia de pegar a bebê para distraí-la, receber a atenção e poder participar de alguma forma”, contou.
O resto da classe achou engraçado no começo, mas logo puderam se concentrar novamente na lição. “Não foi a primeira vez que a Natália teve a necessidade de levar os filhos, a criança não incomodou. Ela estava num ambiente diferente do que é comum para ela, mas era muito mais saudável interagir com a criança e conseguir chegar à aula com sucesso do que fingir que a criança não estava lá. Foi a solução mais simples e mais tranquila”, avaliou.
A professora, que tem um perfil fechado nas redes sociais, confessa que a sensação da fama nas redes é muito nova. “Todos os dias têm pessoas pedindo para seguir. Foi uma sensação muito boa, porque ajuda as pessoas a entenderem que fazer sua parte é uma coisa simples, não precisa de muito holofote”, pontua.
Para ela, o ato foi uma forma de ensinar ao próximo o papel da empatia. “Eu queria que as pessoas entendessem que o processo de formação do profissional passa pelo nosso crivo de empatia também. A enfermagem empática, de se colocar no lugar do outro, a educação consegue levar a gente a lugares inimagináveis e a empatia está nesse lugar, não é só conteúdo”, ensina.
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