Violência

Milícias se expandem pela região metropolitana do Rio, mostra levantamento

Levantamento aponta expansão das milícias na região metropolitana da capital. Mais de 4,4 milhões de pessoas estão sob o jugo do crime organizado. Especialistas defendem ações permanentes

João Gabriel Freitas*
postado em 14/09/2022 03:55
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

A área de influência das milícias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro cresceu 387,3% entre 2006 e 2021, de 52,60km² para 256,28km². Isso significa que 10% do Grande Rio está sob domínio desses grupos. Os dados são do Mapa dos Grupos Armados, estudo do Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), lançado ontem. Além do crescimento de milícias, a pesquisa revela que 20% da região está sob o domínio de algum grupo armado.

Segundo cálculos do estudo, o poder das organizações criminosas afeta 4,41 milhões de pessoas na capital fluminense. Entre os grupos conhecidos, a facção Comando Vermelho controla a maior concentração populacional, com 2.042.780 habitantes. O grupo expandiu sua região de influência em 58,8%, de 130,26km² para 206,83km². No entanto, mesmo com altas nos números absolutos, houve uma redução de 31,2% na participação do CV sobre o total das áreas controladas — em 2006 era de 58,6% e passou para 40,3%.

Nesse sentido, segundo relatório do Instituto Fogo Cruzado, as milícias são as principais responsáveis por esse aumento do domínio de grupos armados. "A análise da série histórica permite constatar que a maior parte da expansão das milícias ocorreu por incorporação de áreas onde antes não havia controle territorial algum e não por meio da conquista de espaços controlados por outros grupos", analisa o estudo.

Maria Isabel Couto, diretora do Fogo Cruzado, é enfática ao dizer que desconhecer as organizações criminosas e como elas se articulam regionalmente é um atraso para a gestão pública. "Não conhecer a dinâmica das milícias e facções é desperdício de dinheiro público, é fazer política sem conseguir monitorá-las."

Para Ignacio Cano, professor de segurança pública da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), combater as milícias é mais difícil do que outros grupos armados porque elas estão integradas a membros do próprio Estado. Cano afirmou que as investigações são mais eficientes do que as ações bélicas em campo, mas é necessário uma complementação para recuperar o poder sobre o território. "Mesmo que prenda um ou dois milicianos, se você não ocupa aquele território, eles continuam exercendo o domínio e suas atividades na região", observou o especialista.

"Aliado à relativa omissão por parte do estado, o que contribui para a ascensão das milícias é o enfraquecimento do tráfico. Em segundo plano, as milícias ficaram mais dispostas a incluir o tráfico entre suas atividades", descreveu o especialista. "Para evitar o domínio de grupos armados, o Estado tem que se fazer presente, pelo menos durante um tempo, até que as relações mudem e seja inviável a presença dos grupos. Se o Estado não se faz presente de forma ativa por meio de patrulhamento, além da investigação, não vejo a possibilidade de acabar com esses grupos", acrescentou.

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pri-1409-milicia (foto: pri-1409-milicia)

Regiões dominadas

O Mapa dos Grupos Armados mostra que a Baixada Fluminense é palco de uma grande disputa entre as organizações criminosas. Ao todo, 63,1% dos 89.38km² de expansão total do Comando Vermelho foram conquistados na região. A Baixada é também onde o Terceiro Comando Puro apresenta maior avanço nos últimos oito anos — 16,22km² dos 20,99km² de aumento territorial.

Já no Leste Metropolitano, formado por municípios como Niterói e São Gonçalo, há hegemonia de uma única facção. Ao longo de todo o período, o Comando Vermelho é prevalente.

Na capital do estado, 29,8% do território é dominado por algum grupo armado. As milícias assumiram a primeira posição como maior grupo armado há cerca de uma década. Elas controlam 74,2% das áreas ocupadas por grupos armados na cidade do Rio de Janeiro.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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