Aproveitando as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, neste 7 de Setembro, o Palácio de Itamaraty recebe, a partir desta quinta-feira, uma exposição aberta ao público que tem como objetivo contar a história do país pela diplomacia durante 200 anos desde o grito do Ipiranga de Dom Pedro I. Compõem a mostra painéis e fotos de documentos raros, como mapas antigos e publicações do acervo do conjunto do Itamaraty no Rio de Janeiro.
Organizada pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), Brasil 200 anos — Percursos da diplomacia conta com 54 painéis com 4,4 metros quadrados, cada um ilustrado com imagens de pinturas — como o esboço do grito, de Pedro Américo, que está pendurado em uma das paredes do último andar da sede da chancelaria brasileira.
O período coberto pela exposição se estende até a transferência do Itamaraty para Brasília, em 1970, uma década após a fundação da nova capital federal. "Muita gente que mora no Rio não sabe que a primeira sede da República foi o Palácio do Itamaraty, antes de sediar a chancelaria", destaca a responsável pela curadoria da exposição, a presidente da Funag, embaixadora Márcia Loureiro.
O objetivo da exposição, segundo ela, é ressaltar a visão de estadista dos principais personagens da diplomacia brasileira e a contribuição do trabalho diplomático, por mais de dois séculos, para a promoção pacífica dos interesses nacionais, na formação e consolidação das fronteiras, na defesa dos valores da população e da projeção internacional do Brasil. Ela reforça que o mapa do Brasil de hoje está diretamente relacionado com a história da diplomacia no país.
O Brasil tem o seu desenho atual como resultado de pouquíssimas guerras e de muitas negociações feitas pelos principais personagens da história brasileira, como os diplomatas Alexandre Gusmão e José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, respectivamente, o avô e o patrono da diplomacia brasileira, de acordo com a presidente da Funag. Ambos ganharam notoriedade por negociarem as fronteiras sem a necessidade do uso da força e de armas, mas com diálogo, o que é visto pelos especialistas como um feito heróico já que, desde a Guerra do Paraguai (de 1867 a 1870), não houve conflitos entre os 10 países que fazem divisa com o Brasil.
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Patrono estadista
O Barão do Rio Branco tem destaque especial na exposição, porque a Fundação tem um riquíssimo material sobre ele, inclusive uma foto da mesa do estadista abarrotada de papéis. Ao comentar sobre o perfil do patrono da diplomacia brasileira, que evitava conflitos de forma pioneira, a embaixadora ainda cita uma das frases destacadas em um dos painéis da exposição, quando ele expôs motivos sobre o Tratado de Petrópolis, de 1903, que selou o acordo diplomático entre os governos brasileiro e boliviano que anexou o território do Acre ao Brasil: "A combinação em que nenhuma das partes interessadas perde, e, mais ainda, aquelas em que todas ganham serão sempre as melhores".
"Esse é o espírito do Barão do Rio Branco. Ele pensava como um estadista. Ele não queria massacrar os vizinhos e buscava soluções que deixassem todo mundo satisfeito. Ele tinha uma visão de longo prazo. Tinha noção da importância de construir uma relação amistosa de longo prazo com os vizinhos. E ele tinha essa visão no início do século XX. Acho uma coisa admirável, sinceramente", analisa Márcia Loureiro, destacando que o princípio dele é buscar um país grande entre vizinhos igualmente grandes e fortes.
Documentos raros
A embaixadora detalha que escolheu documentos raros, de valores inestimáveis, e que pouquíssimas pessoas já tiveram acesso para ilustrar a exposição. Entre eles, o mapa-múndi em que o Brasil aparece pela primeira vez, no canto superior direito, em uma perspectiva diferente dos mapas atuais. A carta topográfica, desenhada por italiano, foi comprada pelo Itamaraty em 1912 é um dos itens inéditos escolhidos pela curadoria.
Outra relíquia retratada na exposição é a declaração do rei de Portugal Dom João VI, reconhecendo a Independência do Brasil, três anos depois do grito do Ipiranga, em 1825. O documento foi restaurado para as celebrações do bicentenário da Independência. "Essa declaração fica no antigo palácio do Itamaraty, no Rio, e evitamos o transporte para Brasília porque é muito delicado", explica a embaixadora.
Construção pacífica
Os textos que estruturam a narrativa da exposição são de autoria do embaixador Gonçalo de Mello Mourão, um dos coordenadores do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência (GT200) do MRE. "O país é o resultado do triunfo da diplomacia", resume o embaixador. "O que o Brasil desfruta hoje é graças a todo esse esforço de construção pacífica das nossas fronteiras."
Mourão reforça o princípio do Barão do Rio Branco de que a melhor maneira de garantir a segurança de um país é pela diplomacia e não com armas. "Não é comprando armas, fazendo bomba atômica. Nada disso assegura a segurança. de um estado. Isso assegura o temor. Mas a segurança e a boa vizinhança é assegurada pelo que o Barão está falando", destaca.
O embaixador também é autor de uma das obras lançadas neste ano pela Funag, na coleção do bicentenário da Fundação. O livro A revolução de 1817 e a História do Brasil, conta, em dois volumes, sobre o movimento pernambucano que antecedeu a Independência do Brasil, em 1822. Ele explica que levou um ano e meio para realizar as pesquisas e escrever a obra. No segundo volume, estão os documentos diplomáticos para a revolução que, apesar do fracasso, foi fundamental para criar o movimento para o país deixar de ser uma colônia portuguesa. A coleção tem 27 obras publicadas, das quais 20 no formato impresso. Mas todos os volumes podem ser baixados gratuitamente na biblioteca virtual da Funag.
"Estamos em um processo de reedição de obras que tinham edições esgotadas e que eram encontradas apenas em sebos", ressalta a presidente da entidade. A Funag, segundo Mácia Loureiro, possui cerca de 900 títulos publicados desde a fundação, em 1971. Para baixar, acesse www.gov.br/funag.
Amanhã, os painéis serão apresentados para convidados e autoridades dos países de língua portuguesa — Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste — durante um coquetel fechado na sede da chancelaria.
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