Estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que uma a cada cem mortes no mundo ocorrem por suicídio. Os dados foram divulgados em 2021 e são referentes a 2019. Anualmente, mais pessoas morrem por tirarem a própria vida do que em decorrência da malária, HIV (sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana, causador da Aids) ou câncer de mama.
Para combater essa epidemia, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria criaram o Setembro Amarelo. A iniciativa existe desde 2015, com o objetivo de conscientizar acerca de saúde mental e formular ações para prevenção do suicídio.
"Não podemos e não devemos ignorar o suicídio. Nossa atenção à prevenção do suicídio é ainda mais importante agora, depois de muitos meses convivendo com a pandemia de covid-19, com muitos dos fatores de risco para suicídio — perda de emprego, estresse financeiro e isolamento social — ainda muito presentes", alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Em 2021, a OMS delineou orientações com o intuito de conter as taxas de suícidio, ato considerado prevenível em grande parte dos casos. As recomendações fazem parte da Campanha Live Life, sendo composta por quatro estratégias:
- Limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo altamente perigosos;
- Educar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio;
- Promover habilidades socioemocionais para a vida em adolescentes;
- Identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.
Setembro foi o mês escolhido porque desde 2003 a OMS instituiu 10 de setembro como o dia mundial da prevenção do suicídio. Para a psicóloga Nataly Padilha, a campanha é importante para propagar informações úteis para quem sofre ou não de algum transtorno. Ela ressalta, ainda, que doenças como a depressão também estão relacionadas a fatores sociais, a exemplo da insegurança financeira e alimentar; preconceitos de raça/cor, gênero e sexualidade; violência física e psicológica; assédio moral ou sexual.
"Portanto, para além do tratamento individual, enquanto algumas questões na organização da nossa sociedade não mudarem, dificilmente haverá melhora na quantidade de pessoas com certos transtornos (como depressão, ansiedade e burnout, por exemplo)", defende a psicóloga. A especialista lista alguns sinais que indicam que a saúde mental de uma pessoa está afetada:
- Sentimento de inadequação;
- Tristeza constante;
- Insônia, libido baixa;
- Vontade de se machucar;
- Vontade de "sumir";
- Vontade de "dormir pra sempre";
- Dificuldade para ler/concentrar-se;
- Dificuldade em manter amizades ou formar vínculos;
- Ausência de prazer em atividades que antes eram prazerosas;
- Raiva ou estresse excessivo (e a dificuldade de lidar com isso).
Segundo a neuropsicóloga Aline Martinez, ainda existe uma barreira para falar sobre o suicídio, considerado uma questão de saúde pública mundial. A profissional alerta que se afastar das pessoas ou ignorar pensamentos suicidas só agrava a situação. “Existe uma ideia muito errada de que quem diz que ‘quem vai se matar não avisa, apenas se mata’. Isso é completamente falso. Portanto, nunca ignore um comentário sobre suicídio. Pelo contrário, leve a sério. Nesse caso, o que você pode fazer é conversar com a pessoa sobre isso e estimulá-la a procurar ajuda profissional o quanto antes”, recomenda a especialista.
Como ajudar alguém em sofrimento psíquico?
Além da ajuda profissional, há algumas ações que podem ser adotadas para ajudar quem está em sofrimento psicológico. A psicóloga Nataly cita o modelo de comunicação não agressiva como uma das formas. Procurar sempre ouvir e respeitar o espaço do outro é importante nesse processo.
“Muitas vezes, não há necessidade, sendo amigos ou familiares, de abordar as dificuldades das pessoas toda hora! Ao invés disso, é muito mais importante dizer que percebe a dificuldade e que está ali caso a pessoa precise/queira,e apenas manter a convivência em atividades de lazer ou cotidianas, sempre que possível. É excelente ter momentos de qualidade com a pessoa, em que assistam filmes, ouçam músicas que gostem, falem besteira juntos, esse tipo de situação de parceria e leveza”, orienta a profissional.
A neuropsicóloga Aline Martinez acrescenta, listando outras ações:
- Ouça com atenção, acolha: Ouvir o que a pessoa tem a dizer é uma das melhores formas de ajudá-la;
Olhe nos olhos, preste atenção e leve em consideração o que ela está dizendo, sem desmerecer a sua condição, ofereça acolhimento, sem julgamentos. - Estimule-a a procurar ajuda profissional;
As suas intenções poderão ser as melhores, mas elas não substituirão o tratamento de um profissional. disso, sugira acompanhar a pessoa na terapia. - Relacionamentos são um fator de proteção para quem tem depressão;
Pessoas muito sozinhas estão mais suscetíveis a sofrer com a doença até que se agrave. - Desencoraje o consumo de álcool e drogas;
Álcool e drogas são válvulas de escape para quem tem depressão e podem piorar o quadro pelo efeito depressor. - Sugira a prática de esportes;
A atividade física é uma grande aliada de quem está em depressão. Além de fazer bem para corpo e mente, a atividade física é um incentivo para sair de casa e socializar. - Incentive a socialização;
Quando a pessoa em tratamento estiver se sentindo mais disposta, tente fazer com que ela saia de casa e conviva com outras pessoas. No começo provavelmente será difícil e ela irá relutar. Mas não desista e muito menos leve as negativas para o lado pessoal. - Reforce o fato de que a depressão é uma doença que tem tratamento; Não faça comentários sugerindo que a pessoa tem falta de Deus ou falta de vontade de sair da situação, julgamentos não ajudam.
Onde procurar ajuda?
O Centro de Valorização da Vida (CVV) fornece atendimento voluntário e gratuito às pessoas que queiram conversar. O serviço é disponibilizado por email, chat e telefone (188) todos os dias. Além disso, cabe destacar que instituições universitárias com curso de psicologia geralmente disponibilizam atendimento psicológico gratuito à comunidade.