O Bar da Cledir abre dia e noite há 22 anos, invariavelmente. O tradicional ponto de encontro fica na Av. Augusto de Lima, 685, no Centro. Mas, no último domingo (18/9) o bar fechou por um motivo inusitado, e muito alegre.
Cledir de Fátima da Silva, de 46 anos, ficou noiva e resolveu fechar o bar para comemorar o noivado com amigos e funcionários. A festa foi tão grande que, no dia seguinte, o bar ainda estava fechado. “Eu tinha que levar eles comigo, eles são meus companheiros na alegria e na tristeza”, disse a dona.
Uma cliente chamada Cibele Maia relatou que “eu trabalho ao lado do Minascentro, do Mercado Central. Eu paro o carro ao lado do bar da Cledir. Ela nunca fecha! Antes da Araújo ser 24 horas, Cledir já trabalhava 24 horas. Todos os dias da semana! Cledir vende almoço, jantar e bebida. Cledir vende torresmo cabeludo e acolhe as pessoas. Cledir arrumou um quartinho e acolheu um morador de rua que estava desempregado. Agora ele é eternamente grato à Cledir e recicla papel, papelão etc na região.
Cleidir tem uma parede inteira de fotos dela preta e branca com celebridades: Obama, Jay-Z, coisa fina. Ela fez photoshop na cara da Michelle e colocou a dela no lugar, colocou o rosto no lugar da Beyoncé e por aí vai. Hoje pela primeira vez na vida o bar da Cledir fechou.”
A dona contou que as plaquinhas foram uma brincadeira dos funcionários, em comemoração ao casório. “Eu espero conseguir fazer o casamento no meio da Augusto de Lima. Tomara que o prefeito libere a rua.”
Belo Horizonte é considerada a capital dos botecos, pela quantidade de bares tradicionais espalhados pela cidade, e por lei - sancionada pelo prefeito Márcio Lacerda - em 24 de junho de 2009.
O bar abriu em uma segunda-feira, no dia 4 de setembro de 2000. De acordo com Cledir, sempre foi o sonho dela ter um bar para receber as pessoas. “ A minha ideia de ter um bar que não fechasse veio porque, quando eu trabalhava de garçonete aqui na região, via o pessoal sair da balada procurando outros bares para ir. E quando eu comecei, era tudo muito difícil, então eu queria trabalhar 24h para ganhar o máximo de dinheiro possível”, disse.
Ela abriu o bar a partir de gorjetas que conseguiu no outro emprego. “Naquela época o Centro de Belo Horizonte era lotado de bar 24h, foi difícil”.
Ainda de acordo com Cledir, sua clientela sempre foi muito fiel. “Meu público desde o começo sempre foi muito diverso, o pessoal sai das baladas e vem pra cá, conversa comigo, se diverte mesmo. O público LGBT são os que mais aparecem por aqui, eu adoro”. Além deles, garçons e garçonetes também frequentavam o bar após o expediente.
Paulo Donizete Costa, entregador do açougue Rei da Carne - fornecedor de Cledir - disse que frequenta o bar desde o começo. “Lá é tudo ótimo, tem almoço e tira gosto. Tudo uma delícia!! Tem um torresminho ótimo”, disse.
Quando Paulo viu a placa dizendo “luto”, ficou preocupado, pensando que tinha acontecido algo de ruim com Cledir. Assim que entendeu a história, ficou muito feliz por ela estar “mais viva do que nunca”.
Cledir explica ainda que sempre dizia que não iria se casar devido à rotina e ao tipo de trabalho que faz. “Não é qualquer rapaz que aceita não, trabalho à noite e, em bar, são algumas dificuldades”.
Para ela, o carinho das pessoas é essencial. “Inclusive os convidados que eu chamei são casais LGBT, que eu já tenho muita intimidade. E se tudo der certo, eu quero que eles façam o meu vestido. De onde eu vim e até onde eu cheguei, eu preciso ter total gratidão a esse público”.
*estagiária sob supervisão do editor Benny Cohen
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