7 de setembro

Dom Pedro 1°: os planos do governo brasileiro para o coração embalsamado do imperador

O coração e a urna em que ele está guardado foram brevemente expostos no Porto antes de partir para a viagem transatlântica

O coração embalsamado de Dom Pedro 1°, primeiro imperador do Brasil, chegou a Brasília nesta segunda-feira (22/8) para as comemorações do bicentenário da independência do país.

O coração, que está conservado há 187 anos em um frasco de vidro com formol, viajou a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, trazido do Porto, em Portugal, onde fica guardado na igreja de Nossa Senhora da Lapa.

A relíquia chegou a Brasília acompanhada pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

Amanhã (23/8), o coração será recebido no Palácio do Planalto e, em seguida, haverá cerimônia no Palácio Itamaraty, com a presença do corpo diplomático estrangeiro.

O coração ficará exposto para visitação pública no Palácio Itamaraty de 25 de agosto a 5 de setembro e retornará ao Porto em 8 de setembro, segundo nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores.

A Câmara Municipal do Porto autorizou a transferência do órgão preservado para as comemorações do bicentenário do Brasil.

Moreira disse que a relíquia voltará a Portugal depois de aproveitar "a admiração do povo brasileiro".

"O coração será recebido como um chefe de Estado, será tratado como se Dom Pedro 1° ainda vivesse entre nós", disse o chefe do cerimonial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Alan Coelho de Séllos.

Haverá uma saudação com tiros de canhão e a relíquia será recebida com uma guarda de honra e todas as honras militares.

"O Hino Nacional [será tocado] e o Hino da Independência, que por sinal foi composto por Dom Pedro, que além de imperador era um bom músico nas horas vagas", disse Séllos.

Quem foi D. Pedro 1º

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE
Quando D. João retornou a Portugal em 1821, ele deixou o jovem de 22 anos para governar o Brasil como regente

D. Pedro 1º nasceu no ano de 1798 como parte da família real de Portugal, que na época também governava o Brasil.

Portugal já era um império colonial decadente, tinha perdido a força marítima de séculos antes e sofria com problemas políticos e econômicos.

D. João 6º, retratado por historiadores como um mandatário indeciso e vacilante, havia assumido efetivamente o poder no final do século 18 com a morte de seu irmão mais velho e a deterioração do estado mental da rainha, Maria 1ª.

A ascensão de Napoleão Bonaparte e seu ímpeto expansionista pelo continente europeu, no início do século seguinte, levaram D. João 6ª a uma fuga caótica de Portugal — a corte e a infraestrutura real foram amontoadas às pressas em navios e parte da comitiva foi apedrejada pela população no caminho para o porto.

Importante episódio da história brasileira, a vinda da família real em 1808 também representou uma situação inédita na trajetória da Europa: pela primeira vez, um rei do continente colocava os pés no "Novo Mundo".

O príncipe Pedro, filho de D. João 6º com a espanhola Carlota Joaquina, tinha 9 anos quando aportou no Brasil.

Quando D. João retornou a Portugal em 1821, ele deixou o jovem de 22 anos para governar o Brasil como regente.

DOMÍNIO PÚBLICO
D. Pedro 1º e Dona Leopoldina em pintura de Arnaud Pallière

Um ano depois, o jovem regente desafiou o Parlamento português, que buscava manter o Brasil como colônia, e rejeitou sua exigência de que ele voltasse ao seu país de origem.

Em 7 de setembro de 1822 ele proclamou a independência do Brasil e, logo depois, foi coroado imperador.

Antes do retorno a Portugal, por sinal, D. João 6º disse: "Pedro, se o Brasil se separar, antes seja por ti, que me hás de respeitar do que para algum desses aventureiros".

Esse cenário influenciou D. Pedro 1º até o momento da notória frase "como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico", publicada em um edital do Senado em 10 de janeiro de 1822 — e não proferida no dia anterior como se pensa popularmente.

D. Pedro voltou a Portugal para lutar pelo direito de sua filha de ascender ao trono português e morreu aos 35 anos de tuberculose.

BIBLIOTECA NACIONAL
Quadro de François-René Moreaux que retrata a proclamação da independência brasileira

Em seu leito de morte, o monarca pediu que seu coração fosse retirado do corpo e levado para a cidade do Porto, onde está guardado no altar na igreja de Nossa Senhora da Lapa.

Seu corpo foi transferido para o Brasil em 1972 para marcar o 150º aniversário da independência. Desde então, encontra-se sepultado na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62636823


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